Thursday, 31 January 2008

Cervejaria Edmundo

Avenida Gomes Pereira 1
1500-328 - Lisboa
Tel. 21 715 45 02
Servem até às 2:00

Tradicional Portuguesa, Marisqueira

Já teve os seus dias de glória, hoje não passa de uma vulgar cervejaria. Não me convenceu. O sítio é simples, como o serviço e a comida não me marcou. Talvez em dia de maior calor uma bela fresquinha faça esquecer as restantes faltas. É um bom sítio para grupos.

Comida

Não é marcante

Preço

16 Euros

Ambiente

Necessita de uma remodelação

Serviço

Simples

Trata-se de uma das mais célebres cervejaria de Lisboa, onde poderá optar tanto por carne como peixe grelhado.
Um espaço onde a cerveja é a bebida de eleição para acompanhar pratos de marisco ou carnes grelhadas.
O arroz de tamboril é de alto gabarito. Algumas especialidades: Açorda de Gambas e Arroz de Tamboril ; Naco na Pedra e Picanha no Espeto; Espetada de novilho; Ameijoas; Camarão; Navalheiras; Lagostins.


Localizacao:

Nosso menu:

  • Arroz de pato à antiga
  • Piano grelhado
  • Caipirinha

Outros links:

Wednesday, 30 January 2008

Os Tibetanos

Rua do Salitre 117
1250-198 - Lisboa
Tel. 21 314 20 38
Encerra aos sábados, domingos e feríados. Reserva aconselhável ao jantar.

Macrobiótica e Vegetariana

Um dos sítios onde apetece estar um pouco. A comida é do melhor no género e as sobremesas excelentes, as de chocolate, provávelmente das melhores da cidade. Desta vez ficámos muito mal sentados junto à cozinha, o serviço não foi nada especial e o prato do dia também não. Esperemos por melhor dia.

Comida

No género do melhor por aí

Preço

11 Euros

Ambiente

Lugares bem apertados

Serviço

Simples

Um conceito original. No primeiro andar funciona a escola budista. No rés do chão, está o restaurante. Quem gosta de comida vegetariana, não pode ignorar este local, verdadeiro templo de reflexão para o espírito e para o estômago.

Dentro do género, a oferta é variada e saborosa. À parte do trivial arroz integral, sempre se pode optar pelas sopas de cremes, couve flor "al presto" ou quiche de cogumelos. E não só, porque como é de mau tom comer de garganta seca, os aperitivos tibetanos e o saké quente também não foram esquecidos.

A decoração é muito simples, quase minimalista, mas muito agradável. São mesas e cadeiras pequeninas que dá a sensação de aconchego.
Fica junto ao Jardim Botânico e é, por diferentes razões, um oásis em plena cidade. As salas são perfumadas de incenso e decoradas com tecidos e imagens do Tibete. Há duas, de inevitável recolhimento, e uma esplanada, que só espera os favores do Sol. Gerida por seguidores do Dalai Lama, a casa dá a comer bife de seitan com natas e cogumelos, momos ao vapor ou fritos, filetes do quorn (várias espécies de micro-cogumelos), bife de tofu com queijo de cabra. Abra com a salada do dito, gratinado, e feche com uma viagem pelas irresistíveis sobremesas.


Localizacao:

Nosso menu:

  • Sopa
  • Chamuças e tostas de alho
  • Tarte de papaia e requeijão
  • Vinho tinto

Critica:
Com o Dalai Lama recentemente em Lisboa e a confusão na Birmânia, parece oportuno falar deles. MAs refiro-me ao restaurante.

Já não ia lá há muito tempo. É dos sítios a que nem todos querem ir, e há muito que não almoço sozinho, nem com tempo, nem naquela zona [e a bem dizer nem naquela cidade].

Os Tibetanos não me converteram ao budismo, mas fiquei certamente rendido à qualidade do restaurante no seu piso térreo e terraço da Rua do Salitre, em Lisboa.

Fui lá muitas vezes [várias vezes por semana até] entre 2oo4 e 2oo6. Dava-me jeito e a comida era 'óptima apesar de apenas com vegetais'.

Isto porque embora mais 'saudável', a comida vegetariana nem sempre é ultra-apetitosa. E muitas vezes enjoa, de tanto de comer as mesmas saladas ou o mesmo tofu.

O facto de não ser assim nos Tibetanos, deixou-me entusiasmado. E não só a mim, visto que está sempre, ou quase sempre, cheio.

A cozinha [coisa rara, mesmo que se pague muito por isso, nos restaurantes de hoje] é boa. Os produtos parecem bons [ou pelo menos não tão maus como a maioria dos restaurantes por aí, tirando carne e peixe] e a confecção é genial. Ninguém se lembra que está num vegetariano, e além de se olhar para o prato e se ver 'comida normal', tem óptimo aspecto e sabe maravilhosamente.

Esta santíssima trindade é completada pela simpatia do pessoal [que praticamente não mudou desde que comecei a ir lá] e pelo aconchego do espaço [apesar da recente obra, que detestei, de redução da sala de baixo, aumento da cozinha até ao pátio, e terríveis ruídos que daí vêm, a maçar quem quer sossego no pátio, mas felizmente sem as plantas que abrigavam pássaros nem sempre respeitadores dos comensais].

Gosto de praticamente tudo o que vem na ementa [coisa rara] embora os favoritos de sempre [e a sobremesa convém pedir logo ao chegar] sejam a salada terraço [enorme, incluindo frutas exóticas] e que desgraçadamente parece já não haver [talvez por levar uns 30 minutos a preparar] e a genial tarte de papaia com requeijão [de cair para o lado], que cheguei a pedir em dose dupla e a levar depois de um almoço, em pulgas pelo lanche. O segredo parece ser a base [quase parece feita de cereais mal moídos e não da habitual massa quebrada], a polpa de papaia, no ponto, e o requeijão, muito bem batido, cuja aparência, volume e consistência lembram o chantilly, mas o sabor não engana.

Não deixe de ir [e/ou voltar] aos Tibetanos, com a certeza de encontrar sempre algo de interessante na ementa, e de sair de lá em paz.

Pontos + : cortesia, qualidade da cozinha e apresentanção dos pratos e relação com o preço, ambiente simples, mas intimista.
Pontos a melhorar: WC, mobilidade [organização do espaço], meios de pagamento [não tem multibanco, embora admita que seja princípio da casa], velocidade do serviço, estacionamento, para quem tem a paciência de guiar, horário [fecha às 14h e às 21h, e não abre aos fins de semana]

por Lorenzetti
Outros links:

Saturday, 26 January 2008

Adega das Mercês

Travessa das Mercês 2
1200-269 - Lisboa
Tel. 21 342 44 92
Encerra aos domingos

Regional

Bom sítio para matar saudades da comida da avó. Serviço extremamente simpático num ambiente de bairro onde não faltam os clientes regulares. Para quem gosta, um dos cada vez mais raros sitios para comer uma boa cabidela.

