Friday, 20 August 2010

Tasca da Esquina

Excelente

Autor . Petiscos Gourmet . Cool place
Morada:Rua Domingos Sequeira 41 - C
1350-403 - Lisboa
Tel:210993939 Reserva:Aconselhável Encerra:Segundas
Web:http://www.tascadaesquina.com/
Preços:€€€ (25 a 35€)
Cozinha digna de nota
Garrafeira digna de nota
Zona de fumadores

A Tasca da Esquina situa-se em Campo de Ourique e é o novo restaurante de Vítor Sobral. Um espaço agradável, bem iluminado e com confortáveis cadeiras forradas. Uma cozinha de qualidade onde se destacam os petiscos, com preço que variam entre os 4 e os 9 euros. Salientam-se as moelas fritas com maçã, codornizes com cerejas, fígado de aves com pêra e o requeijão com pimentos e poejos.
Petiscos
Mapa:
Críticas:
Lugar cool onde se pode petiscar servido por um dos melhores chefes do momento. Pratos muito bem confeccionados, se bem que reduzia a dose de flor de sal nos cogumelos. Para mim o abade de priscos foi uma revelação. O vinho a copo é diversificado e de qualidade, óptimo para quem não possa beber muito. Gostei do conceito nas "mãos do chefe" que torna a refeição numa surpresa. Serviço eficiente e atencioso. No fim nem sequer exige muito da carteira, considerando a qualidade oferecida. Um dos melhores da cidade.
Nosso menu:Sopa fria de tomate,
Salada de coelho e creme de feijão branco,
Ameijoas ao natural,
Cogumelos grelhados,
Tosta de porco preto,
Filete de lirio com arroz de coentros,
Leite-creme,
Abade de priscos com creme de coco, abacaxi e hortelã,
Reserva do chefe,

Acampemos em Campo de Ourique, no que não é propriamente um largo mas local de início, interrupção e fim de algumas ruas, tais a Ferreira Borges (começa aqui), a Saraiva de Carvalho (vem, pára e segue), a Domingos Sequeira e a do Patrocínio (terminam ambas). A tenda está estabelecida na Rua Domingos Sequeira, nº 41-C, a bem dizer na esquina com a patrocinada, no sítio onde em tempos existiu um restaurante chamado O Correio.

O de agora foi baptizado como Tasca da Esquina, inaugurado em 16 de Junho passado e é o novo ai-jesus de Vítor Sobral. O conhecido e justamente celebrado chefe de cozinha, na plenitude da sua carreira (n. 1967), por via do Terreiro do Paço fechado e porque la crise oblige, voltou-se para um tipo de restauração normalmente designado na língua imperial mas que não custa nada traduzir para de baixo custo. Abaixamento que, com Vítor Sobral, nunca poderá corresponder a diminuição de qualidade e inventiva. Quanto a instalações, na salinha da entrada, com seu balcão e abertura para a cozinha, cabem 14 petisqueiros em mesas com bancos altos. A outra proporciona assento a 28, beneficiados pela luz que atravessa as paredes de vidro, em mesinhas um tanto exíguas que, excepto no chemin de papel, não dispensam utensilagem cuidada e óbvio guardanapo de pano.

A lista abre com a secção Degustações - Fique nas Mãos do Chefe, assim organizadas: sopa e 3 porções (€ 14,50); 5 porções (€ 19,50); 6 porções + sobremesa (€ 26,50); 7 porções + queijo ou sobremesa (€ 32,50). Depois é um rol de 22 Petiscos. A seguir, Há La Carta com 3 pratos de Peixe e 4 tipos de bifes. Antes do final doceiro, Queijos, Enchidos e Fumados com 13 itens.

Brevíssimas notas de prova. Da modalidade das 5 porções, a primeira foi uma "sopa de cebola", com duas rodelas de linguiça e cebolinho, fria, agradável.

Segunda porção, "amêijoas", belos exemplares do estuário do Sado, de valva escura, cristianíssimas, numa espécie de à Bulhão Pato. Terceira, "bacalhau com molho de línguas do mesmo", lascas pequenas molhadas numa emulsão, o arenoso das farofas acompanhantes a sugestionar broa. Na quarta porção, a demonstração de como com carolino, cabeça de garoupa e arte se faz um "arroz de peixe" perfeito.

A última, "escondidinho", carne de vaca desfiada com puré de batata e mandioca, está a fazer a diferença.

Aos petiscos. Muito bem as "lulas salteadas com cogumelos" (€6,20), em molho adequado. "Berbigão no tacho" (€ 8) a devolver-nos toda a categoria deste molusco tantas vezes olhado de esguelha. "Moelas fritas com puré de maçã" (€ 4,50) muito tenras e valorizadas pela companhia invulgar. Aprovadíssima a "farinheira com favas" (€ 4,40), enchido qualificado e as favinhas descamisadas, tomate e coentros picados.

