Thursday, 8 November 2007

Elisabeth: A idade de ouro

Desilusão.
A corte parece um carnaval esquizofrénico. Visão histórica no mínimo singular, mas que motivo podem ter os Ingleses para se orgulharem deste episodio quando se limitaram a beliscar "la Armada". A imagem de que os marinheiros espanhóis (e uma boa parte portugueses) não tinham estômago para aguentar os mares do canal é de rir.

Título original: Elizabeth: the Golden Age
De: Shekhar Kapur
Com: Cate Blanchett, Geoffrey Rush, Jordi Mollà, Samantha Morton
Género: Dra
Classificacao: M/12

FRA/GB, 2007, Cores, 114 min.

Depois do sucesso de "Elizabeth", Cate Blanchett regressa no papel da implacável "Rainha Virgem" que sobe ao trono depois da morte da irmã. A meio do seu reinado, a rainha terá de enfrentar o poder da religião e a traição. O rei de Espanha está determinado a desafiar o seu poder com o objectivo de restabelecer o catolicismo em Inglaterra e Elizabeth prepara-se para a guerra. Mas ao mesmo tempo tem de equilibrar os seus deveres reais com uma paixão proibida, sir Walter Raleigh (Clive Owen). Além disso, depressa se apercebe que os seus inimigos não residem apenas no exterior. Internamente, a rainha terá de lidar com as tentativas de traição das pessoas que lhe estão mais próximas.
In PÚBLICO

Crítica:

Depois de ter encarnado a rainha Isabel I, enquanto jovem, Cate Blanchett embarca numa espécie de sequela, sobretudo centrada no episódio da Armada Invencível, com aquela incapacidade que os anglo-saxónicos têm de ver a História, para além do seu próprio umbigo.

Restava ao filme a vontade de ficcionar sobre os amores e sobre o carisma e encenação da pompa real. Ora, desse ponto de vista, estamos conversados: sensaboria total; uma Cate Blanchett cabotina e sonâmbula a fingir de "grande estrela"; um guarda-roupa luxuriante, que abafa qualquer hipótese de composição dramática. Que saudades este filme nos dá dos retratos de Bette Davis (sobretudo em "A Rainha Virgem", velha e de peruca), que, ao menos, assumia com total frontalidade a falsidade da representação.

Mário Jorge Torres

Nominalmente, "Elizabeth - A Idade de Ouro" é a "sequela" de "Elizabeth" (1998), onde Cate Blanchett encarnava a soberana inglesa Isabel I nos seus primeiros anos de reinado.

Este novo filme traça a entrada de Isabel I na "idade de ouro" do seu reinado, com a morte da pretendente católica ao trono inglês, Mary Stuart, e a derrota da Invencível Armada espanhola, mas qualquer semelhança entre "Elizabeth - A Idade de Ouro" e o filme de 1998, apesar de ambos terem sido dirigidos por Shekhar Kapur e de partilharem grande parte do elenco, é mera coincidência.

Onde "Elizabeth" era sombrio, claustrofóbico, brutal na sua abordagem da história como uma constante luta de poder, agora temos uma extravagância vistosa e histriónica sobre Isabel como uma diva esquizofrénica que se ressente de não poder ser uma mulher realizada, digna dos velhos filmes "históricos" de Hollywood com Bette Davis ou Joan Crawford.

Os primeiros minutos enganam: dão a entender que este é um filme sério. Depois, a coisa descamba: narrativa aos saltos, personagens que só estão lá porque sim (pobre Samantha Morton, duas cenas como Mary Stuart e hop, cortam-lhe a cabeça - nem valia a pena ter-se dado ao trabalho), actores à toa e um indescritível histerismo visual que passa o filme a dizer "olhem que bem que filmamos" em vez de se preocupar com coisas tão básicas como contar uma história ou criar personagens. "Elizabeth - A Idade de Ouro" há-de ser um filme de culto, mas pelas razões erradas: é tão inexplicavelmente mau que só na desportiva se consegue levar.

Jorge Mourinha

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