Comida

Caseira

Preço

12 Euros

Ambiente

Uma sala típica do Bairro Alto

Serviço

Muito simpático

Casa simples e típica do Bairro Alto, com boa cozinha e preços acessíveis.
Comida portuguesa, num restaurante português com clientela portuguesa. Ementa estilo caderneta de clássicos (bom bacalhau frito com cebola e batatas às rodelas) e de infindáveis pratos do dia. Mesmo não vendo o mar, nem sequer o rio, arrisque pedir o peixe que é sempre fresco. Sem ar condicionado e com cerveja só de garrafa, opte pela mesa junto ao armário dos contadores e verá que o som da água a correr traz um feng shui inesperado.


Localizacao:

Nosso menu:

  • Queijo de azeitão
  • Sopa de feijão
  • Arroz de cabidela
  • Tinto da casa - Caves São Cristovão

Outros links:

Friday, 25 January 2008

Charcutaria Francesa

Rua Manuel Bernardes 5A
1200-250 - Lisboa
Tel. 91 758 82 81
Encerra aos Domingos e Segundas. Reserva aconselhável. Tem sala para grupos

Internacional

A meu ver numa das mais bonitas praças da cidade. Serviço personalizadao a acompanhar pratos únicos e saboros. Apetece ir, estar, apreciar e voltar.

Comida

Muito imaginativa e saborosa

Preço

€€

26 Euros

Ambiente

Da decoração ao bairro envolvente, muito bom.

Serviço

Atenciosa e dedicada

Junto à Praça das Flores, a Charcutaria Francesa aposta numa cozinha de fusão arrojada e irreverente, que combina a gastronomia tradicional com pratos de inspiração mediterrânica. Um espaço amplo e tranquilo, onde o branco predomina, a par com pequenos apontamentos decorativos que introduzem cores fortes.



Localizacao:

Nosso menu:

  • Cogumelos com natas e creme de ervilhas
  • Tagine de borrego com pêra rocha e couscous com amêndoa
  • Bacalhau no forno com farinheira e batata doce
  • Petit gateau
  • Tinto da casa

Critica:
Caixa de surpresas na Praça das Flores.
Catarina Sacramento

Só deve ir jantar à Charcutaria Francesa quem gosta de ser surpreendido. Porque ali nenhuma refeição é igual à anterior. Uma coisa é certa: da cozinha primorosa ao ambiente acolhedor, há motivos de sobra para voltar.

Na Charcutaria Francesa não há lista. Há alguns pratos que se repetem com regularidade, mas o que vai encontrar é sempre uma surpresa. E esse é, desde logo, um factor distintivo deste espaço. Como não há um menu para ler, Manuel Pessoa faz questão de ir a cada mesa explicar a todos os clientes quais os pratos que tem nesse dia e descrever com pormenor cada um deles. E isto porque sempre que vê um cliente satisfeito tem a sensação de missão cumprida.

O serviço cuidado e personalizado é uma das memórias que se leva deste espaço. Mas também o são o ambiente confortável, a decoração em vermelho e branco, as exposições que vai acolhendo e que contribuem para renovar o visual do espaço (no dia em que o visitámos havia grandes pássaros em origami pendurados pela sala) e os pratos criativos que aqui se provam. Aberto apenas ao jantar, só há duas formas de garantir que tem mesa, sobretudo ao fim-de-semana: ou reserva com antecedência ou chega bem cedo.

Um ponto importante a esclarecer: a Charcutaria Francesa não é nem uma charcutaria nem francesa. É um restaurante, que começou por funcionar na Rua D. Pedro V. O espaço só servia almoços, num regime de pronto-a-comer, e propuseram a Manuel Pessoa abrir à noite como restaurante. Ele, que vinha da área da decoração e não tinha experiência anterior neste domínio, abraçou o projecto sem hesitar. Todos os dias montava e desmontava tudo, “sentia-me um vendedor ambulante”, confessa.

A situação seria provisória, mas acabou por durar ainda quatro anos. Quando o espaço foi vendido, Manuel Pessoa encontrou aquele onde actualmente se encontra: em Dezembro de 2006 mudou para a pacata Praça das Flores (entre o Príncipe Real e São Bento), um dos raros locais de Lisboa que conserva o típico ambiente de bairro em pleno centro da cidade.

Que não se trata de uma charcutaria já não restam dúvidas. Já quanto ao tipo de cozinha que aqui se pratica, falta explicar que tem algumas influências francesas, é verdade, mas acima de tudo vai beber inspiração ao Mediterrâneo e aposta em sabores bem portugueses, combinados (e apresentados) de formas menos usuais. Exemplos disso são o Ossobuco com tagliatlelli de pesto; os Ravioli de alheira (feitos com massa fresca e depois fritos), com legumes no vapor e molho de alho francês com laranja; o Risotto de bochechas de bacalhau, o Ravioloni de trufa branca (vegetariano), o Entrecosto assado no forno com mel. Ou ainda outras variações: Bacalhau com farinheira, Lombos de linguado com banana, Polvo no forno com mel, coentros e alho.

Além destas propostas, um dos ex-líbris da casa – e aquele que provámos – foi o Confit de pato: este, sim, um prato francês, e que, do aspecto ao sabor, representa bem a dedicação que esta cozinha merece. É confeccionado durante várias horas e servido com molho de frutos silvestres, batatas em camadas e salada. Para acompanhar, uma sugestão vínica do Douro à altura (Ponte do Fumo, de 2001) e um leque de sobremesas residentes como uma deliciosa Tarte de pêra com gengibre, o famoso Petit gâteau de chocolate (ambos servidos com gelado de baunilha) ou Pudim de queijo fresco com frutos silvestres.

Porém, se for à procura de um restaurante para grupos, este não será o local mais apropriado. A elaboração dos pratos – que são sempre terminados na hora – não é compatível com mesas de mais de 10 pessoas, sob risco de comprometer a qualidade do serviço e também a atmosfera recatada do restaurante.

Foi a pensar nisso que Manuel Pessoa encontrou uma sala alternativa, no Príncipe Real, para eventos que reúnam maior número de pessoas e que abre, mediante marcação, sempre que se justifica. O menu é então adaptado ao modo buffet, mais versátil, e combinado previamente.

Na hora de pagar a conta, os preços não são exagerados: uma refeição (com entradas, vinho e sobremesa) ronda os 26 euros. O que inclui um bom serviço, num espaço bonito, com música ambiente, onde sabe bem estar. Além disso, é suficientemente moderno (na vontade de surpreender e inovar) e clássico (na sobriedade) para ser uma boa ponte entre gerações. Depois de um jantar a dois (ou entre amigos), repita a experiência com os seus pais. Nenhum deles ficará desiludido.

por lifeCooler

Conheci esta casa ainda ela se situava na rua D. Pedro V, ali ao Príncipe Real. A vida dá voltas e o dono do estabelecimento teve de fazer as malas e encontrar novo poiso para servir refeições. A mudança não trouxe grandes novidades, o que é bom e mau. O que é positivo espera-se que não mude. O que não se gosta espera-se que melhor. Todavia, o saldo é claramente positivo.
A nova casa continua bem arranjada e agradável aos olhos. No entanto, não é um espaço aperaltado ou formal. Está-se descontraído no sítio. O serviço é atencioso, educado, competente e simpático. Neste ponto, só há a notar como negativo a grande demora pelos pratos. Espera-se bastante entre entradinhas, mimos e a refeição, pelo que se deseja alguma paciência. Este é, aliás, o maior defeito da casa.
As entradinhas vão variando conforme os apetites do cozinheiro, tal como a ementa. Não é muito vulgar ouvir recitar muitos dos mesmos pratos. Ponto de ordem à mesa: recitar? Sim. Não há ementa escrita, mas dita. Já fui repetidamente a este local e há alguns pratos que se repetem, mas a cozinha renova-se. De positivo: a renovação e a imaginação das gentes da casa. Duvidoso: a ementa ditada, embora seja uma originalidade facilmente defensável.
A cozinha não é a tradicional portuguesa, embora também existam pratos da nossa tradição. Esta é mais de carácter internacional, com interpretações pessoais. Atrás dos tachos está gente competente, que desempenha sem espalhafato a sua função. Não posso enumerar tudo o que ali já comi das várias vezes em que entrei. Contudo, para que se tenha ideia do que se pode degustar cito as atracções das últimas refeições ali tidas: bacalhau com broa e entrecosto no forno com mel. Há sempre um mimo oferecido pela casa, um caldinho para aquecer o estômago. Nas sobremesas destaco o bolo de chocolate.
Para não variar muito, o vinho entorna-se um pouco nos preços. Contudo, esta não é das casas onde é maior a nódoa inflaccionista. Aliás, basta fugir aos vinhos e às regiões da moda e pode beber-se um vinho fácil e descomplicado a preço acessível. Por outro lado, a carta precisava, à última visita, de levar uma grande volta, facto que é da consciência do proprietário. Os vinhos são na sua maioria de gama média-baixa ou baixa, tanto tintos quanto brancos. A situação nos brancos é mais grave por a escolha ser muitíssimo limitada. Por exemplo, alguns pratos aguçam apetites mais altos, numa das últimas vezes pedi mexilhões à belga (julgo que era assim que se designava a iguaria) e lamentei a ausência dum chardonnay que os escoltasse. Já nas aguardentes velhas, os preços praticados são absolutamente aceitáveis e viáveis, havendo alguma variedade de escolha.
Tudo isto somado - couvert, entrada, prato, vinho, sobremesa e café - fica a refeição muito em conta, entre os 25 e os 30 euros. O preço mais do que aceitável é uma pérola. O local é civilizado e a lamentável espera pelo prato é mais do que desculpável ponderados todas as vantagens da casa. Absolutamente recomendável.

por João à mesa

Outros links:

Thursday, 24 January 2008

O Último Anel

de Kiril Yeskov
Saída de Emergência 2007

Gosto destes livros em que se mostra o outro lado do espelho. Neste livro, ao contrário da obra de Tolkien, não existe preto nem branco, tudo é muito cinzento. O bem e o mal andam de mão dada e os protagonistas normalmente assumem os papéis que outros escolhem por eles, a guerra do Anel com cheirinho a guerra fria. Serei sempre um fã de Tolkien mas não fiquei sentido por esta liberdade literária.

A Guerra do Anel terminou. Com mentiras e traições, os bárbaros supersticiosos da Aliança do Ocidente, ajudados por feiticeiros com intenções sinistras, conseguiram derrotar o povo orc, amante da paz, do progresso e das ciências. E agora começa a carnificina: aos vencidos aguarda-os o amargo regresso a casa, perseguidos por patrulhas de elfos que os querem eliminar. Falsamente acusados de canibalismo e crueldade, todas as desculpas são válidas para exterminar um orc, seja ele macho, fêmea ou até uma criança. Mas das cinzas da catástrofe pode extrair-se um resquício de esperança. Se a missão incumbida aos nossos protagonistas tiver êxito, talvez o sacrifício dos orcs não tenha sido em vão.
Kiril Yeskov mostra-nos o lado dos perdedores do mais famoso universo de fantasia, numa história brilhante, surpreendente e divertida, que já é um êxito internacional.
Yeskov recorre ao relato de um orc veterano logo após a derrota do seu exército perante a aliança de elfos e humanos. E conta-nos o outro lado da Guerra do Anel. É uma versão diferente porque se a História é escrita pelos vencedores, então quer dizer que há outra versão... a verdadeira História.

Kiril Yeskov nasceu na Rússia em 1956. É licenciado em Biologia pela Universidade de Moscovo e trabalha como investigador no Instituto de Paleontologia da Academia Russa de Ciências. É autor de quase uma centena de artigos e monografias sobre biogeografia histórica. Tendo participado em mais de trinta expedições zoológicas e geológicas à Sibéria, Ásia Central e Mongólia, considera que a sua experiência de contar histórias à volta de uma fogueira é provavelmente o fermento da sua actividade literária. Recebeu vários prémios no campo da literatura fantástica e a sua obra já se encontra publicada na Rússia, Polónia, Ucrânia, Bulgária, Israel, República Checa, Espanha e Portugal.

Crítica

É um conhecido aforismo dizer­-se que são os vencedores quem escreve a História. O que levanta sempre a questão de saber que outras histórias existem por de­trás da versão dos vencedores. Kiril Yeskov, autor russo traduzido pela primeira vez entre nós, explo­ra com entusiasmo a versão Ore dos acontecimentos imortalizados na trilogia "O Senhor dos Anéis".

A ideia, em si, não é nova, mas o li­vro, de 1999, antecipa em dois anos a célebre noveleta "Senator Bilbo", de Andy Duncan, cuja leitura seria um complemento ideal para este subversivo anel. Se Duncan nos narrava as negras consequências que advinham da vitória das "for­ças do bem" sobre Sauron, Yeskov obriga o leitor a identificar-se com Tserleg, um comandante Orc derrotado, dando-nos a conhecer uma perspectiva completamente inovadora e inesperada sobre a sua civilização (eminentemente pacífica e amante das artes e das ci­ências) e do pérfido ataque de que foram alvo por parte da maligna Aliança do Ocidente.

