Wednesday, 16 March 2011

O discurso do rei

Um filme capaz e bem conseguido. Mas filme do ano parece-me demais.


Titulo original: The King's Speech
De: Tom Hooper
Com: Colin Firth, Geoffrey Rush , Helena Bonham Carter, Guy Pearce, Timothy Spall
Genero: Drama, Biografia
Classificacao: M/12

GB/EUA/Austrália, 2010, Cores, 118 min. (IMDB)

Desde os cinco anos que Bertie (Colin Firth), Duque de York e segundo filho do rei Jorge V de Inglaterra (Michael Gambon), sofre de gaguez, algo que sempre abalou a sua auto-estima. Depois do embaraçoso discurso de encerramento da Exposição do Império Britânico em Wembley, a 31 de Outubro de 1925, Bertie, pressionado por Isabel (Helena Bonham Carter), futura rainha-mãe e sua esposa, começa a consultar Lionel Logue (Geoffrey Rush), um terapeuta da fala pouco convencional. Em Janeiro de 1936, o rei Jorge V morre e é o seu irmão Eduardo quem ascende ao trono até, menos de um ano depois, abdicar por amor a uma americana divorciada em favor de Bertie. Hesitante perante o peso da responsabilidade e obcecado em ser monarca digno do reino, o novo rei apoia-se em Logue, que o ajuda a superar a gaguez... Realizado por Tom Hooper ("Maldito United"), "O Discurso do Rei" inspira-se na história verídica do rei Jorge VI e é o filme favorito na corrida aos Óscares, estando nomeado para 12 categorias, entre as quais melhor filme, melhor actor (Colin Firth), melhor actor secundário (Geoffrey Rush), melhor actriz secundária (Helena Bonham Carter), melhor realizador e melhor argumento original.in Publico

Critica:
Há que distinguir entre "clássico" e "conservador", palavras que podem ter significados em comum mas não são necessariamente sinónimas. "O Discurso do Rei" é um filme clássico no modo como se articula de acordo com regras narrativas e padrões estéticos tradicionais, sem ser forçosamente conservador (os ângulos forçados com que Tom Hooper filma as suas personagens, enquadradas nas geometrias sociais que balizam a Inglaterra dos anos 1930, servem ao mesmo tempo para subverter o classicismo e para sublinhar o estatuto de "inadaptados" destas criações).
"O Discurso do Rei", história verídica do modo como o Duque de York, futuro Jorge VI de Inglaterra (e pai da actual rainha Isabel II), venceu a sua gaguez, é tão clássico que está mais próximo do telefilme de prestígio da BBC - o que está longe de ser um insulto porque tomara muitos (tele)filmes serem como a ficção de época britânica (e Hooper é rapaz formado nessa escola). Só que vai um passo muito longo de um telefilme acima da média a um êxito de bilheteira que parte à cabeça do pelotão dos Óscares. E aí a coisa já fia mais fino. Colin Firth, Geoffrey Rush, Helena Bonham Carter, Derek Jacobi, Timothy Spall, Guy Pearce são actores notáveis - mas não fazem mais do que aquilo que sempre fizeram (Firth ia tão melhor o ano passado no "Homem Singular" de Tom Ford, que explorava melhor a sua reserva natural do que este papel de aristocrata inglês que ele faz com uma perna atrás das costas). A história é bem contada e bem apresentada - mas daí a considerá-la "um dos melhores filmes do ano" vai um passo que só um marketing particularmente afinado permite. É um filme bem feito mas anónimo, cuja popularidade junto dos votantes dos Óscares e dos espectadores anglo-americanos se encaixa na perfeição numa ideia conservadora do cinema partilhada por muita gente: uma boa história, bem contada, com bons actores. Nada contra. Mas isso não chega para distingui-lo com os encómios que tem recebido.

Jorge Mourinha

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