Sunday, 15 June 2008

Asturias





Mais um passeio até aos Picos de Europa. O plano incluía 5 dias inteiros de caminhada, sendo um dos mais ambiciosos até este momento a este nível. Totalmente voltado para as caminhadas estávamos completamente dependentes das condições meteorológicas o que se veio a tornar o factor mais limitador.
O tempo não ajudou mas completámos cerca de 50% dos nossos objectivos.

Dia 1 (06-06-2008) 576 km(s), 44 litro(s), 108.3 km/h
Lisboa(PT) . Fundao(PT)

E estamos de partida de novo. Mais um fim de tarde com o objectivo de avançar o mais possível em direcção ao norte de Espanha. Uma vez mais optámos pela saída de Vilar Formoso desta feita com dormida quase em Tordesillas. Para conseguir avançar mais abdicámos do clássico jantar na Guarda, fazendo em vez um pic-nic de empadas na Auto-Estrada já no Fundão. A viagem foi quase toda feita ao som da emissão em directo do “Rock in Rio Lisboa” e à excepção do auto stop na fronteira não teve qualquer nota digna de registo.
Por volta da meia-noite chegámos ao Hotel “la Colina” em plena “autovia” já quase em Valladolid. Este hotel é uma espécie de Íbis de auto-estrada, o nível de qualidade é baixo, e caro para as condições, mas encontra-se num ponto estratégico para as nossas saídas ao fim da tarde para o norte de Espanha. Escusado será dizer que não tem elevador e ficámos alojados no 2º andar.
   A23 


Dia 2 (07-06-2008) 326 km(s), 23 litro(s), 83.9 km/h
Salamanca(ES) . Geira, Valladolid(ES) . Riano(ES) . Cain(ES) . Puerto Pandetrave(ES) . Puerto San Glorio(ES) . Collado Llembes(ES) . Cosgaya(ES)

O objectivo do dia é chegar a Cosgaya nos Picos de Europa onde temos alojamento marcado. Pelo caminho queria ir até Posada de Valdeón e percorrer a estrada municipal em direcção ao “Porto de San Glorio”, estrada que conhecia a existência mas desconhecia praticabilidade. Após o pequeno-almoço na cafetaria do hotel, fraquinho por sinal, partimos em direcção ao norte. Após alguns km de “autovia” embrenhámo-nos nas estradas de “Castilla e León” rumo às montanhas distantes. O dia estava óptimo, um belo céu azul emoldurava as montanhas Cantábricas cada vez mais perto. Chegados a Riaño aproveitámos para beber um café e apreciar a paisagem fantástica, nunca me canso destas montanhas cinzentas reflectidas no lago, nem o vento gélido que se fazia sentir estragou o momento. Alguns km depois chegámos ao Porto de Panderruedas a nossa porta de entrada nos Picos, parámos um pouco para apreciar a parede do maciço central e calçar as botas. O maciço ocidental encontrava-se encoberto por nuvens que ameaçavam estragar o resto do dia. Uns velhotes ingleses procuravam o trilho de BTT para Soto de Sajambre, tentei ajudar no que pude mas o dito está encoberto pela vegetação, sem outra alternativa seguiram pela estrada, boa sorte ainda vos faltam uns 12km pensei, pergunto-me a mim mesmo se quando chegar à sua idade ainda consigo percorrer os meus amados Picos. Seguimos até Posada e depois decidimos arriscar o caminho até Cain, o caminho é apertado e em muitos locais de cruzamento impossível no entanto a melhoria na estrada já torna o acesso praticável. De caminho parámos no “Mirador del Tombo”, a vista hoje era de tirar a respiração. Cain está-se a tornar num autêntico Carnaval de caminhantes, entre os que chegam da “Ruta del Cares” e os que como nós lá vão em excursão de carro, já pouco resta da atmosfera de isolamento de outras épocas, a bem do comércio local que vai de vento em popa oferecendo táxis, cervejas e camisolas. A maioria dos “caminhantes” fazia um pic-nic junto ao rio ao lado de uma estacionamento improvisado, nós decidimos ir um pouco ao longo da ruta e após os túneis onde o canal de Dobressiegos atinge o Cares cruzámos o rio e comemos a nossa ração a ver quem passava no trilho uns quantos metros acima na encosta. É impressionante a quantidade de malta que por aqui passa mesmo numa altura do ano mais calma, nem quero imaginar em Agosto onde se devem formar autênticos engarrafamentos pedestres. O trilho pelo canal acima via a “collada bonita” é uma das rotas de acesso de Cain ao coração do maciço Central, se bem que longe de ser a mais acessível, registei o melhor que pude na memória o local, quem sabe numa próxima excursão. Por hoje não pensávamos em grandes caminhadas e após o pic-nic percorremos um pouco o trilho até estarmos à vista da ponte de “los Rebeccos” e voltámos em direcção a Cain onde ainda parámos para uma cerveja. De regresso a Posada parámos no “Chorco del Lobo”, antiga armadilha para caçar lobos, término de uma técnica que consistia em afugentar os animas pelas serras até um vale estreito ladeado de troncos que desembocava num poço fundo onde os lobos caíam e posteriormente eram abatidos. Em Valdeón apanhámos a estrada para Marina de Valdeón. Esta estrada ainda é mais estreita que a de Cain, ladeada de muros vai serpenteando pela encosta, é muito pouco frequentada e por isso não tivemos qualquer problema a chegar ao vilarejo. Daqui a estrada começa a subir em direcção ao Porto de Pandetrave onde podemos ver “collada de Xavida”, a falha que dá acesso à “Vega de Liordes”, um dos objectivos da viagem. Por esta altura já o céu azul dava lugar a um cinzento cada vez mais carregado se bem que com as nuvens altas. A “Vega de Liordes” é um vale no coração do maciço central e o caminho desde “Fuente Dé” até à vega e o retorno pela “collada Xavida” implica pelo menos 6-7h, já consegui ver a ladeira de pedra, vamos tentar. Daqui prosseguimos em direcção ao vale de Camaleño onde se situa Cosgaya, fizemos ainda um desvio até ao “collado de Llesbes”, onde nos deparámos com uma camioneta carregada de Portugueses. Faziam parte de um grupo de montanhismo de Vila Real e estavam a iniciar uma excursão de 4 dias pelos Picos. Hoje iam descer do collado até Cosgaya (2h) para desenferrujar e nos dias seguintes Fuente Dé-Sotres e a Ruta do Cares. Como queríamos caminhar até Sotres também inquirimos ao responsável se seria possível acompanhá-los no dia seguinte e apanhar boleia da camioneta de volta a Cosgaya, infelizmente o plano deles não incluía o retorno. Despedimo-nos do grupo e após uma curta caminhada até à estátua ao Urso Cantábrico no alto da crista, seguimos viagem sob um céu cada vez mais pesado, isto não me parece bom. Finalmente chegámos a Cosgaya, o hotel tem um óptimo aspecto, uma “casona” típica em pedra junto ao rio Deva. As nossas expectativas não foram defraudadas, o quarto é bom, o atendimento simpático e acima de tudo tem elevador … um luxo. Tratámos logo de preparar a excursão do dia seguinte, a senhora da recepção, supomos a dona, tratou de nos indicar a informação que pôde do teleférico, previsões e estados de trilhos, de grande importância o facto de o marido ser taxista, dá sempre jeito uma boleia.
Jantámos no restaurante do hotel, não foi grande coisa, a comida gordurosa demais para o que estou habituado por estas bandas, depois fui apoiar Portugal na sua vitória contra a Turquia acompanhado de um “xupito” de Orujo. Gritei 2 vezes golo e foi muito satisfeito que subi para o merecido descanso.
   La Colina  
   Cain - Canal Dobressiegos 
   Chorco del Lobo 
   Hotel Cosgaya 
   Hotel Cosgaya 


