Friday 9 March 2012

O Medo do Homem Sábio (Parte I)

De Patrick Rothfuss
1001 Mundos 2011

Gostei bastante... Uma construção de ambiente de detalhe magistral, mal posso esperar pela segunda parte e pelo 'Nome do Vento'.

Agora em O Medo do Homem Sábio, Dia Dois das Crónicas do Regicida, uma rivalidade crescente com um membro da nobreza força Kvothe a deixar a Universidade e a procurar a fortuna longe. À deriva, sem um tostão e sozinho, viaja par Vintas, onde, rapidamente, se vê enredado nas intrigas políticas da corte. Enquanto tenta cair nas boas graças de um poderoso Nobre, Kvothe descobre uma tentativa de assassínio, entra em confronto com um Arcanista rival e lidera um grupo de mercenários, nas terras selvagens, para tentar descobrir quem ou o quê está a eliminar os viajantes na estrada do Rei. Ao mesmo tempo, Kvothe procura respostas, na tentativa de descobrir a verdade sobre os misteriosos Amyr, os Chandrian e a morte da sua família. Ao longo do caminho Kvothe é levado a julgamento pelos lendários mercenários Adem, é forçado a defender a honra dos Edema Ruh e viaja até ao reino de Fae. Lá encontra Felurian, a mulher fae a que nenhum homem consegue resistir, e a quem nenhum homem sobreviveu… até aparecer Kvothe. Em O Medo do Homem Sábio, Kvothe dá os primeiros passos no caminho do herói e aprende o quão difícil a vida pode ser quando um homem se torna uma lenda viva.

Extractos:
Chamo-me Kvothe. Resgatei princesas dos túmulos de reis adormecidos, incendiei Trebon. Passei a noite com Felurian e parti com a sanidade e com a vida. Fui expulso da Universidade na idade em que a maioria dos alunos é admitida. Percorri caminhos ao luar que outros receiam nomear durante o dia. Conversei com deuses, amei mulheres e compus canções que fazem chorar os trovadores. É possível que me conheçam.
Crítica:
Começa o segundo dia e Kvothe continua a narrar ao Cronista a sua história. A história do seu percurso pela Universidade, com todas as atribulações resultantes da rivalidade com Ambrose (e, em certa medida, do seu próprio orgulho), com a evolução da sua aprendizagem, com as suas pequenas aventuras... e com as grandes mudanças condicionadas pelos acontecimentos do passado. De Imre a Vintas, em busca de um futuro que lhe permita investigar as raízes do passado que lhe marcou a existência, esta é a história de um crescimento que continua, de um mundo que muda e que muda a perspectiva de um dos seus mais interessantes habitantes. Uma história com muitas histórias para contar... Estabelece-se, nesta segunda narrativa da história de Kvothe, um ritmo bastante mais pausado que o do livro anterior. Não abundam os grandes acontecimentos nesta primeira parte e é, em grande medida, esta a razão para o abrandamento no ritmo da narrativa. Apesar disso, não se perde qualquer envolvência. Até a mais simples (ou aparentemente simples) situação em que Kvothe se vê envolvido proporciona momentos de interesse, seja no lado emocional, seja na construção da intrigante personagem que é o protagonista deste livro. Não tendo grandes pontos em comum com a versão idealizada do herói, Kvothe é, ainda assim, uma figura com quem é fácil criar empatia e as suas vulnerabilidades, quando surgem, ganham mais evidência pela personalidade orgulhosa que o define. Trata-se da figura central deste livro, é certo, mas há mais para descobrir para além de Kvothe. Com a sua algo delicada situação na Universidade, é possível ver mais sobre o funcionamento do sistema em que esta se enquadra. E, com a mudança para Vintas, tudo muda, apresentando-se um cenário diferente, onde um sistema de protocolo invulgar e uma série de intrigas vêm aumentar as potencialidades desta história. Mas também das personagens que interagem com o protagonista se define algo de muito importante nesta história, já que as ligações e afectos que se criam entre personagens são uma importante parte deste livro. As amizades, a saudade dos que partiram, a lealdade para com amigos (e, por vezes, para com superiores) e aquele toque de amor desesperado definem, tanto quanto o próprio passado, a empatia evocada para com Kvothe. Ainda de referir um toque curioso que se torna mais evidente com o evoluir da narrativa: a forma como, sendo Kvothe o narrador de (quase) toda a história, lhe compete decidir o que desenvolver e o que abordar de forma superficial. Isto é recordado ao leitor quando momentos que parecem ser os grandes pontos da sua história (segundo as lendas que despertaram o interesse do Cronista) acabam por ser apresentados com uma perspectiva completamente diferente. Eram as melhores as expectativas para este livro, e é certo que não desiludiu. Cativante, com um mundo com vários pontos de interesse e boas personagens, das quais se destaca um protagonista carismático e invulgar, este é um livro que recomendo sem reservas.

As Leituras do Corvo

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