Palmas pela ressurreição da matéria-prima no caso dos "rabinhos de porco de coentrada" (€ 3,20), com um toque acertivo de vinagre. Raros também os "túbaros com pimentão" (€ 3,50), testículos de porco transformados em iguaria asseada. O "atum de conserva caseira" (€ 4,30), cortado à maneira de rojões médios, em molho de azeite, vinagre, alho, louro e tomilho, mostrou alguma secura interior. Em grande cebolada e molho profundo, mesmo os não apreciadores tiveram de se render a estes "fígados de aves de escabeche com pêra" (€ 4,30). Exemplares graúdos e abundantemente assessorados por molho saboroso e nada aliáceo, na "alhada de camarão" (€ 7). As "línguas de bacalhau ao alho" (€ 11,50) apareceram justamente estimadas nesta preparação, com um molho a que só faltava ovo para ser fricassé. Da secção Há La Carta extraiu-se o "bacalhau de forno" (€ 15), esplêndido em todos os aspectos e conteúdos.

Da respectiva alínea, o queijo de São Jorge (€ 3) e o queijo de Castelo Branco (€ 9) revelaram genuinidade e grande categoria.

Doces propriamente ditos são 4.

Carta de vinhos pouco extensa, todavia de boas escolhas, sempre com a modalidade a copo, a preços sensatos.

Serviço diligente e amável.

A competência, o talento e a criatividade de Vítor Sobral, bem temperados pelo seu bom senso e raízes alentejanas, também aqui estão patentes. Aproveitemos - sem esquecer os seus adjuntos Hugo Nascimento e Luís Espadana -, ao menos enquanto as suas naturais irrequietude e ambição o não catapultarem para outros voos

por Escape
Tasca da Esquina (5/5)

Só sei que gosto realmente de alguém quando passo a gostar do que não gostava. Tive uma mulher que foi coentros. Outra foi sandálias. O Vítor Sobral foi Campo de Ourique. Ali, entre a Domingos Sequeira e a Saraiva de Carvalho, está a Tasca da Esquina, que me reconcilia, a cada almoço, a cada jantar, com um bairro com que sempre embirrei.
Tenho dois problemas graves com o Vítor Sobral. Um é que nunca sei se Victor é Victor com c e sem acento, ou se é Vítor sem c e com acento. O outro é que não consigo deixar de achar que o seu último restaurante é sempre melhor do que os outros. E, já que penso nisso, o segundo problema são dois problemas (e por isso tenho ao todo não dois mas três problemas) – é que esse restaurante é melhor do que os outros-dele, mas também do que os outros-dos-outros.
É como com a Carla Bruni (e foi a maneira de usar como e Carla Bruni apenas a quatro caracteres de distância, sem espaços, porque caracteres com espaços eram mais) com quem também tenho dois problemas. Com a Carla Bruni também nunca sei se é Bruni com um n ou Brunni com dois ns. O outro problema com a Carla Bruni é não saber se gosto mais de a ver se de a ouvir. Quando a vejo é claro que é de ver que eu mais gosto; quando a ouço é claro que é de a ouvir, aquela voz arrastada direita à hipófise, que canta só para nós...
A Tasca da Esquina são duas salas, uma de entrada com mesas altas, um balcão à esquerda e uma cozinha à vista. A outra é uma marquise, ou coisa que deve ter um nome arquitectonicamente mais sexy (mas para termos de arquitectura, há praí críticos gastronómicos que são verdadeiros Corbusiers). Marquise no bom sentido, uma sala de tecto mais baixo, percorrida com janelas, em que se pode comer agradavelmente. E isto é que surpreende à partida nos restaurantes de Vítor Sobral, é que são sempre agradáveis de lá se comer. Mesmo no Terreiro do Paço, meio desengonçado, meio escuro, com aquela escada a meio, queloide de transplante de coração, era agradável lá estar.
Se chove, estamos ali como num escafandro, se faz sol, como num carro com ar condicionado, a ver o mundo lá fora e a organizar o mundo cá de dentro a cada garfada de um camarão com alho, excelente, em dose de tamanho certo. Enchidos bem escolhidos, requeijão macio. Berbigão fresco, com líquido por dentro, sem ser preciso estar numa esplanada de praia. Bolo de chocolate fofo, sem farinha, sem encher, mas sem ser de ar, e um pudim abade de priscos, rico, homogéneo. Na Tasca da Esquina há três hipóteses (uma carta com pratos mais substanciais e clássicos do Chef – a raia é sempre uma boa hipótese), um menu de petiscos (em várias incursões, só tive um percalço com uns rabinhos de porco demasiado duros – devem ser a desfazer-se, para chupar), ou, então, deixar-se nas mãos do chefe e da cozinha, que eles tratam de si, escolhendo quanto se quer gastar, 15, 20, 25, ou 33 euros. O que varia é apenas a quantidade de comida, sempre a uma qualidade excelente.
Como é o último, a Tasca da Esquina é o melhor restaurante de Vítor Sobral e dos melhores de Lisboa. Ali é que ele começa a ser quem é. Vítor Sobral é um chef de gaveto, porque Portugal é cozinha de esquina. Já escrevi que vejo Vítor Sobral, o grande chef, numa cozinha de aldeia, fumegante, com cinco ou seis quartos para dormir, lareira enorme. A Tasca da Esquina pode bem ser a sua última paragem em Lisboa, rumo à paisagem. É aproveitar.

por Contraprova
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