Tuesday, 11 August 2009

Harry Potter e o Príncipe Misterioso

Desilusão. Grande, arrastado, monótono em partes patético. Afinal o Principe Misterioso contribui em quê?? Gostei do ambiente sombrio ... e pouco mais.

Título original: Harry Potter and the Half-Blood Prince
De: David Yates
Com: Daniel Radcliffe, Emma Watson, Rupert Grint
Género: Aventura, Thriller
Classificação: M/12

EUA/GB, 2009, Cor, 148 min. (IMDB)

Voldemort está de volta e com ele os Devoradores da Morte. O terror espalha-se pelo mundo mágico e também pelo dos muggles (seres não mágicos), que assistem a tragédias, assassinatos e desaparecimentos misteriosos.
Mas, antes de levar a cabo o golpe final, Voldemort tem uma importante missão para o rival de Potter, Draco Malfoy - a tentar ajudá-lo estará Severus Snape, agora professor de Defesa Contras as Artes Negras, que se revela afinal um espião do Senhor do Mal em Hogwarts.
Harry sabe que algo de mal se passa com Malfoy e tenta avisar Dumbledore. Mas este está mais preocupado em preparar o jovem para a derradeira batalha e, para isso, decide iniciar uma série de aulas individuais. Juntos, irão mergulhar no passado de Voldemort através das memórias do professor e de outras.
Com uma série de trabalhos, matérias para estudar e ainda as aulas com Dumbledore, Harry vai encontrar uma ajuda preciosa num antigo livro de Poções, que terá sido pertença de um aluno que se auto-intitulava de "Príncipe".
Mas nada se revelará fácil este ano: Harry é ainda capitão da equipa de Quidditch e dá por si embeiçado pela irmã de Ron, o seu melhor amigo...in PUBLICO

Crítica:
Pela nossa parte, não negamos a proficiência da tentativa, mas reclamamos o direito ao bocejo militante.

A saga de Harry Potter já vai longa e a energia inicial, incluindo a viragem para uma vertente mais negra e menos juvenil, parece ter-se esgotado: o actor Daniel Radcliffe (muito limitado no seu registo) perdeu o cariz ingénuo e esta sequela explora amores inconsequentes e o desenvolvimento hormonal de "teenagers" como os outros independentemente das suas características especiais de feiticeiros encartados.




Dito isto, resulta de toda justiça sublinhar o profissionalismo de uma realização segura e inteligente de David Yates, revelando uma compreensão da necessária visualidade expressionista, sobretudo na configuração dos "Death Eaters" e no seu ataque à casa da família Wheatley. As referências ao imaginário pictórico alemão, remetendo para Dürer, Grünewald, Böcklin ou Caspar David Friedrich, encaixam numa lógica de conferir à ficção uma sólida componente culturalista, que, se dispersa o olhar desprevenido do espectador comum, aspira a conquistar uma audiência mais adulta para as aventuras engendradas por J.K. Rowling. Resta saber se vale a pena tanto esforço.

Claro que as contrapartidas oferecidas, no âmbito de alargar horizontes icónicos, enfraquecem o consumo imediato do produto: a extrema extensão do filme (cerca de duas horas e meia), o cuidado posto na definição de personagens, o facto de se limitar a acção propriamente dita (um fã acrisolado da série poderá afirmar com propriedade que, basicamente, não se passa nada), tudo contribui para um certo cansaço, um excesso de pormenor a causar dificuldades acrescidas no que respeita, por exemplo, à condição de Alan Rickman, como super-vilão. Isto sem menosprezar os inevitáveis efeitos especiais de grande amplitude, nem a coerência mínima de objectivos. Para que serve, contudo, a sequência do jogo de "quiditsch"? E o ataque à ponte do Milénio? Mera decoração?

O argumento tenta condensar o livro, estruturando os múltiplos eventos segundo uma ordem plausível: Hogwarts deixou de funcionar como fortaleza indestrutível, um porto seguro de protecção para os aspirantes a feiticeiros; o inefável Dumbledore (Michael Gambon, a cumprir a sua rábula com a costumeira bonomia) morre, vítima das forças do Mal; Potter revela a sua paixão por Ginny e assume a sua qualidade de "ungido"; Draco Malfoy perde protagonismo e a Bellatrix de Helen Bonham-Carter (excelente, ainda que estereotipada) transporta consigo um desejável humor negro.

A questão essencial passa, no entanto, pelo lado descosido da narrativa, feita de estilhaços e de pirotecnias ocasionais. Em que medida contribui este sexto "episódio" para um real avanço da série? De que adianta, em termos globais, tão extenso "exercício de estilo"? Não se tratará, tão-só, de uma "brincadeira" intervalar, destinada a preparar o epílogo que, como já sabemos, desdobrará o livro final em dois filmes?

Entendamo-nos: as aventuras de Harry Potter possuem um público-alvo determinado que está aberto a todo e qualquer desvio, sem contestar a sua função. Mas e nós, os não iniciados, onde ficamos? Num limbo de indiferença perante algo que nos passa ao lado? Pela nossa parte, não negamos a proficiência da tentativa, mas reclamamos o direito ao bocejo militante. Recomendamos aos fãs (o que é de todo dispensável), mas permanecemos na expectativa de mais excitantes propostas, de mais cinema e menos "potterices".

Mário Jorge Torres

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