Thursday 22 November 2007

Beowulf

Admito que o argumento podia estar melhor, que bastantes movimentos estão mecânicos e perdem fluidez, no entanto, gostei. Os pormenores técnicos em alguns pontos são de cortar a respiração e fiquei com curiosidade de ver a versão 3D. Não é nenhuma obra prima e talvez ganhasse em ter os actores realmente sobre o mundo digital. Para o que é, entretém. Recomendado para quem tenha interesse pela tecnologia e por fantasia sem limites ... todos os outros, esqueçam.

Título original: Beowulf
De: Robert Zemeckis
Com: Angelina Jolie (Voz), Anthony Hopkins (Voz), John Malkovich (Voz)
Género: Ani, Fantasia
Classificacao: M/12

EUA, 2007, Cores.

Numa época em que a Terra vive coberta pelas trevas, Beowulf, um poderoso e corajoso guerreiro, destrói o indomável demónio Grendel, despertando dessa forma a fúria imortal da sedutora mãe da besta. A batalha épica que se segue imortalizará o nome de Beowulf. Realizado por Robert Zemeckis, "Beowulf" é uma adaptação do mais antigo e conhecido poema épico escrito em língua inglesa, que foi uma inspiração capital para a obra de J.R.R. Tolkien.
"Beowulf" será exibido numa versão 3D em alguns cinemas. In PUBLICO

Crítica:

Sangue, baba, espadas, fogo, dentes, mobília, vale tudo menos tirar olhos para atirar à "cara" do espectador devidamente munido da nova geração de óculos polarizados para criar cinema em 3-D sem as dores de cabeça dos bons velhos tempos.

"Beowulf" chega primeiro às salas portuguesas na sua versão em 3-D digital antes de (na próxima semana) estrear na versão normal. O problema é que o efeito inegavelmente espectacular do relevo tridimensional não consegue esconder que, por mais estrelas que esta releitura da gesta nórdica que muitos consideram fundadora da literatura inglesa convoque para dar voz às suas personagens míticas, "Beowulf" é uma manta de retalhos esquizofrénica que ora quer ser levado a sério como épico moral ora se contenta com a sofisticação digital dos seus visuais pensados para parque de diversões.

Explicando melhor: "Beowulf" é a segunda empreitada de Robert Zemeckis na animação digital fotorrealista depois de "Polar Express", capturando os movimentos e expressões faciais dos seus actores para recriar as suas "performances" em animação. Daí que passe por vezes a ilusão de estarmos a ver Anthony Hopkins, Angelina Jolie ou Ray Winstone - mas é sol de pouca dura, rapidamente as personagens recuperam a sua vocação de clones rígidos e angulares que nunca conseguem convencer enquanto seres humanos. E esse artificialismo é fatal às ambições do guião de Neil Gaiman e Roger Avary, que reinventa a história do heróico guerreiro nórdico Beowulf (a única saga poética a sobreviver dos velhos tempos anglo-saxões) como uma complexa teia de ambição e orgulho humanos.

Precisamente por isso, depois dos resultados obtidos pela inserção de actores reais em cenários artificiais por Robert Rodriguez em "A Cidade do Pecado" ou Zack Snyder em "300", o realizador de "Quem Tramou Roger Rabbit?" corre o risco de estar a apostar no cavalo errado - é a ausência do elemento humano que dá cabo de "Beowulf". Ou, dito de outra maneira: a saga original pode ter sido uma das influências maiores de J. R. R. Tolkien mas o filme de Robert Zemeckis, por tecnicamente notável que seja, não chega aos calcanhares da trilogia de Peter Jackson.

Jorge Mourinha

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