Wednesday 3 December 2008

A dupla face da lei

Saí perfeitamente indiferente da sala, o que é de estranhar quando temos na mesma fita Niro e Pacino juntos. Mas verdade seja dita, a meio da primeira parte já se advinha o desfecho e até ao fim é um arrastar de pés. Tenho mesmo muita pena, o resultado podia ter sido extraordinário.

Título original: Righteous Kill
De: Jon Avnet
Com: Robert De Niro, Al Pacino, 50 Cent
Género: Dra
Classificação: M/12

EUA, 2008, Cores, 101 min. (IMDB)

Turk (Robert de Niro) e Rooster (Al Pacino) são dois veteranos da Polícia de Nova Iorque, agentes há 30 anos, dispostos a tudo. Menos a pedirem a reforma, dia que inevitavelmente chegará. Quando um assassino começa a matar vários criminosos que fugiram à justiça seguindo o "modus operandi" em tudo semelhante ao de um "serial killer" que tinham prendido anos antes, Turk e Rooster questionam-se se não se terão enganado e posto o homem errado atrás das grades.
Os detectives Perez (John Leguizamo) e Riley (Donnie Wahlberg) tenta resolver o caso com Turk e Rooster, mas o tenente Hingis começa a temer que um polícia possa estar implicado.in Publico

Crítica:
Pergunta: como é que se têm no mesmo filme Pacino e De Niro, os dois maiores actores americanos da sua geração, pela primeira vez contracenando todo um filme um com o outro (no "Padrinho parte II" de Coppola nunca se cruzavam, no "Heat" de Mann só tinham uma cena juntos) e se deita fora esse trunfo de luxo num objecto descartável? Resposta: quando o realizador é Jon Avnet, antigo produtor reconvertido em realizador esquecível com "Mulheres do Sul" e "Íntimo e Pessoal".

A sua falta de jeito desbarata os talentos de De Niro e Pacino e deixa por explorar as pistas mais interessantes de um guião mal acabado mas estimulante assinado por Russell Gewirtz (autor do "Infiltrado" de Spike Lee). O título português, infelizmente, desvenda logo a premissa do filme - um assassino serial à solta por Nova Iorque cujas vítimas são criminosos que escaparam à justiça é na verdade um polícia frustrado pela sua impotência face à lei - e Gewirtz introduz uma série de boas pistas (desde uma investigadora forense com tendências masoquistas até uma refrescante incorrecção política nos subtextos xenófobos da história, passando pela possibilidade de o próprio herói da história ser o criminoso) numa estrutura narrativa demasiado decalcada de "Infiltrado".

Avnet consegue a proeza de ignorar as potencialidades para as reduzir a um sensacionalismo superficial paredes-meias com uma apologia do vigilantismo, polvilhado de conversa de balneário que soa mais forçada do que natural, para além de ser incapaz de sacar das suas estrelas algo mais que o piloto automático (com o "underacting" de De Niro a ganhar aos pontos ao "overacting" de Pacino).

Sidney Lumet tinha feito disto um mimo, Jon Avnet faz uma fita boa para o DVD de domingo à tarde.

Jorge Mourinha

No comments: