Críticas: | Ambiente cool. Bons petiscos. Conceito de partilha. Bom vinho a copo. Gostei. Nosso menu:Tiborna de queijo e mel, Tiborna de tomate, Presunto com figos, Ovos com farinheira, Mousse chocolate.,
Entrar na Taberna Ideal, em Santos, é como ir almoçar a casa da avó: a comida é melhor do que o moderno gourmet e o espaço totalmente revivalista A escriba estava reticente em partilhar a mais recente descoberta gastronómica da cidade de Lisboa que de tão aprazível, apetecia deixar em segredo. Mas enfim, depois de muita ponderação lá venceu o bem comum e por isso aqui vai sem mais rodeios: a Taberna Ideal é um verdadeiro fricassé de emoções capaz de resgatar até os comensais mais sorumbáticos da apatia. Pronto, está feito. Resta-nos arcar com as mais que prováveis consequências da ética que nos move e correr o risco de não ter lugar (são só 26), já que não é difícil reconhecer uma coisa boa quando fumega à nossa frente.
E aqui fumegam petiscos como ovos mexidos com alheira, tiborna de queijo cabra com mel e alecrim, endívias gratinadas com queijo e redução de ginginha ou empadão de codorniz com alheira e tâmaras. Basicamente coisas boas de antigamente actualizadas na medida certa, tanto na confecção como na apresentação. Quais serão exactamente é que já é mais incerto, porque a ementa é tão caprichosa como o destino. O que está afixado nos quadros de ardósia preta que forram uma das paredes depende sempre das coisas boas que as proprietárias Susana Felicidade e Tânia Pereira desencantaram nos mercados. De terça a quinta e aos domingos há também dois pratos do dia. Coisas como bacalhau à Brás; rojões com arroz e batata frita caseira; bolinhas de carne com queijo mole acompanhado de massa fresca; ovos escalfados com ervilhas ou açorda de bacalhau. Tudo feito com desvelo, sem o peso da rotina e da obrigação. Apeteceu fazer, fez-se. Um mimo.
Esta filosofia (ou ausência dela) faz sentido aqui, porque não estamos num restaurante comum. Não é que as proprietárias sejam anarcas, nem se trata de um espaço moderno a repescar ementas da taberna antiga e com umas ideias modernaças de abolir o menu. A ideia foi, nas palavras de Tânia e Susana, pegar no melhor que as tabernas tinham - a comida, a informalidade e o convívio – e torná-lo perfeito nos dias de hoje, ou seja, mais confortável. Basicamente, é como ir almoçar a casa da tia Emília ou da avó Alzira que cozinham lindamente, mas neste caso os dotes de culinária são exercidos por Susana Felicidade, que trocou os códigos civis pelas panelas e a toga pelo avental, tudo para nosso benefício.
Retro, quase kitsch e muito saboroso Na verdade é o espaço que chama a atenção mal se passa a porta da entrada. Se não o mencionámos à partida foi apenas porque estávamos com fome, mas agora que já aplacámos o estômago podemos olhar em volta com mais discernimento. É a combinação perfeita entre a taberna e a sala da avó. Não falta nada, nem os móveis de antiquário, nem o balcão à antiga, nem as mesas de mármore, nem as jarras com flores, nem a loiça nas paredes, nem sequer as andorinhas coladas no vidro da janela. A um passo do kitsch e completamente revivalista. É óbvio que alguém andou a passear na Feira da Ladra e o resultado não podia ser mais divertido.
O levantamento histórico foi ao ponto de se irem desencantar preciosidades como a gasosa Trevo (que continua óptima) e nem falta um refresco nostálgico criado para a ocasião com Trevo e Capilé, o Capilei. Depois há os pormenores cómicos conseguidos com a reutilização ecológica dos objectos, como o facto de o pão vir em escorredouros da massa e o frappé ser uma panela ou um fervedouro do leite. Não vão faltar motivos de conversa. Se há um detalhe pouco taberneiro (no bom sentido) são os vinhos, tudo porque Tânia Pereira trabalhou vários anos na área de marketing e gestão de vinhos e é expert na matéria. Ao lado dos copos de três estão os copos xpto com uma liga especial que permite ver a verdadeira cor do vinho e que são aferidos para não se encher acima da curvatura máxima do copo. Mas não se pense que isto equivale a preços altos. Os preços do vinho a copo correspondem exactamente à divisão da garrafa. Sem inflacionamentos. Assim, um D. Ermelinda branco ou tinto, por exemplo, ronda os dois euros. Aliás os preços são outro factor a fazer desta uma taberna ideal, das entradas (não deixe de provar os tremoços com tempero de salsa, vinagre e alho a 1 euro a dose), até aos petiscos em doses partilháveis, que rondam os cinco euros, passando pelas saladas gigantes, como a de abacate, ovo estrelado, bacon, tomate, queijo e batata frita, a 6,90. Os pratos normais rondam os dez euros mas se optar pelos do dia o preço desce para metade. Nesta noite calhou-nos em sorte um fantástico empadão de codorniz com alheira e tâmaras. Não garantimos que volte a haver. Mas pode sempre fazer como os clientes que já são habituais e dizer: «Liguem-me quando houver o pudim abade de priscos».
por Lifecooler |
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