A praia da ursa localiza-se perto do Cabo da Roca em Sintra. Dada a proximidade é também a praia mais ocidental da Europa.
Foi considerada pelo Guia Michelin uma das praias mais bonitas do mundo.
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"Inimigos Públicos" filma John Dillinger como último representante de um tempo, prestes a acabar perante os indícios de uma nova era.
Michael Mann é um dos casos interessantes da cinefilia contemporânea. Por várias razões, esta por exemplo: está por provar cabalmente que o Mann de "Miami Vice" (um dos melhores filmes americanos desta década), o destes "Inimigos Públicos", e vá lá, o de "Colateral", seja o mesmo Mann do "Último dos Moicanos", de "Heat" ou de "Ali".
Fugiria demasiado ao assunto deste texto ilustrar melhor esta dúvida, mas resumiríamos assim: se Mann, ao longo da sua obra, pareceu sempre alguém interessado em elaborar a partir das formas e figuras tradicionais da narração cinematográfica clássica, um "cineasta da mise-en-scène" quase (quase) no sentido "Mac-mahoniano" do termo, nunca o fez de maneira tão entusiasmante nem tão bem sucedida como a partir do momento em que passou a utilizar as pequenas câmaras digitais que foram o instrumento de trabalho dos seus últimos três filmes. Este facto, por si mesmo, constitui uma "questão interessante" para a cinefilia contemporânea; mas há ainda outro aspecto que vale a pena notar: interessado nos modos da narração mais do que na coisa narrada, Mann é muito capaz de ser o último formalista (no sentido estrito e historicamente legitimado do termo, como é óbvio) do cinema americano. Não espanta que a sua obra-prima seja "Miami Vice", filme sem "tema", filme quase sem "história" - do que nos lembramos é da luz, dos tempos e dos movimentos, da relação entre os corpos dos actores e o cenário.
A luz, os tempos e os movimentos, a relação entre os corpos dos actores e o cenário: felizmente, apesar de ter mais "tema" e mais "história" (a saga de John Dillinger e a caça que o então incipiente FBI lhe moveu), "Inimigos Públicos" também nos deixa ver e pensar nessas coisas. Menos pictórico e ambiental do que "Miami Vice", mais consistentemente centrado numa narrativa, é verdade que sentimos a falta daqueles momentos do filme de Miami em que tudo se parecia suspender, tornar abstracto, não dependente de factos narrativos - mesmo que nalgum grau isso não deixe de acontecer em "Inimigos Públicos", por exemplo em muitas das cenas entre Dillinger (Depp) e a namorada (Marion Cotillard), embebidas por um desejo difuso (diríamos um "longing", passe o inglês) de existirem para lá da narrativa como facto. Por outro lado, é claro que o essencial da história está na impossibilidade de Dillinger fugir à sua narrativa, que obviamente é o que permite a Mann filmá-los (à personagem e à narrativa) com um sentido trágico quase elegíaco, bem distinto do tratamento de John Milius no seu "Dillinger" dos anos 70.
Ao mesmo tempo, "Inimigos Públicos" não deixa de ser um regresso à acção, com menos matizes e cambiantes do que "Miami Vice". É em muitas destas cenas que se torna extraordinário o trabalho de câmara, sempre em flutuação, como que acompanhando as cenas, testemunhando-as, impondo-lhes uma respiração e uma espécie de um desfasamento (razão pela qual frequentemente parece haver um ralenti que de facto não existe) particularmente fascinantes. Como se a câmara, mobilíssima, encontrasse a sua própria coreografia, desenhasse os seus arcos entre os actores e o espaço, dentro da coreografia geral da cena. Liquidez e solidez: a câmara mergulha dentro desta imagem digital muito aquosa, mas fá-lo para dar conta da solidez da "mise-en-scène", para testemunhar a sua dureza e o seu rigor, para criar um ponto de vista sobre a sobre a "mise-en-scène" que nunca se confunde com ela, mas também nunca se torna numa distância "inorgânica". É raro, e é talvez o ponto onde Mann é mais "vanguardista".