Dia 3 (08-06-2008) 20 km(s), 1 litro(s), 82.1 km/h
Fuente De(ES) . Aliva(ES) . Cosgaya(ES)

O dia amanheceu muito molhado. Um manto leitoso preenchia o vale e diminuía a nossa moral. O objectivo de aceder ao maciço central e quem sabe chegar aos “Horcados Rojos” parecia cada vez mais longínquo, no entanto a esperança é a última a morrer e pusemos na cabeça que o mau tempo só deveria estar no fundo do vale. Bem alimentados pelo pequeno-almoço lá fomos até “Fuente Dé” em busca do desejado bom tempo, não o encontrámos. Chegados ao circo, os maciços de nuvens que subiam do vale e de Sotres quebravam nas paredes num turbilhão, lá muito no alto os picos apareciam por entre redemoinhos de nuvens e farrapos de azul iluminados por fugidios raios de sol. O circo de “Fuente Dé” é uma das paredes mais impressionantes dos Picos, 1000 metros de desnível quase vertical erguem-se do vale em taça semicircular culminando no planalto central, uma muralha de dentes a proteger os recantos mais elevados. Ajuda preciosa, o teleférico poupa em 10 minutos cerca de 900 metros de desnível, desta feita a pequena cabine vermelha desaparecia num mar leitoso 400 metros mais acima em direcção a um qualquer local desconhecido.
Passados alguns minutos o tecto de nuvens fechou completamente e perdemos toda a visibilidade acima de meia encosta, as condições iam de mal a pior e todo e qualquer plano para os pontos mais altos parecia uma loucura, foi com um coração desolado que ficámos à chuva a ver parede íngreme desaparecer alguns metros acima de nós. No entanto era o primeiro dia e não queríamos desistir, a previsão indicava abertas para a tarde, decidimos beber um café e esperar um pouco por uma melhoria e empreender uma arriscada subida da parede e esperar que chegados ao topo o tempo tivesse melhorado. A subida pelo “canal de la Jenduda”, tornava-se arriscada pelo tempo, se fossemos apanhados a meia encosta por uma nuvem mais densa teríamos de esperar enquanto a visibilidade não melhora-se, além disso o trilho é pouco marcado e não é recomendado em nenhum guia. Foi com estas dúvidas que 30 minutos volvidos iniciámos a longa subida, alguns minutos volvidos deixámos à nossa esquerda os “Tornos de Liordes” a árdua subida para a “vega de Liordes”, continuando a circundar a encosta em 30 minutos estávamos sobre a cascata quase por debaixo do cabo do teleférico. Neste ponto descansámos um pouco. A chuva finalmente parou se bem que as nuvens não levantaram mas pelo menos daqui para a frente continuámos secos. Numa aberta conseguimos vislumbrar o nosso destino, lá muito em cima um canal de calhau rolado que aparecia entre duas paredes verticais com mais de 200 metros de altura e separadas por pouco mais de 10 metros. Para lá chegar tivemos de superar a parte mais difícil para mim, uma longa encosta cheia de lama e plantas, do trilho já inexistente só sobravam um ou outro “hito” e o canal formado pelas águas que se dirigia directamente à entrada da garganta. A inclinação e a lama tornaram esta subida extremamente árdua e não foram poucas as vezes que questionámos a sanidade da situação, 45 minutos depois finalmente a entrada do canal, a partir daqui o caminho ladeado por duas muralhas não deixava qualquer margem para enganos. Foi com algum alívio que ouvimos o familiar restolhar de pedra e passados alguns minutos um grupo de 6 provenientes do topo cruzou-se connosco. Com alguma dificuldade de equilíbrio devido à forte pendente lá nos asseguraram que o caminho era praticável e que já não faltava muito, só mais 45 minutos, mais coisa menos coisa, de uma encosta inclinadíssima de calhau rolado. Dei graças por estar a subir, se viesse no sentido oposto o risco de uma queda era elevadíssimo. Após uma ou outra escalada de gatas e um ponto onde uma corda possibilita a passagem de uma grande pedra demos por nós numa situação limite, neste ponto já era praticamente impensável voltar, por cima de nós as íngremes paredes desapareciam num manto cada vez mais claro, por baixo