Saturday 5 July 2008

Salinas de Rio Maior

As salinas naturais de Rio Maior, situadas a 3 km da sede de concelho constituem um dos principais referenciais da localidade e são um orgulho para Rio Maior, por serem as únicas do género em Portugal ainda em exploração. Estas salinas estão consideradas como Imóvel de Interesse Público, no contexto do património cultural português. É assim que, do antiquíssimo poço das Marinhas do Sal, brota água salgada que abastece os 400 talhos, ou compartimentos, e os 70 esgoteiros, que ocupam 21 865 m2.
A água desta nascente é sete vezes mais salgada que a água do mar, e era retirada com a ajuda de duas enormes Picotas ou "Cegonhas" há bem pouco tempo. Estes engenhos são um legado árabe com certeza, pois foram estes que os introduziram na Europa. Aliás, é de crer que os romanos, e depois os árabes, tenham explorado em grande escala estas salinas.
Há referências às salinas de Rio Maior desde 1177, em documentos escritos que são aliás os mais antigos sobre Rio Maior. Sabe-se também que D. Afonso V era proprietário de cinco talhos nas salinas de Rio Maior no século XV, e que recebia um quarto de toda a produção, tendo o monopólio da sua venda. A importância económica das salinas para a região, está bem vincada nas duas pirâmides de sal retratadas no Brasão da cidade de Rio Maior.
Estas salinas são únicas no país e são fruto de uma maravilha da natureza. A água salgada provém de uma extensa e profunda mina de sal-gema, que é atravessada por uma corrente subterrânea de água doce, que se torna depois salgada. Trata-se de sal puro (97,94% de cloreto de sódio), que é recolhido nos talhos pelos marinheiros (designação dada aos salineiros). O poço tem 9 metros de profundidade e 3,75 de diâmetro e a distribuição da água pelos talhos obedece a regras consuetudinárias de origem ancestral.



A dois kilómetros ao N. da villa, em um extenso valle, proximo do logar da Fonte da Bica, está esta importantíssima e justamente famosa marinha, única no seu género na Península Hispânica; pena é que não seja mais bem explorada.
No meio do terreno occupado pela marinha, está uma nascente inexgotável, da qual nos mezes do estio se tira água, por meio de dois baldes (!) de noite e de dia, e é conduzida, por ordem, a cada um dos depósitos, ou compartimentos, feitos no solo, com um metro de profundidade, e a que chamam talhos. Pertencem estes a diversos donos, e valem (segundo a distancia a que se acham da nascente) termo médio, cada talho 80$000 réis.
O sal aqui produzido, é superior em qualidade, e mais forte do que o sal marinho, ou commum.
Já vimos que em 1177, era explorada esta marinha, e que já o havia sido em maior escala, em tempos muito anteriores.
Segundo a tradição, a marinha não era no sítio actual, mas uns 60 a 70 metros mais ao N., e a nascente tão pouco abundante que apenas dava para 6 talhos, e que fazer a 3 ou 4 homens; não chegando o sal que ella produzia, nem para o consumo das povoações circumvisinhas.
Uma pequena que andava na planície (hoje local da marinha) apascentando uns jumentos, sabia que junto a uns juncos havia uma nascente de água, e como tivesse sede foi alli beber, mas notou que era excessivamente salgada.
Regressando a casa, deu parte d'esta circumstancia ao pae, que, junto com outros visinhos, se foram ao juncal, e alli abriram um poço, e quanto mais o profundavam, maior quantidade de clorurêto de sodium era expedida: mas a antiga nascente secou.
Estes exploradores, trataram logo de fazer talhos, e a colher optimo sal, em bôa quantidade.
Foi-se desenvolvendo esta indústria, e hoje ha, nada menos de 400 talhos, valendo cada um dos mais próximos da nascente 144$000 réis, e os mais remotos 14$400 réis.
O poço actual (d'onde brota a água) tem 11 metros de profundidade, e 8 de circumferencia.
O sal, como o extrahido da água do mar, forma-se por evaporação, e, quando o calor é mais intenso, está o sal prompto em quatro dias.
Dá-se ao producto d'estas marinhas, o nome de sal espuma. É mui claro, secco, e brilhante de tal maneira, que d'elle se formam bellissimas pyramides e varias outras figuras, como do assucar refinado de lasca, ou de pedra.
Excede tanto em qualidade o sal commum (marinho) que, para salgar carnes, basta metade da porção do extrahido da agua do mar.
É summamente saturado de muriato de soda, purissimo, e sem mistura de muriatos calcareos e magnesianos, que se encontram nos outros saes communs, e que os tornam amargos e deliquescentes.
Saindo do logar d'esta marinha, está uma vasta planície, cuja parte mais considerável pertenceu aos monges bernardos de Alcobaça, e o resto a particulares. Aqui, no sítio chamado Marinha Velha (onde primeiramente se colheu sal) ainda nos estios se formam a periferia bellissimos crystaes de muriato de soda.
N'este sítio, sobremaneira infértil, apparece com vigorosa vegetação, a Salsola-Kali, de Linneu, e algumas das outras plantas proprias das visinhanças do mar, e das cinzas das quaes se faz a sóda ou barrilha.

LEAL, Pinho, Portugal antigo e moderno, 1878


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