Yeskov, autor com formação cien­tífica na área da paleontologia, põe os seus conhecimentos ao serviço de um "world building" digno do "Dune", de Frank Her­bert, um palco apropriadamente credível para uma narrativa ao mesmo tempo curiosa e empol­gante. E desde logo que é mais fácil simpatizar com os Orcs de Yeskov do que com Bilbo e os seus amigos.

por João Seixas

Monday, 21 January 2008

Jogos de Poder

A realidade pode ser tão surpreendente como a ficção. Este filme é delicioso. Adorei o papel de Tom Hanks tão diferente do bom rapaz a que nos habituou, Hoffman uma personagem interessante, Julia Roberts só serviu para encher. A frase final do filme resume, na minha opinião, bem o paradoxo do espírito Americano, muita boa vontade e vai-se a ver no fim ...

Título original: Charlie Wilson's War
De: Mike Nichols
Com: Tom Hanks, Amy Adams, Julia Roberts, Philip Seymour Hoffman
Género: Dra
Classificação: M/12

EUA, 2007, Cores, 97 min. (IMDB)

Tom Hanks, Julia Roberts e Philip Seymour Hoffman protagonizam "Jogos de Poder", a extravagante história verídica de um congressista que gostava de viver bem, uma VIP de Houston que adorava boas causas e um agente da CIA que gostava de uma boa luta. Os três conspiraram para levar a cabo a maior operação secreta na História.
Charlie Wilson (Hanks), um congressista solteiro do Texas com um profundo sentido de patriotismo e compaixão pelos injustiçados, foca a sua atenção, nos anos 80, nas vítimas do Afeganistão, em pleno avanço da Rússia. Amiga de longa data de Charlie e sua amante ocasional, Joanne Herring (Roberts) é uma das mulheres mais ricas do Texas e uma fervorosa anti-comunista. Convicta que a resposta americana ao ataque está a ser insuficiente, Joanne convence Charlie a enviar armas para os guerrilheiros afegãos conseguirem erradicar os agressores soviéticos. O agente da CIA Gust Avrakotos (Hoffman) foi o aliado operacional de Charlie nesta missão que fez com que o fundo dos Estados Unidos para as operações secretas no Afeganistão aumentasse consideravelmente e o Exército Vermelho acabasse por abandonar o território.
in Público

Crítica:
No princípio era o Afeganistão

"Jogos de Poder" é mais um filme americano que não pode ser desligado do momento político, mesmo que, em substância narrativa, se reporte a acontecimentos dos anos 80. Mesmo que ou sobretudo porque? Sobretudo porque: o "raccord" não explicitado entre esses acontecimentos de 80 e a situação actual, não explicitado porque instauraria praticamente uma relação de causa e consequência que o filme se abstém de afirmar, funciona como principal "assombração" política de "Jogos de Poder", abrindo a porta para onde Nichols quer chegar. E toda a gente percebe que sítio é esse: tanto quanto podemos ler e saber, responsáveis da Administração Reagan já se esforçaram por contrariar as ligações que o filme permite - quer - que o espectador faça.

E não são, na verdade, novidade nenhuma. "Jogos de Poder" conta a história do congressista Charlie Wilson, um Democrata do Texas que, não obstante trabalhar com uma administração Republicana, foi o principal responsável pelo gradual aumento do apoio clandestino concedido pelos EUA (via organismos como a CIA) aos "mujahedeens" que, no Afeganistão, combateram a invasão soviética.

Numa coisa o filme é muito claro, eventualmente indiciando algum paralelismo com situações contemporâneas - a inexistência de planos sólidos para lidar com o tempo a seguir à vitória militar e estratégica. Ou mesmo, um total desinteresse: já no fim, Wilson tenta conseguir dinheiro para construir uma escola no Afeganistão e respondem-lhe algo como "os russos já se foram embora, que interesse tem uma escola no Afeganistão?". A ser verdade o que nos dizem - que Osama Bin Laden foi um dos "mujahedeen" pagos pelos EUA - as implicações de "Jogos de Poder" são evidentes e justificam o incómodo manifestado pelos antigos responsáveis reaganianos.

Então mas o crítico de cinema só fala de política? Bom, haja paciência, mas o filme é todo feito de política. Ou tudo o que nele é interessante. Não haverá grande erro de previsão em dizer que, no futuro, "Jogos de Poder" será lembrado essencialmente enquanto parte do reavivar, não importa quão fugaz, da chamada "tradição liberal" de 60 e 70 (Mike Nichols, de resto, é um realizador de "60 e 70"), principal contributo dos anos Bush para o cinema americano (e estas coisas estiveram sempre ligadas).

Independentemente das ideias, que são o que são (e sejam o que forem, são o mais significativo), o interesse de "Jogos de Poder" está na descrição dos processos políticos, burocráticos e operacionais, que fazem as coisas acontecer, e que Nichols narra sempre em tom desdramatizado, quase em registo de comédia - a visita de Wilson ao Presidente Zia do Paquistão ou a cena em que convence israelitas e egípcios a trabalharem em conjunto. Quando dramatiza e tenta furar o cinismo reinante sai-se pior - a "epifania" de Wilson no campo de refugiados afegãos soa tão falsa como os próprios refugiados ("multiplicados" pelo CGI, transformados em "efeito especial": as multidões na idade do digital nunca mais serão as mesmas).

Resta dizer que nada disto chega a ser muito entusiasmante, mas é bem sustentado pela mão segura de Nichols, desde sempre eficaz "ilustrador de temas", e um muito razoável director de actores (e praticamente todas as cenas funcionam com base na relação entre um par de actores). Tom Hanks, quase a contratipo no seu Wilson beberrão e mulherengo, refresca um pouco, poluindo-a, a enjoativa imagem de "homem comum" que escolheu envergar; e Philip Seymour Hoffman e Julia Roberts fazem o que podem para fingir que as suas personagens são um pouco mais para além de simples bonecos utilitários.

Luís Miguel Oliveira

Saturday, 19 January 2008

Terra

Rua da Palmeira 15 - Príncipe Real
1200-311 - Lisboa
Tel. 21 342 14 08
Nãio encerra. Possui esplanada. Difícil estacionamento.

Vegetaria, Vegan

Um oásis de paz no meio de Lisboa. A esplanada é um must num belo dia. A cozinha influênciada pela dieta mediterrânica agrada mesmo a quem seja um fã incondicional de carne, além disso a escolha é tão variada que não se torna monótona. As sobremesas são boas com gelados Vegan (estranho mas existe). Ao fim de semana e à noite é carote. De vez em quando sabe bem lá ir.

Comida

Buffet variado e boas sobremesas

Preço

€€

18 Euros

Ambiente

Esplanada recatada e muito agradável

Serviço

Simpático, ritmo lento

Restaurante vegetariano situado perto do Jardim do Príncipe Real, de ambiente muito agradável, onde se destaca uma aprazível e recatada esplanada interior. A maior parte das refeições são confeccionadas com ingredientes de agricultura biológica e apresenta sugestões vegetarianas de versões de sabores tradicionais portugueses, como a caldeirada ou o cozido.
Algumas sugestões: Seitã à Brás; Seitã à Gomes de Sá; "Lombo" de seitã no forno; Açorda de batata; Lasanhas vegetarianas; Almondêgas de soja; Saladas diversas; Sushi; Caril; Kebabs. Doces: Gelados artesanais vegan.
Existe uma pequena loja que vende artigos de artesanato de comércio justo, incenso, sabonetes artesanais, chás e vários tipos de snacks BIO. Não é permitido fumar em todo o restaurante. Apresentou em 2007 um novo conceito: o Wine Flights - que é a combinação de três ou quatro vinhos diferentes, servidos a copo, à mesma refeição, tendo como ponto de partida um denominador comum a cada um deles - uma determinada casta, um perfil específico, uma denominação de origem, o mesmo produtor ou o mesmo enólogo.