um nevoeiro cinzento envolvia a entrada do canal, o silêncio absoluto, estávamos sozinhos … um passo de cada vez. A ignorância da nossa posição era total, não tínhamos ideia de quanto faltava até ao topo e o abismo por trás de nós estava, felizmente, oculto. Com muito cuidado para não soltarmos pedras que pudessem aleijar o outro, subimos à vez com reuniões para descanso frequentes, incrivelmente apesar da extrema inclinação e distância foi talvez das subidas que menos me custaram, a adrenalina deve ter ajudado. Conforme indicado 1 hora após entrada no canal atingimos os “Hoyos de Llorosa” e um pouco depois o planalto acima da encosta, conseguimos. Os picos mais altos estavam envolvidos por um manto alto e abaixo da nossa cota já tudo era domínio do nevoeiro, estávamos no mundo entre as nuvens, mesmo assim ainda vislumbrei a impressionante muralha do maciço central, desde a “Peña Olvidada”, “Peña Vieja”, “Picos de Santa Ana”, “Torre dos Horcados Rojos”, o collado dos Horcados e o cónico “Pico Tesorero” coberto de neve. Lá muito em cima fica a cabana Verónica, objectivo para outro dia.
Decidimos ir aquecer e comer qualquer coisa à estação superior do teleférico, estrutura precariamente equilibrada sobre o abismo nebuloso. A sala de refeições da estação de teleférico qual bóia de salvação no meio da tormenta, apresentava um conjunto eclético de personagens, desde o turista de sapatinho leve em busca de vistas desaparecidas até escaladores de gelo hard-core a retemperar forças. Enquanto comíamos a nossa ração analisámos as nossas opções: 1. Dávamos por terminado o dia e apanhávamos o teleférico para baixo (+-10min) 2. Avançávamos até ao “Hotel-Refugio de Áliva” e daí até Espiñama (+-3h). Apesar de o vento parecer estar a levantar desbaratando todos os, poucos, corajosos que tentavam tirar fotografias no mirador, optámos pela segunda alternativa e mochila às costas lá voltámos para o frio. Ao chegarmos à “Horcadina de Covarrobres”, ponto de passagem para o vale de Áliva o vento amainou e lá para norte um indício de azul fazia crer que o resto da excursão seria ao sol. Neste ponto sob a maciça “Peña Olvidada” a vista era fenomenal, um imenso vale verdejante, sob um carregado céu de chumbo, raios de sol quebravam as nuvens iluminando selectivamente pontos da paisagem, ao fundo o Maciço Oriental apresentava-se como uma muralha intransponível, rodeado de verde do vale o pico de Juan Toribo ergue-se solitário. Descemos sem sobressaltos até ao “Chalet Real”, antigo refúgio de caça de Afonso XIII, e daí ao Hotel de Áliva. A imagem do “Chalet Real” com o paredão da “Peña Vieja” em fundo é uma das mais belas dos Picos. No Hotel tomámos um café e enfrentámos as 2h30 e 900 metros de desnível que ainda nos faltavam. Neste ponto o trilho percorre o estradão que os 4x4 percorrem para acederem desde Espiñama, através das pastagens de altitude com imenso gado ovino, caprino e bovino, bem como muitos cavalos que aproveitam este recanto bucólico e fértil. O sol finalmente brilhava num céu límpido, uma brisa fresca fazia-se sentir. Alguns km volvidos, chegámos ás “Portillas del Boquejón”, uma garganta apertada que marca a separação entre o vale e a encosta para Espiñama. A partir daqui o trilho ganha inclinação e os últimos km são percorridos numa descida contínua que martiriza os nossos joelhos já exaustos. Passa-se pelos “Invernales de Iguedri” e depois uma longa estrada arborizada sempre sob a vista imponente do “Pico de Valdecoro” leva-nos até Espiñama já na estrada de acesso a “Fuente Dé”, lá longe do outro lado do vale “El Coriscao” ainda retinha algumas nuvens. Chegados à estrada nacional parámos e telefonámos ao táxi do hotel para nos levar de volta ao carro. Durante a viagem de táxi contámos as nossas aventuras do dia ao que o taxista espantado afirmou que tínhamos intuitos suicidas por termos arriscado o “canal da Jenduda”.

“Canal de la Jenduda? Hoy? Quien tuve la ideia?”
“Ela”
“Te quer matar” avisou-me ele com um piscar de olho.

