Titulo original: The Girl with the Dragon Tattoo
De: David Fincher
Com: Daniel Craig, Rooney Mara, Christopher Plummer, Stellan Skarsgård
Genero: Drama, Thriller
Classificacao: M/16
GB/ALE/EUA/SUE, 2011, Cores, 158 min. (IMDB)
Mikael Blomqvist (Daniel Craig), jornalista e fundador da revista "Millenium", dedica a sua vida a revelar o crime e a corrupção que minam a sociedade sueca. Como resultado, tem vários inimigos e é tido como culpado num caso de difamação. Um dia é procurado por Henrik Vanger (Christopher Plummer), empresário de renome obcecado em compreender as razões que levaram ao desaparecimento, há mais de 40 anos, da sua sobrinha. Vanger acredita que alguém da família poderá estar relacionado com o desaparecimento de Harriet, cujo corpo nunca foi encontrado. O empresário faz então uma proposta irrecusável ao jornalista: dá-lhe acesso total à sua vida, documentação pessoal e dados familiares em troca da solução para o caso. Com a ajuda de Lisbeth Salander (Rooney Mara), uma "hacker" profissional com um passado misterioso, Mikael vai encontrar a história da sua vida. Um "thriller" de David Fincher ("Clube de Combate", "Sete Pecados Mortais", "O Estranho Caso de Benjamin Button", "A Rede Social"). Depois do enorme sucesso do filme de Niels Arden Oplev em 2009, é a adaptação americana do primeiro tomo da trilogia "Millennium" de Stieg Larsson, obra que já vendeu 65 milhões de cópias em 46 paísesin Publico
Critica:
David Fincher adapta o primeiro dos três romances de Stieg Larsson: é mais cinema que a versão sueca, mas falta-lhe Noomi Rapace Havia, genuinamente, necessidade de voltar a adaptar ao cinema os romances da trilogia “Millennium” de Stieg Larsson, dois anos apenas após a produção de uma versão escandinava (feita originalmente a pensar na televisão, é verdade, mas estreada em sala)? Digamos que, para lá da tradicional fuçanguice autista dos estúdios americanos e da sua alergia a tudo o que seja falado noutras línguas que não o inglês, havia espaço para se fazer melhor. Os três filmes suecos não passavam de peças funcionais à medida de uma “soirée” televisiva meio distraída, com um ponto grande a favor na presença de Noomi Rapace, que encarnava a heroína gótico-psicótica Lisbeth Salander como se nunca tivesse feito outra coisa na vida. E faz todo o sentido que seja David Fincher a assumir as rédeas desta “remake”, ou não fossem Lisbeth e o jornalista Mikael Blomqvist, heróis falíveis e fortes, obsessivos e trágicos, à medida das personagens principais da sua filmografia. Não deve, igualmente, ser mera coincidência que os crimes desvendados pela “hacker” asocial e pelo jornalista desacreditado enquanto investigam o passado de uma rica família industrial sueca transportem longínquos ecos de dois dos filmes-chave do realizador americano: “Sete Pecados Mortais” e “Zodiac”. Nas mãos de Fincher e do argumentista Steven Zaillian, assim, o primeiro dos três romances de Larsson ganha uma fluidez e uma inquietação envolventes, confirmando o cineasta americano como mestre do enquadramento atmosférico. O que “Os Homens que Odeiam as Mulheres” tem que o original de Niels Arden Oplev não tinha é a sensação de pântano traiçoeiro de uma sociedade que esconde uma tonelada de esqueletos no armário por trás da sua aparência de funcionalismo-IKEA. É um filme mais duro, mais impiedoso, que lança igualmente um olhar perturbante sobre uma sociedade da informação onde os segredos o são cada vez menos ou por um menor espaço de tempo. Mas perde-se onde, ironicamente, mais importava ganhar - na Lisbeth de Rooney Mara, mais autista e menos humana que a de Noomi Rapace. É uma criação de uma nota só, que nunca penetra realmente até ao núcleo da personagem, tanto mais quanto Daniel Craig é uma excelente opção para a personagem de Blomqvist e o restante elenco consegue fazer milagres com apenas duas ou três cenas (Steven Berkoff e Joely Richardson são extraordinários). O resultado desvia o centro de gravidade de Lisbeth para Blomqvist, com Fincher a subalternizar o mistério policial no centro da trama, reduzindo-o a um simples pretexto para um exercício de estilo virtuoso na construção de uma atmosfera inquietante de corrupção profunda, à medida de um realizador perfeccionista. É um filme eficaz e intrigante, cerebral q. b., mas ao qual falta aquele “rasgo” que o elevasse acima do mero funcionalismo de luxo.
Jorge Mourinha