Localizacao:

Nosso menu:

  • Buffet Vegetariano
  • Encharcada laranja
  • Crumble maçã
  • Cerveja

Critica:
Um vegetariano mesmo para quem gosta de carne.
Paula Oliveira Silva 2005-01-04

Em Portugal, dizem os amantes de um bom naco de carne que não é o peixe que puxa a carroça. Mas os russos, com a sabedoria que lhes deve vir do frio contrapõem em provérbio que também não é o cavalo que a puxa... mas sim a aveia. E agora?


Hoje em dia, é perfeitamente possível um vegetariano viver sem restrições. Uma prova cabal do que afirmamos é o Restaurante Terra. Não serve carne nem peixe mas confecciona primorosamente vegetais, cereais e leguminosas, alimentos da terra.

Longe vão os tempos em que a cozinha vegetariana não tinha um sabor agradável por falta de condimentos ou de sabedoria do cozinheiro. Neste campo também o Terra é um bom exemplo com versões vegetarianas de sabores tradicionais. O seitan pode ser à Brás ou até à Gomes de Sá, a Açorda de Batata, as Almôndegas de Soja, a Caldeirada, o Cozido... Sugestões do buffet que variam diariamente, do almoço para o jantar mas que se preocupam com uma dieta saudável.

São cerca de 10 pratos quentes sem contar com a variedade de saladas e outras sugestões frias. Prova-se de tudo, mas repete-se apenas o que mais se gosta. Assim dá gosto.


Qualidade e frescura são duas premissas de sucesso. Os produtos confeccionados têm o selo da agricultura biológica. Não são só os vegetais, cereais, as leguminosas, o sal. É o caso do chá e café, dos refrigerantes, do vinho, do uísque e até do espumante. Na hora da decisão arrisque e aventure-se por paladares nada comuns como o sumo de gengibre com lima e especiarias. Caso tenha acertado no gosto não vai querer outra coisa.

O segredo é a esplanada recatada de acesso apenas pelo interior e que fica nas traseiras. Árvores à volta, uma fonte que deita água no seu breve murmurinho e a treliça de madeira a toda a volta a garantir a privacidade. Madeira de florestas controladas, nem outra coisa se poderia supor de quem se preocupa com o ambiente e só utiliza materiais reciclados e recicláveis.

Na pequena loja pode escolher ainda artigos de artesanato de comércio justo, incenso, chás, sabonetes artesanais. Coisas boas para nós e para a casa.


Este espaço que já serviu as necessidades de um bar é agora uma casa onde o tradicional português se sente nos móveis mandados fazer por encomenda. A decoração assinala a passagem dos proprietários, também eles vegetarianos, por outras cuturas.

Como cada qual marca o seu ritmo, pode ser que ainda haja espaço no estômago para um doce final e para uma tisana ayurvédica bem quente. Estamos em crer que depois de aqui vir espaço na memória também não lhe vai faltar para recomendar o sítio aos amigos. Ainda que gostem muito de carne.

por lifeCooler
Outros links:

Friday, 18 January 2008

Restô

Rua Costa do Castelo 7
1100-176 - Lisboa
Tel. 21 886 73 34
Reserva aconselhável. Não aceita cartões.

Cozinha internacional

Localização invejável. Vale bem a pena reservar uma mesa à janela. Possui um ambiente acolhedor com muito bom gosto e animação, por vezes são apresentados números dos artistas da colectividade. O serviço é assegurado em parte pelos próprios artistas o que pode levar a algumas situações menos formais mas sempre divertidas. A comida é saborosa e imaginativa. O único ponto negativo é o preço, nítidamente exagerado. O ambiente, neste caso, sai caro.

Comida

Imaginativa e muito saborosa

Preço

€€

26 Euros

Ambiente

Cheio de bom gosto. Uma das melhores vistas de Lisboa

Serviço

Simpatia internacional

O Chapitô é um projecto cultural, social e educativo que cruza a formação, a animação e a intervenção social através das Artes e do Espectáculo.Em termos de espaço, é um local fabuloso, junto às muralhas do Castelo de São Jorge, com vista sobre a cidade e o rio. O Restô do Chapitô é um restaurante criativo e diferente. Cozinha internacional variada e imaginativa. Algumas sugestões: Raia com molho de champanhe; Porco preto com molho de manga e malagueta.



Localizacao:

Nosso menu:

  • Portobellos gratinados
  • Cherne confitado com legumes salteados
  • Vinho verde

Critica:
Restô É um restaurante/bar integrado no pequeno espaço dedicado às artes e espectáculo em Lisboa que é o Chapitô. Tem uma pequena esplanada com muito bom ambiente na rua, onde servem refeições leves. O piso de baixo é um pouco barulhento e serve de restaurante com comida mais casual (grelhados).

A cereja no topo do bolo é a fracção do restaurante no primeiro piso do edifício, que oferece um ambiente extremamente acolhedor e recheado de bom gosto. E se tiverem a sorte de ficar com uma mesa à janela (não custa pedirem quando reservarem), ficam com uma vista explêndida sobre a Baixa e o Tejo.

A comida é requintada e saborosa e para a cozinha internacional/moderna em que se enquadra, até é recheada de boas surpresas. Os cocktails à entrada são excelentes.

É um bocado difícil estacionar para aquelas bandas, portanto convém deixar o carro na Rua da Madalena, no Rossio ou no Martim Moniz e apanhar um táxi. E convém também levar dinheiro, porque não aceitam cartões para pagamento. E reservar mesa, porque é assim a puxar para o pequenino e íntimo.

por no Prato com

Outros links:

Sunday, 13 January 2008

Retiro dos bons amigos

Rua Principal 49, Guisado
2500-633 - Salir de Matos
Tel. 26 287 71 35
Encerra às 4ª. Reserva aconselhável ao domingo

Regional Portuguesa

Comer bem, aliás, MUITO BEM, a um preço imbatível. As migas de broa foram uma bela surpresa bem como o bacalhau que além da qualidade era fartamente regado por um azeite excelente. Cuidado com as doses, a nossa chegou para 6 refeições. A sala é acolhedora com a grelha montada numa grande lareira que aquece o ambiente (no verão deverá ser demais). O serviço reflecte o excesso de clientela com alguma falta de cuidado pelo cliente, se bem que inocente e não intencional. Sítio para regressar sempre que a fome apertar.