Eram 19h e estávamos de volta a “Fuente Dé”, agora o céu limpo e toda a imensa parede visível, lá em cima, muito em cima, uma nesga negra indicava o canal … bolas, pensei.
Á noite arrastámo-nos até ao restaurante da “casona” de Cosgaya o hotel ao lado do nosso. O Restaurante “Urogallo” é simplesmente um dos melhores que já comi em Espanha e regalei-me com um menu de degustação dos deuses. O dia foi longo, tempo de dormir.
   FD-Jenduda-Cable 
   Cable-Aliva-Espinama 
   Hotel Cosgaya 


Dia 4 (09-06-2008) 179 km(s), 10 litro(s), 82.1 km/h
Potes(ES) . Sotama(ES) . Panes(ES) . Arenas de Cabrales(ES)

Chuva. Muita chuva. Ainda pior que o dia anterior. Fomos até “Fuente Dé”, mas as previsões eram tão desanimadoras que desistimos de qualquer actividade de montanha. Aproveitámos e fomos visitar o centro de visitantes do Parque Natural em Sotaima. Neste edifício, um paralelepípedo de madeira, oferece-se ao visitante uma apreciação global dos vários ecossistemas do parque e da presença humana na região. Impressionante a exposição sobre a actividade mineira onde são apresentadas as duras condições de trabalho que esta actividade envolvia.
A chuva continuava inclemente e pouco havia a fazer, prosseguimos viagem através do magnífico desfiladeiro de “la Hermida”, hoje não tão magnífico, e já do lado norte parámos em Panes no café “El Comportu” para umas tapas. Este café \ sidreria é um simpático recanto de um fanático da F1 e que serve umas tapas bem porreiras. Terminado o repasto, que fizemos por alongar, prosseguimos até à nossa base seguinte, “Arenas de Cabrales”. Fizemos check-in no hotel “Villa de Cabrales”, este hotel é muito simples e não oferece luxos, mas é limpíssimo, a família que gere simpaticíssima, a 2 passos do vale do Cares e com preço imbatível, adoramos o local e voltamos vezes sem conta. A tarde já ia avançada e a depressão era enorme, um dia inteiro sem dar uso às botas. Felizmente por volta das 18h o céu começou a desanuviar e podemos subir até Poncebos. Como já não conseguíamos iniciar nenhum percurso digno de nome, decidimos andar um pouco no trilho baixo do Cares a ver onde ia dar. Passado algum tempo o estradão dá lugar a um trilho escavado na rocha, em tudo semelhante ao trilho alguns metros mais acima, mas mais estreito e junto ao rio. Como já se fazia tarde não percorremos mais do que algumas centenas de metros, mas ficámos cheios de vontade de prosseguir.
Á noite fomos jantar ao café Santelmo e aproveitar para ver a bola, Itália-Holanda. Foi muito divertido ver um adepto holandês perder a compostura ao longo do jogo e dar largas à sua alegria, de maneira cada vez mais efusiva, à medida que a sua equipa dilatava a vantagem. No fim do jogo já parecia um autêntico espanhol, branco de leite e sandália com meia.
O dia terminou, foi um dia flop, de tal modo que nem uma fotografia tirei.
   Casa PNPE 
   El Comportu 
   Cafe Santelmo 
   Villa de Cabrales 


Dia 5 (10-06-2008) 58 km(s), 6 litro(s), 70.2 km/h
Poncebos(ES) . Cangas Onis(ES) . Sotres(ES) . Arenas de Cabrales(ES)

Acordámos cheios de esperança mas o tempo cinzento e húmido prosseguia. Decidimos que o melhor seria continuar a exploração do trilho inferior do Cares já que cotas superiores estavam completamente tapadas pelas nuvens. Após estacionarmos o carro fomos interpelados por um grupo de Espanhóis que estava renitente em fazer a Ruta do Cares pois ameaçava chover. Dei uma de entendido e disse que o tempo ia melhorar, como se veio a verificar isso não aconteceu, as minhas desculpas por favor. O trilho do Cares inferior revelou-se de grande beleza com belas vistas sobre o rio sendo tão impressionante na grandiosidade como o trilho superior mais conhecido. No mapa este trilho termina algures perto do “canal de Estores”, eu tinha grande curiosidade para ver que solução de progressão se nos apresentava pois sabia que esta era possível a partir desse ponto até pelo menos ao “canal de la Raya”. Infelizmente com cerca de uma hora de caminho cruzámo-nos com um grupo de 3 que nos avisou que o trilho se encontrava bloqueado mais à frente. Uma zona onde o trilho se aproxima perigosamente do rio estava inundada pelo forte caudal alimentado pelas últimas chuvas. Só nos restava voltar para trás. O grupo optou por subir a corta mato até ao trilho superior e continuar até Cain enquanto que nós voltámos pelo mesmo caminho.
Passada a manhã nesta brincadeira e como o tempo não melhorava fomos passear até Cangas de Onis e despachar as compras clássicas, chocolates e os “orujos”. Depois das compras fomos experimentar um restaurante que nos tinham sugerido, “lo Molino de la Pedrera”. Abençoada sugestão, adorámos o sítio, tapas de autor num ambiente cinco estrelas com um serviço de eleição. Já a tarde ia avançada quando regressámos a Arenas. Ainda de cara feia o céu não animava mas mesmo assim decidimos tentar o trilho junto a Sotres para a Vega del Toro. Este percurso faz parte da grande Ruta de la Reconquista que descendo do “Pandebano” inicia para sul a travessia do vale em direcção aos “Portos de Áliva” e Espiñama, onde tínhamos estado dois dias antes. Quando iniciamos o percurso todos os cumes estavam cobertos mas lentamente à medida que nos aproximávamos da vega o céu azul começou a despontar ficando mesmo limpo quando lá chegámos cerca de 1 hora após. O trilho percorre o vale do rio Duje que divide o maciço central do oriental com maciças paredes de ambos os lados, a ¾ da distância com Áliva ficam as “Vegas del Toro”, pequeno aglomerado de apoio às actividades de pecuária, num amplo vale quase plano aninhado entre “El Escamelláu” e a “Peña Castil” a oeste e a impressionante parede da “Morra del Lechugalles” a Este. Após percorremos alguns metros mais passando algumas grutas usadas como currais e já à sombra de “El Escamelláu” demos por finalizada a expedição e retornámos ao carro.
Fomos jantar ao restaurante Café-Cares, com um serviço superior ao Santelmo mas cheio de excursões de ingleses, ainda prefiro a autenticidade do anterior.
Espero que o tempo melhore, a ver se amanhã conseguimos subir mais alto.
   Cares baixo 
   Molina la Pedrera 
   Vegas del Toro 
   Cafe Cares 
   Villa de Cabrales 