Este tratamento moderno de uma personagem e de uma época (os anos 30) clássicas tem, curiosamente, alguns ecos dentro da própria narrativa. Dillinger é o tipo de ladrão romântico e "popular" (durante a Depressão assaltar bancos colhia alguma empatia junto do povo, "honni soit qui mal y pense"), arcaico e "analógico", totalmente impossível nos dias de hoje - onde as escolhas se limitam à criminalidade "abstracta" dos "hackers" ou dos Madoffs. "Inimigos Públicos" filma Dillinger como último representante de um tempo, prestes a acabar perante os indícios de uma nova era. É toda a intriga paralela com Edgar Hoover (Billy Crudup) e a constituição do FBI como instituição "moderna" - o princípio da aposta tecnológica, a criação de um sistema "big brother" capaz de esquadrinhar o espaço e tornar a vida quase impossível aos criminosos "físicos". Este progressivo acossamento é a história de Dillinger tal como o filme a conta, tornada símbolo da diferença entre dois mundos ou entre dois tempos. Não por acaso - ou por acaso histórico prenhe de conotações - tudo acaba numa sala de cinema. Os campos/contracampos entre Dillinger e Clark Gable (o filme que ele foi ver era "Manhattan Melodrama") têm esta ironia: estabelecem uma fronteira intransponível ("folk hero", Dillinger comportava-se como personagem de cinema mas nunca poderia ser tão intocável e inacessível como uma personagem de cinema) no mesmo passo em que lhe definem a aura e a lenda. A seguir pode vir o epílogo - Dillinger deixou-as, à aura e à lenda, no ecrã do cinema. Este filme, entre outros, é a prova disso.
Luis Miguel Oliveira
Pela nossa parte, não negamos a proficiência da tentativa, mas reclamamos o direito ao bocejo militante.
A saga de Harry Potter já vai longa e a energia inicial, incluindo a viragem para uma vertente mais negra e menos juvenil, parece ter-se esgotado: o actor Daniel Radcliffe (muito limitado no seu registo) perdeu o cariz ingénuo e esta sequela explora amores inconsequentes e o desenvolvimento hormonal de "teenagers" como os outros independentemente das suas características especiais de feiticeiros encartados.
Dito isto, resulta de toda justiça sublinhar o profissionalismo de uma realização segura e inteligente de David Yates, revelando uma compreensão da necessária visualidade expressionista, sobretudo na configuração dos "Death Eaters" e no seu ataque à casa da família Wheatley. As referências ao imaginário pictórico alemão, remetendo para Dürer, Grünewald, Böcklin ou Caspar David Friedrich, encaixam numa lógica de conferir à ficção uma sólida componente culturalista, que, se dispersa o olhar desprevenido do espectador comum, aspira a conquistar uma audiência mais adulta para as aventuras engendradas por J.K. Rowling. Resta saber se vale a pena tanto esforço.
Claro que as contrapartidas oferecidas, no âmbito de alargar horizontes icónicos, enfraquecem o consumo imediato do produto: a extrema extensão do filme (cerca de duas horas e meia), o cuidado posto na definição de personagens, o facto de se limitar a acção propriamente dita (um fã acrisolado da série poderá afirmar com propriedade que, basicamente, não se passa nada), tudo contribui para um certo cansaço, um excesso de pormenor a causar dificuldades acrescidas no que respeita, por exemplo, à condição de Alan Rickman, como super-vilão. Isto sem menosprezar os inevitáveis efeitos especiais de grande amplitude, nem a coerência mínima de objectivos. Para que serve, contudo, a sequência do jogo de "quiditsch"? E o ataque à ponte do Milénio? Mera decoração?
O argumento tenta condensar o livro, estruturando os múltiplos eventos segundo uma ordem plausível: Hogwarts deixou de funcionar como fortaleza indestrutível, um porto seguro de protecção para os aspirantes a feiticeiros; o inefável Dumbledore (Michael Gambon, a cumprir a sua rábula com a costumeira bonomia) morre, vítima das forças do Mal; Potter revela a sua paixão por Ginny e assume a sua qualidade de "ungido"; Draco Malfoy perde protagonismo e a Bellatrix de Helen Bonham-Carter (excelente, ainda que estereotipada) transporta consigo um desejável humor negro.
A questão essencial passa, no entanto, pelo lado descosido da narrativa, feita de estilhaços e de pirotecnias ocasionais. Em que medida contribui este sexto "episódio" para um real avanço da série? De que adianta, em termos globais, tão extenso "exercício de estilo"? Não se tratará, tão-só, de uma "brincadeira" intervalar, destinada a preparar o epílogo que, como já sabemos, desdobrará o livro final em dois filmes?
Entendamo-nos: as aventuras de Harry Potter possuem um público-alvo determinado que está aberto a todo e qualquer desvio, sem contestar a sua função. Mas e nós, os não iniciados, onde ficamos? Num limbo de indiferença perante algo que nos passa ao lado? Pela nossa parte, não negamos a proficiência da tentativa, mas reclamamos o direito ao bocejo militante. Recomendamos aos fãs (o que é de todo dispensável), mas permanecemos na expectativa de mais excitantes propostas, de mais cinema e menos "potterices".
Mário Jorge Torres
Cor rubi e auréola ligeiramente violeta, os aromas são frutados embora sem grande exuberância, acompanhados pelas especiarias, na boca revela um volume mediano, a fruta melhora mas não deixa de ser um vinho fácil de beber, sem grande complexidade mas com uma frescura agradável, o final é curto.
14 por OsVinhos