Comida

Do melhor bacalhau que já comi.

Preço

12 Euros

Ambiente

A lareira no inverno é uma benção

Serviço

O ponto mais fraco da casa

A história desta casa começou nos anos 80 servindo apenas petiscos ao som do fado. A clientela começou a crescer e para tal foram acrescentadas mais duas salas, a chamada Ilha do Paraíso com ar condicionado. Quem toma conta dos destinos da casa é a filha do primeiro proprietário. A decoração é rústica e tosca. O primeiro proprietário e seu genro são aficcionados pela arte equestre, por isso há cartazes de touradas espalhados pelo restaurante e telhas pintadas com imagens destes animais bem como de ruas de Óbidos, ali perto.
Quem vem da A8 deve sair no nó da Tornada (início do troço norte com portagem) e entrar na EN8 (recta da Tornada) para então virar à direita em direcção a Alcobaça. Cerca de 400 metros depois, desviar à direita. Seguir sempre em frente (subindo a serra) cerca de dois quilómetros. Passa junto às instalações de um clube desportivo, vira na primeira à direita, seguindo sempre em frente até à aldeia do Guisado.


Localizacao:

Nosso menu:

  • Requeijão com doce de abóbora, pão quente
  • Bacalhau assado com batata nova, broa de milho em azeite, grelos de couve salteados e migas de broa.
  • Mexidos (migas com vinho do Porto e frutos secos)
  • Tinto da casa

Critica:
Casa de boa gente e mesa farta (Paula Oliveira Silva 2006-05-10)

Nas lembranças que trazemos de uma viagem não têm só lugar os lugares que fotografámos. Há sempre um cantinho especial para os sabores que provámos e as pessoas que conhecemos. É essa a sensação que se fica quando se vai ao Solar dos Amigos e Ilha do Paraíso, restaurante com nome amistoso, a poucos quilómetros das Caldas da Rainha.

Grelha ao lume

Lá para as bandas da Tornada, procurámos uma aldeia que ganhou nome de preparado de cozinha, o Guisado. Com um nome destes só se pode ir bem referenciado.

Assim que se chega pensa-se estar perante um café de aldeia, simples e humilde, mas só uma espreitadela para o interior do restaurante (o café fica na porta ao lado) pode deduzir outra leitura.

Como qualquer casa, o Solar dos Amigos tem a alma na sala que tem a "lareira". Um enorme braseiro, como que a dizer qual a especialidade do restaurante, (e não são os guisados), grelha carne e peixe, as estrelas da ementa.

O bacalhau e o novilho estão no topo da lista. Uma secção especial dedicada ao porco preto, onde não faltam os secretos e as plumas, apresenta propostas tão gostosas quanto o misto de carnes e a entremeada. Um churrasco à séria. E os preços são de amigo com as meias-doses (algumas a darem para duas pessoas) a começarem nos 10 euros.

O cozido à portuguesa e o cabrito são opções de peso mas apenas disponíveis aos sábados. O primeiro pode ainda ser degustado ao domingo.

No entanto, há algumas propostas que não passam pela grelha. As enguias fritas e o bacalhau à campino (cujo recheio é composto por feijão e couve recheando um pão caseiro) são dois casos.

Os que não têm medo de ficar sem apetite, pois as doses e meias-doses são aqui generosamente servidas, que experimentem as entradas. Uma das mais famosas é o requeijão com doce de abóbora. Não, não é sobremesa. Depois há também os enchidos de muitas variedades que passam pela grelha (morcela, linguiça, farinheira...)

Um rol de sobremesas caseiras dificulta a escolha. Há doces de ovo, de figo e nozes, de natas... Depois de tanta fartura, espaço no estômago só se for para um café e um "S", típico biscoito das Caldas da Rainha. E para uma jeropiga ou ginjinha de Óbidos, vá, ambas caseiras.

A acompanhar um vinho, pois. A carta demonstra um grande predomínio dos sumos alentejanos. As marcas são conhecidas e não há grandes surpresas, embora se encontrem alguns néctares de reserva.

Como tudo começou

Não são necessárias grandes voltas de imaginação para percebermos que tudo isto começou com uns petiscos servidos ao som do fado. Faz mais de 20 anos e este restaurante típico já alcançou a respeitabilidade de uma clientela fiel que percorre meio país para aqui vir comer.

A história conta-se em breves parágrafos. A procura foi crescendo e a casa “esticando” a ponto de se acrescentarem mais duas salas às iniciais, a chamada Ilha do Paraíso, onde se tratou de colocar ar condicionado.

Hoje é a filha do proprietário quem assegura os destinos da casa. Luísa Nunes é o seu nome.

Com uma decoração começada pelo pai e seguida pelo marido, já que os dois homens têm gostos iguais no que toca à arte equestre e tauromáquica, o que aqui se encontra tem tudo a ver com um estilo rústico.

Há objectos convertidos para outros usos. É o caso das telhas pintadas que emolduram as paredes (que também estão à venda), uma tradição de Óbidos, que afinal nem está assim tão longe. Aproveite e passe a manhã ou a tarde por lá.


por lifeCooler
Outros links:

Saturday, 12 January 2008

O Assassínio de Jesse James pelo Cobarde Robert Ford

Filme complexo e longo, quase tanto como o próprio título. Fotografia excelente e actuações assombrosas, especialmente de Casey Affleck que, qual ave de mau augúrio, ronda incessantemente Brad Pitt, um criminoso frio, convertido em estrela da época e em plena batalha interior com a pressão da sua própria lenda. O ano começa bem com este filme.

Título original: The Assassination of Jesse James by the Coward Robert Ford
De: Andrew Dominik
Com: Brad Pitt, Mary-Louise Parker, Brooklynn Proulx, Casey Affleck
Género: Dra, Wes
Classificação: M/12

EUA, 2007, Cores, 160 min. (IMDB)

Um dos mais famosos bandidos americanos, muitas histórias foram escritas sobre o lendário Jesse James (Brad Pitt). Em 1881, Jesse tem 34 anos. Enquanto planeia o seu próximo assalto, o bandido continua a fazer frente aos inimigos que cobiçam não só a recompensa pela sua captura mas também a glória de o terem vencido. Mas a maior ameaça pode estar no seio do seu grupo de aliados.
Jesse pode não passar de um criminoso para aqueles que roubou e para as famílias dos que assassinou, mas ao mesmo tempo o bandido é também alvo de admiração: uma espécie de "Robin dos Bosques" que assaltava bancos e proprietários dos caminhos-de-ferro que exploravam os pobres agricultores; um soldado injustiçado que se vingava de quem lhe tinha destruído a vida, um espírito livre. Entre os seus admiradores estava Robert Ford (Casey Affleck), um jovem que sonhava com o dia em que cavalgaria ao lado do seu ídolo.
Quem terá sido realmente Jesse James? E quem foi Robert Ford, este jovem que, com apenas 19 anos, se tornou no cobarde que alvejou Jesse pelas costas, abatendo a lenda que dez estados não tinham conseguido capturar. O que terá acontecido nas horas que antecederam o tiroteio? Será que algum dia se saberá toda a verdade?in Público

Crítica:
A autoridade reencontrada de Brad Pitt

"Este é um tipo de filme complexo, lento, que não tem nada a ver com a forma como se fazem filmes hoje - tem mais a ver com os grandes filmes dos anos 70", diz ao Ípsilon Brad Pitt, actor e produtor de "O Assassínio de Jesse James pelo Cobarde Robert Ford". Filmado em 2005, teve uma série de versões até estabilizar na versão definitiva de duas horas e quarenta minutos. "Na verdade", continua Brad, "eu gostava mesmo era da primeira versão, que tinha quatro horas. Mas os espectadores não iriam ter tolerância para ela...".