Dia 6 (11-06-2008) 228 km(s), 17 litro(s), 65.1 km/h
Bárrega(ES) . Barcena la Mayor(ES) . la Hermida(ES) . Urdon(ES) . Arenas de Cabrales(ES)

O tempo não melhorou. De facto até piorou, chovia. Subimos até Sotres na esperança de que as nuvens fossem essencialmente baixas mas nada feito, cinzento e molhado por todo lado. Decidimos tirar o dia e explorar o vale de Liébana e o maciço da “Peña Sagra”. Nas indicações descobrimos referência às grutas de “El Soplao” e fomos espreitar. O centro de recepção das grutas fica no alto de um monte e com o nevoeiro que estava quase que falhamos as indicações. Chegados lá verificámos que este local já tem uma capacidade turística elevada, não tanto pelas pessoas que lá estavam, mas pelo parque de estacionamento generoso. Infelizmente a sorte parecia não querer nada connosco, as grutas encontravam-se encerradas. Ao principio ficámos com a impressão que se resumia à greve dos transportadores que estava prejudicar o pequeno comboio turístico que faz o percurso até às entranhas da montanha, mas afinal tinha ocorrido um corte generalizado de electricidade e estava-se no momento a tentar resgatar das trevas os grupos que estavam na gruta. Como não havia previsão para a resolução do problema partimos uma vez mais em busca de distracção. Optámos por ir visitar o pequeno vilarejo de “Barcena Mayor” perdido no fundo de um vale Cantábrico. Este vilarejo é mais um dos muitos que esteve isolado do mundo até a meio do séc. XX quando a estrada foi aberta, alguns anos depois torna-se essencialmente turístico. È inteiramente feito de pedra com varandas e alpendres de madeira e todas as casas seguem a traça original. Nota-se um esforço de reconstrução e bastante oferta de turística se bem que tudo fechada pois a época ainda não tinha começado. Felizmente o simpático albergue de “La Franca” abria naquele dia e pudemos comer qualquer coisa na terra, qualquer coisa é uma maneira de dizer, pois o “Cocido Montañes” que ataquei dava para 3. Este cozido de feijão, grão, couves, enchidos e toucinho, servido como uma sopa é uma refeição excelente para quem queira trepar um monte, infelizmente o tempo não deixava. Após o almoço apanhámos o caminho mais longo de volta através do porto de Hoz. Passámos junto ao “Pico Gamonal” e depois descemos a inclinada encosta para a “la Hermida” situada no famoso desfiladeiro com o mesmo nome. Esta estrada vale a pena e como as nuvens tinham levantado a vista era impressionante. Animados com mais esta reviravolta meteorológica e visto que estávamos no desfiladeiro, nada como ir espreitar o muito famoso trilho de Tresviso logo ali ao lado. Este trilho é impressionante, não tanto a paisagem que é bela mas não mais que em outros pontos, mas pelo esforço que construir este caminho e usa-lo deve ter implicado. Este percurso que liga Urdón a Tresviso foi aberto na rocha pelas companhias mineiras que operavam em Tresviso e o utilizavam para fazer descer o minério em carros de bois. O desnível é impressionante e é vencido através de uma sucessão de cotovelos com algumas curvas apertadíssimas, os acidentes devem ter sido mais que muitos e na minha mente formaram-se imagens de carros de bois carregados arrastando homens e animais encosta abaixo. Em pouco mais de 3km o trilho vence uns impressionantes 890m de desnível sendo necessárias quase 3 horas para chegar ao topo. O nosso tempo infelizmente não dava para tanto mas conseguimos atingir cerca de 1/3 do percurso ficando num planalto a meia encosta. A vista para o vale do Urdón é espectacular e lá mais acima após mais umas dezenas de cotovelos o balcão de Pilatos, famoso mirador e meio caminho da rota. Gastámos cerca de 2 horas nesta brincadeira e não nos cruzámos com ninguém a não ser no regresso já junto ao carro que nos deparámos com um pequeno grupo de ingleses em busca de aves. Incrivelmente não senti o mínimo cansaço, o “cocido montañes” sempre resultou. Voltámos para Arenas muito satisfeitos, o dia pode ter começado feio mas acabámos com uma tarde esplendorosa num trilho magnífico. Entretanto no mundo lá longe, Portugal apurava-se para os quartos de final do campeonato europeu e os produtos de 1ª necessidade começavam a escassear devido à greve continuada dos camionistas espanhóis, mas isso para nós era como se fosse noutro planeta. Mais um jantar no Santelmo e mais um jogo de bola, já não me lembro qual.
   La Franca 
   Ruta Tresviso 
   Cafe Santelmo 
   Villa de Cabrales 


Dia 7 (12-06-2008) 63 km(s), 4 litro(s), 63.3 km/h
Pandebano(ES) . Cangas de Onis(ES) . Narciandi(ES)

Finalmente um belo dia de sol. Foi com o coração a mil que nos apressámos a fazer o check-out e rumámos ao Pandebano o mais depressa que conseguimos, é desta que vamos ao Urrielu. A estrada para o Pandebano está cada vez pior e ainda me arrepiei uma ou duas vezes a passar umas valas. Eram 10h quando iniciámos a nossa derradeira aventura no maciço central. Apesar de o céu azul imperar, lá para cima nos cumes as nuvens acumulavam e quebravam, por entre redemoinhos nebulosos espreitava “El Albo”, à chegada ao “collado” o Naranjo estava completamente tapado. Alguns minutos depois atingimos a “majada de la Tenerosa” com o seu refúgio, fechado, acho que nunca o vi aberto, numa das cabanas os pastores deviam estar a preparar o queijo. O caminho até ao “collado Vallejo” decorreu sem incidentes, uma longa subida pela encosta com uma vista para Bulnes soberba. No “collado” parámos um pouco para retemperar forças, o Naranjo continuava escondido, nas encostas um grupo de rebeccos saltitava. A partir deste ponto estávamos em território desconhecido, durante algum tempo o trilho ladeia o abismo mas depois começa uma longa subida de zigzags pelas encostas de pedra no sopé do Naranjo, que como já disse antes, não se via. A cerca de 45 minutos do refugio, no fim de mais uma encosta de calhau demos com o burro que faz o transporte de carga para o abrigo, vinha a descer carregado com as bilhas de gás usadas, pobre animal, hás-de voltar ainda mais carregado, pensei. Neste ponto alcançámos a cauda de um grupo de excursionistas que subiam lentamente em fila indiana e como o nevoeiro começava a adensar mantivemos o contacto visual possível. Após uma cabeço subimos acima do nevoeiro, ou seja, uma nuvem que quebrava na encosta, à nossa frente a última subida, no topo adivinhava-se o verde da “vega de Urriellu”, à direita o maciço do Neverón a neve brilhando contra um céu azul lindo, as nuvens subindo em turbilhão pelas encostas ficando em farripas nos picos, à esquerda por entre névoas e neblinas entrevia-se a sombra negra do imenso monólito que é o pico Urriellu, Naranjo para os amigos. Subimos os últimos metros à frente das nuvens que teimosamente não deixavam de nos perseguir, chegando a alcançar-nos quando saltando um monte de neve atingimos o planalto e finalmente vimos o refúgio. Aproveitámos para almoçar e retemperar forças. Ficámos por lá quase uma hora, lemos a história da ascensão ao Naranjo, os boletins de emergência e uma notícia de um famoso escalador catalão que tinha acabado de morrer numa remota cascata de gelo descoberta por ele, claro está também apreciámos as vistas. Durante todo o tempo, não vislumbrámos uma única vez o mítico pico que dá o nome ao refúgio, é preciso ter galo, quase tocar na imensa parede mas não ver mais do que 20 metros da mesma. Apreciei a vega em si, um belo prado verdejante salpicado aqui e ali de neve rodeado por paredes de rocha e o maciço central que periodicamente limpava e permitia o vislumbre dos seus cumes. Se continuássemos na direcção inicial através do planalto chegaríamos ao “Jou sin Terra” e depois aos “Horcados Rojos” e eventualmente Fuente Dé, esta é uma travessia que tenho que realizar, mas provavelmente no sentido inverso. Enveredando em direcção ao “Pico Albo”, “Horcada Arenera” e depois o “Jou de Cabrones” com o respectivo refúgio, também uma boa aventura para outro dia quem sabe. Após a visita da praxe aos WCs do refúgio demos inicio à descida, bom augúrio logo ao início mais um grupo de rebeccos vieram nos saudar. Esta descida foi um martírio para mim, a ritmo bem elevado foi feita de um esticão, à medida que os músculos das pernas davam de si os joelhos e os dedos dos pés começaram a suportar o peso do corpo, foi em quase agonia que me encostei ao carro quase 2h e meia depois da partida, o coração e os pulmões em forma, mas os pés em papa. As botas não estavam apertadas o suficiente e abusámos na tirada, vivendo e aprendendo, assim não faço outra. Foi uma boa aventura, de certeza que voltarei.
Após uma dose maciça de açúcar em forma de marmelada para repor os níveis, fomos em busca de uma gasolineira para à precaução encher o depósito, as notícias dos bloqueios grevistas atingiam níveis alarmantes inclusive com mortos em confrontos policiais. Em Madrid os bens já escasseavam, pelas Astúrias tudo parecia mais calmo mas o seguro morreu de velho. Como previa não tivemos dificuldade em arranjar combustível e assim mais descansados deslocámo-nos para o nosso próximo pouso, Narciandi. Mesmo junto a Cangas de Onis a cerca de 800m da estrada nacional, este vilarejo é um sítio bucólico numa encosta virada a sul com as montanhas de Covadonga por quintal. Toda a terra é de traça rústica sendo os Orreos, celeiros sobre estacas, muito comuns. Ficámos alojados no “Balcón de los Picos” um pequeno Turismo Rural com uma vista de excelência. À nossa espera estava Fefi, a nossa anfitriã, que nos deu as boas vindas e nos fez a visita guiada à casa. Escolhemos um simpático quarto no sótão, que de mal só tinha os dois lanços de escada que tive de subir com a bagagem. Após uma merecida banhoca ainda tentei ver o resumo do jogo de Portugal do dia anterior mas 3 minutos depois de me ter deitado na cama já dormia profundamente. Uma hora depois já retemperado fomos até Cangas jantar, era noite de Santo António e por aqui também é o santo padroeiro, infelizmente não há sardinha nem fogueiras e muito menos ginginha, só uns carrosséis barulhentos e muito mais gente na rua. Jantámos no “Molino de la Pedrera” e voltámos para o quarto. À entrada fomos apanhados pela Fefi agora que nos apresentou o marido, também muito simpático, dois dedos de conversa depois desculpámo-nos com o cansaço e fomos dormir. Amanhã mirador de Ordiales, se as pernas deixarem.
   Ref Urrielu 
   Molina la Pedrera 
   Balcon de los Picos 