Ao longo de dois anos chegou a especular-se que "O Assassínio..." era um filme com problemas; que Pitt não reconhecia autoridade aos talentos do realizador Andrew Dominik; que nunca o filme veria a luz do dia. Mas viu, e o produtor ("Devo ter visto este filme mais vezes do que qualquer outro em toda a minha vida") está orgulhoso, e desmente qualquer braço de ferro entre ele o cineasta. Para todos os efeitos, então, imprima-se: "É um filme delicioso que precisou de pousar e respirar como um bom vinho. São assim as minhas histórias favoritas".

Antes de prosseguir, deve-se fazer ressaltar como Pitt aparece agora, aos 43 anos, mais à vontade na sua pele de vedeta e mais articulado na sua função de produtor. Como se tivesse encontrado uma direcção. Ele deixa entender que o facto de ser pai de quatro filhos tem alguma coisa a ver com o assunto: obriga-o a um maior exercício de concentração porque as janelas de trabalho estão abertas menos tempo. "Na verdade, tornei-me mais eficiente, isso satisfaz-me", reconhece. Angelina Jolie tem que ser chamada também para o caso: revelou o político Pitt que existe em Brad, ensinou-o a lidar com a imprensa, trouxe-o para causas humanitárias. (Foi ela que o disse: em casa só discutem quando discutem política.)

E assim, em Setembro de 2007, Brad Pitt deixou o Festival de Veneza com um certificado de garantia artística nas mãos (um prémio de interpretação). E, com o prestígio de "O Assassínio...", uma autoridade encontrada para as suas funções de produtor. "Meti-me na produção para poder fazer parte das histórias para as quais eu não seria indicado como actor. Meti-me nisso depois de ver como os projectos podem descarrilar e de pensar que talvez eu possa ajudar em algo, talvez possa dar algum apoio a realizadores com quem quero trabalhar. O nosso lema tem sido só grandes contadores de histórias e grandes histórias e isso tem sido muito compensador", diz o produtor de "Tróia", "Um Coração Poderoso" e dos futuros "Shantaram", de Mira Nair, com Johnny Depp (sobre a vida aventurosa de um heroinómano australiano, Gregory David Roberts) ou "The Time Traveler"s Wife", de Robert Schwentke, com Eric Bana.

Todo o homem mata aquilo que ama

Para já, a adaptação do romance de Ron Hansen, "O Assassínio de Jesse James pelo Cobarde Robert Ford", é o ponto alto dos feitos de Pitt como produtor (além do facto de o prémio de interpretação lhe ter trazido um reconhecimento que é sempre ambicionado, mesmo quando se é o exemplar masculino mais sexy à face da terra). A história segue os últimos sete meses, em 1882, da vida de Jesse James, quando já era puro mito, quando já era impossível distinguir entre o assassino brutal e frio, o Robin Hood americano (defensor dos pobres) ou a "casualty" da Guerra Civil Americana que vingava a sua frustração e derrota. Assaltado pela paranóia (ou pelo desejo?) de que alguém o queria matar, James (Pitt) entrega-se ao seu destino, ao traidor Robert Ford (Casey Affleck), um dos membros do seu "gang". Como Jesus se entregou a Judas - sim, a história tem contornos crísticos. Ou como uma história de fascínio e contornos homoeróticos: a um dado momento, no livro e no filme, James pergunta a Ford, que era corroído por uma obsessão pelo seu ídolo: "Queres ser como eu ou queres ser eu?" O que quer que fosse, Ford matou James e foi como se o tivesse para si. "Each man kills the things he loves", portanto. Ford teve os seus 15 minutos de fama, e a fama foi-lhe, por sua vez, fatal.

Muito se falou em Veneza, depois de se ver Pitt no filme, tão hierático, tão sacrificialmente à espera do tiro de misericórdia, como uma meditação elegíaca da estrela Pitt sobre a sua própria fama - toques de Terrence Malick aqui e ali, de Peckinpah ou do Michael Cimino de "Heaven"s Gate"... "Não quero ir por aí, nem acho que seja essa a questão principal, embora compreenda perfeitamente a sensação de Jesse James de ter gente atrás dele para o apanhar. No meu caso, felizmente, ninguém me aponta armas", ri-se. "No filme, Jesse James é apanhado, obviamente, pela sua própria celebridade. Era alguém cansado do seu próprio mito de fora da lei. Robert Ford mostra outro lado da celebridade, com o seu desejo cego de fama sem realmente compreender as consequências."

Pitt considera o filme mais um drama psicológico do que um "western" - aliás, como outros títulos dos anos 1970 que chegaram vestidos com a capa de "western", quando o "western" já fora declarado morto, mas que, no fundo, apenas aproveitavam o valor simbólico de território mítico para melhor libertarem os fantasmas americanos. Foi ele que escolheu Andrew Dominik como realizador, depois de ter visto "Chopper", com Eric Banna, outra história de um homem que é procurado. "Quando vi "Chopper" fiquei siderado. Andrew entende muito bem aquilo que se passa nas profundezas do ser humano que faz com que as pessoas se comportem da forma que se comportam e de forma que nem sempre faz sentido. E, através do longo processo que foi fazer este filme, ele manteve-se fiel à sua visão."