Dia 8 (13-06-2008) 62 km(s), 5 litro(s), 61.2 km/h
Covadonga(ES) . Cangas de Onis(ES) . Narciandi(ES)

O dia anterior foi sol de pouca dura, hoje está cinzento. Não ameaça chover mas a visibilidade no topo é limitada, o objectivo de atingir o mirador de Ordiales nestas condições parece-me cada vez mais ilógico. Foi-nos servido um magnífico “desayuno” pelo senhor Manuel, a Fefi foi à missa disse-nos ele. Cereais, Pão, Queijo, Doces caseiros e croissants caseiros quentinhos, um mimo. Na nossa companhia um casal de Madrid.
Bem atestados está na hora das montanhas. Como suspeitava à cota dos lagos de Covadonga o nevoeiro era cerrado, Ordiales estava fora de questão, em substituição fomos tentar o trilho para a vega de Orandi. Um pouco acima do santuário na estrada dos lagos fica este caminho em plena floresta que leva até Orandi onde o rio “las Mestas” desaparece numa gruta para surgir de novo na “Cueva Santa” no santuário 250 metros mais abaixo na encosta. Apesar do caminho prosseguir até Covadonga queríamos somente chegar ao prado descrito. Infelizmente o caminho estava impraticável, a lama e dejectos de gado acumulavam-se naquele caminho sombrio tornando a progressão muito escorregadia e cansativa, para não falar em porca. Não estávamos para isto e voltámos ao carro. Decidimos voltar aos lagos, talvez já tivesse mais liberto. No caminho parei no parque Cañavales. Numa curva da estrada este collado é cruzado pela ruta Frasinelli (investigador alemão do século XIX que imortalizou esta rota, por ser a que usava quando ia a banhos à serra) que sobe desde Corao até ao centro de interpretação Pedro Pidal junto ao lago Enol. Nunca tinha pensado neste trilho mas parece uma hipótese tão boa como outra qualquer. Após sair do parque de Cañavales, o caminho à sombra do mirador de “la Reina” sobe em acentuada pendente até atingir mais um “collado” descendo depois lentamente até à “Vega de Comeya”, uma imensa bacia de um antigo lago. Através desta, em linha recta, o trilho dirige-se directamente para uma parede vertical e lá no topo o centro de interpretação. Este vale é muito bonito, bastante grande, totalmente plano e completamente rodeado por elevações, paredes verticais a sul e colinas verdejantes norte. Por todo o lado, gado pasta placidamente e cavalos curiosos aproximam-se para nos inspeccionar. O tecto de nuvens baixos serviam para aumentar a nossa sensação de isolamento e não fosse um ou outro badalo o silêncio seria total. A parte mais complicada de todo este percurso foi ultrapassar as muitas poças de água que se formaram e que em alguns pontos nos chegava às canelas. Felizmente conseguimos manter os pés secos e uma hora depois atingimos o extremo do vale. Aqui, no lugar de la Fabrica, podemos ver os restos da actividade mineira, neste sítio aproveitando uma cascata natural proveniente das minas de Buferrada junto ao lago Ercina, o minério era lavado e posteriormente transportado para os vales vizinhos. Para descer o minério da mina mais acima um sistema de gôndolas suspensas foi engendrado através da apertada garganta. Prova destes tempos e únicos vestígios sobreviventes os postes de suporte. Neste ponto o trilho sob acentuadamente até atingir o passo de Escalleru, uma gruta alcantilada sobre a garganta que proporciona uma vista magnífica da queda de água e da Vega acabada de cruzar. Atravessando a gruta através de passadiços de madeira montados estamos perante os últimos metros em forte pendente que acompanha o regato até atingir o parque de estacionamento do lago Enol e o fim deste trilho. Neste ponto tínhamos atingido o tecto de nuvens que parecia estar a adensar e de um momento para o outro ficámos envolvidos num denso nevoeiro que não nos deixava mais do que alguns metros de visibilidade. Aproveitámos para visitar o centro de interpretação e comprar mais um mapa e guia dos Picos, isto já se está a tornar compulsivo, nunca estou satisfeito com a cartografia que tenho. Depois deste bocadinho fomos dar ao dente, como não se via a ponta dum chavelho sentámo-nos no muro junto à estrada e atacámos a sandocha. Estávamos muito bem sentadinhos completamente isolados do mundo real no nosso universo branco, quando o resto do mundo decidiu vir ter connosco. Absolutamente vindos do nada um grupo excursionista de alunos estrangeiros, ingleses penso, decidiu parar para descansar e qual navio na tormenta seguiram o farol para bom porto, sentaram-se à nossa volta. Durante alguns minutos o caricato da situação foi hilariante, então com uma montanha literalmente deserta esta malta decide acampar mesmo em cima de nós, e ainda por cima a berrarem um Espanhol macarrónico com sotaque intragável. Eventualmente decidiram seguir viagem e ficámos novamente sozinhos. Voltámos pela estrada até Cañavales num ambiente surreal, de quando em vez surgiam árvores fantasmagóricas na neblina, ao longe, badalos abafados do gado invisível. À excepção de uma ou outra vaca não nos cruzámos com ninguém um facto extremamente raro para este ponto tão turístico. Apesar de tudo experimentámos um trilho novo que não tínhamos equacionado, pode não ter servido de consolo para Ordiales mas foi muito engraçado. À noite em Cangas jantamos na adega Chispa, servem muito bem mas a comida estava muito gordurosa. A seguir fomos até um bar beber um copo e vermos a França levar uma abada da Holanda. Assim terminaram as caminhadas, no global foi satisfatório mas o tempo impediu-nos o acesso à maioria dos desafios mais interessantes, Horcados, Liordes, Ordiales e Vega de Ario têm de ficar para uma próxima.
   Comeya,Lagos 
   Bodega Chispa 
   Balcon de los Picos 


Dia 9 (14-06-2008) 324 km(s), 23 litro(s), 60.2 km/h
Lagos Covadonga(ES) . Cangas Onis(ES) . Soto Sajambre(ES) . Leon(ES) . Molinaseca(ES)

Irritantemente, porque tínhamos que partir, o dia amanheceu lindo. Depois de mais um valente pequeno-almoço e de nos despedirmos dos nossos anfitriões rumámos de novo aos lagos para pelo menos vermos as vistas. Que pena no dia anterior o céu ter estado tão carregado, hoje o sol brilha e uma leve aragem refresca o ambiente. Não vale a pena chorar sobre leite derramado, mais vale aproveitar o que temos agora. Com o tempo que tínhamos disponível só podíamos fazer a volta mais curta aos lagos, Ercina-Mirador entre Lagos-Enol-Mirador del Príncipe-Minas de Buferrada-Ercina, num total de 1 hora mais coisa menos coisa. Foi muito agradável e desforrei-me nas fotografias, inclusive uma magnifica panorâmica 360º no mirador do príncipe. Antes de descer ainda fui espreitar o inicio do trilho para Vegarredonda e Ordiales, grande vista com todo o maciço “del Cornion” bem visível. Uma última paragem no Mirador de la Reina, via-se perfeitamente o mar, que dia magnifico este. Em jeito de despedida fomos almoçar uma última vez a Cangas ao “Molino de la Pedrera” e depois rumámos a sul através do impressionante desfiladeiro de “los Beyos”. Este desfiladeiro vale uma visita, sentimo-nos tão pequenos lá no fundo perante aquelas paredes imensas. Antes do porto de Pontón e oficialmente sairmos do Parque, fizemos um pequeno desvio até “Soto de Sajambre” para conhecermos esta pequenina terra, uma possível base para uma próxima aventura. Foi com grande tristeza que deixámos estas magnificas montanhas tão temperamentais e tão belas na sua dureza, vamos voltar obviamente. O resto da viagem decorreu sem nada digno de nota, “Embalse de Riaño” sempre bonito, León, Astorga e depois a rota de Santiago até Molinaseca onde pernoitámos. Ficámos alojados no Hotel de Floriana, novo, moderno e com óptimos detalhes, como por ex. coluna de hidromassagem e televisão de plasma, este é um dos melhores hotéis onde já fiquei em Espanha e talvez um dos melhores de sempre. Os quartos possuem grandes janelas com portadas de madeira que dão para uma encosta de castanheiros, quando a manhã é de nevoeiro deve ser uma imagem irreal. Como bónus, o hotel fica ao lado do restaurante com as melhores “natillas” de Espanha. Por hoje já chega.
   Lagos (pequeno) 
   Molina la Pedrera 
   Meson Real 
   Hotel de Floriana 


Dia 10 (15-06-2008) 653 km(s), 49 litro(s), 66.8 km/h
Molinaseca(ES) . Vila Real(PT) . Guimarães(PT) . Lisboa(PT)

O dia de regresso começou com mais ameaça de chuva, realmente esta foi uma semana muito molhada. Depois de um snack, partimos a par dos muitos peregrinos, Ponferrada, Verin e a fronteira em “Feces de Abajo” (não estou a brincar, vão ver o mapa), Chaves, Vila Pouca de Aguiar e finalmente parámos em Guimarães para uma bucha. Por esta altura chovia bem e felizmente uma dica numa pastelaria evitou muito tempo de procura. Comemos no café Oriente, um restaurante num 2º andar remodelado, bom ambiente, bom serviço, bom garfo … recomendo. A tarde, foi passada numa sucessão de A’s, A13, A3, A1 e A8, eram quase 18horas e o sol rompia as nuvens quando chegámos a casa.
   Hotel de Floriana 
   Cafe Oriental 




10 dias de 06-06-2008 a 15-06-2008
2486.7 kms (249 /dia)
181 litros (18 /dia) 7.2 aos 100
66.8 km/h (37 h)
 
    Canal de la Jenduda
    El Urogallo
    Trilho Urrielu
    Chuva


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