Dominik corroboraria as declarações de Pitt: aquele que foi assistente de Mallick em "O Novo Mundo" disse, numa entrevista ao "Washington Post", que lhe interessaram menos as regras do "western" do que "as relações das personagens consigo mesmas. James é um homem que quer morrer, por isso está interessado em coisas de outro mundo. Sabe que não vai acabar bem, por isso a questão é: "Como é que uma pessoa lida com isso?" E esse era o aspecto essencial da personagem em que eu estava interessado. E quanto a Robert Ford, ele é uma pessoa ferida que imagina: se fosse Jesse James isso seria um escudo protector. Ele passou pelo pior que se possa imaginar - estava numa situação em que tinha de matar alguém pela qual tinha sentimentos conflituosos, de amor e de ódio". Como "vender" um filme assim, que é um "western" mas não é um "western", porque são apenas os fantasmas do género; que é um duelo freudiano mas também se instala, e se deleita, numa espécie de suspensão elegíaca...? "A minha decisão de pegar num filme não é calculada em função do seu potencial sucesso." Quem fala assim é o produtor Pitt. "O sucesso, na verdade, é um jogo de sorte. Eu não vou por aí, eu vou pela história, por aquilo que ela me diz, e, mais importante do que isso, pelas pessoas que me rodeiam. Não penso sequer em chegar a um público mais alargado. Eu tenho a crença profunda que todos os bons filmes hão-de encontrar um tempo e um lugar, se não for no fim-de-semana de estreia há-de ser mais tarde. Foi isso o que aconteceu a alguns dos meus filmes favoritos que talvez se possam aproximar deste em termos de ritmo - "Pat Garret & Billy the Kid" [Sam Peckinpah], "A Noite Fez-se para Amar" [Robert Altman], "Dias do Paraíso" [Terrence Malick]. Descobri esses filmes 10 ou 20 anos depois de eles terem sido estreados. A minha preocupação principal é a qualidade. É tão simples quanto isso."

Helen Barlow

América é o "middle name" de Jesse James

É uma história elementar, esta: o bom mata o mau e, no final, já não sabemos se o bom é mesmo bom e se o mau era mesmo mau (mas sabemos que tínhamos de o matar, como temos de matar o pai, para podermos ser alguém na vida).

Ron Hansen, o autor de "O Assassínio de Jesse James pelo Cobarde Robert Ford" (edição Magnólia), prefere falar disto: do bem e do mal, nesta fase em que já não sabemos se o bom é Jesse James, o homem que encontramos no dia 7 de Setembro de 1881 sentado numa cadeira de baloiço a fumar um charuto e a planear um assalto enquanto a mulher limpa as mãos rosadas ao avental de algodão, e o mau é Bob Ford, o cobarde que o matou no dia 3 de Abril de 1882 porque não sabia se queria ser ele ou se queria ser como ele. Ron Hansen prefere falar disto do que alinhar em grandes teorias da conspiração sobre o regresso do "western" e sobre a sua permanência como paisagem, narrativa e referente moral de uma certa América mítica (o paraíso perdido tal como o "middle american" nunca o conheceu, a não ser dos filmes).

É o que lhe pedimos para fazer, quando lhe ligamos, depois do Natal, e ele atende: como escritor que frequenta o Velho Oeste americano (antes de "O Assassínio de Jesse James pelo Cobarde Robert Ford", que publicou em 1983 e 24 anos depois deu um filme realizado por Andrew Dominik e produzido/protagonizado por Brad Pitt, escreveu "Desperadoes", uma espécie de "whatever happened" ao gangue dos Dalton), como explica o eterno retorno do "western" à ficção (e quando dizemos ficção queremos dizer imaginário) americana? Ele tem uma resposta elementar, primeiro. Diz que o regresso do "western" tem a ver com o facto de o grande público perceber que esse é o território natural das boas histórias ("muito boas histórias, histórias mais elementares"), agora que se fartou dos filmes de terror e dos "blockbusters" de acção, e que "a paisagem é mais bonita no Oeste". Mas tem uma resposta menos elementar, depois, quando diz que, "periodicamente", não é do Oeste que falamos quando falamos do Oeste: "Os filmes que John Ford faz a seguir à Segunda Guerra Mundial não são histórias de índios e cowboys. São "westerns", de facto, mas são "westerns" em que o que está em causa é restaurar uma comunidade, reparar os danos, e em que o elemento do fora-da-lei é utilizado metaforicamente em representação da Alemanha nazi, por exemplo".

O "western", hoje, pelo Iraque?

Era aqui que queríamos chegar: ao "western" como metáfora da recomposição da América depois de situações-limite como a II Guerra Mundial, o Vietname e, agora, o Iraque. Há alguma coisa no "western" que garante que tudo está bem quando acaba bem (mesmo quando não sabemos se o fora-da-lei é bom ou mau, sabemos que, no final, o Oeste foi ganho), nessa luta entre a civilização e a selvajaria - e também há alguma coisa no "western" que garante que essa luta nunca vai acabar, por muitos comboios que cheguem e por muitos fora-da-lei (podem chamar-se Jesse James e podem chamar-se Liberty Valance: o "middle name" deles é sempre América) que sejam assassinados com um tiro nas costas.

Ron Hansen, dissemos, prefere falar do bem e do mal (é um "middle american" do Nebraska e é um escritor católico) do que discutir a política do "western", um tema que, admitimos, pode ser um bocadinho o sexo dos anjos. "Sinceramente, não sei se o Iraque tem alguma coisa a ver com o sucesso recente do "western", que de facto é um fenómeno televisivo importante. Acho que as pessoas estão a evitar o tema do Iraque - preferem olhar para um mundo que já não existe do que olhar para o mundo contemporâneo. Os filmes que lidam com o Iraque não têm sido bem-sucedidos. As pessoas estão cansadas, querem ver outra coisa. E o "western" pode bem ser o tipo de entretenimento - elementar - que elas procuram", supõe.

Ele sabe o que procura no Oeste: "Nasci no Nebraska, que tem muitos elementos do Velho Oeste, e os grandes espaços ao ar livre [o "great wide open" que também parece inscrito no ADN americano] sempre me atraíram muito. Na minha escrita, procuro sempre meios de as pessoas saírem para o ar livre. Não estou muito confortável fechado, dentro de casa, com as minhas personagens - a maioria das coisas acontece lá fora". Também gosta de cavalos e também gosta de História - e a conquista do Oeste é aquilo que na América mais se aproxima de um mito fundador (é um país que, para todos os efeitos, praticamente só tem Pré-História e História moderna), por isso Ron Hansen não sabe bem em que prateleira arrumar "O Assassínio de Jesse James pelo Cobarde Robert Ford". "Os "westerns" que escrevi são baseados em acontecimentos históricos e, portanto, também são romances históricos. São narrativas sobre pessoas reais que fizeram coisas reais - algumas bastante horríveis".

Nesse sentido, "O Assassínio de Jesse James pelo Cobarde Robert Ford" é toda a verdade sobre uma história muito contada, mas também muito mal contada. Há mais realidade do que ficção no romance de Hansen, uma realidade minuciosamente descrita e enumerada, como num relatório, diz ele: "80 por cento do que escrevi é realidade. Se há um assalto, é porque houve um assalto. Se alguém morre, é porque morreu - e a data da morte é a data correcta. É óbvio que os diálogos são inventados [então Jesse James nunca perguntou a Robert Ford "tu queres ser eu ou queres ser como eu?"], e muito do material sobre o Bob Ford também é inventado. É uma personalidade que continua subdocumentada, não se sabe sequer se chegou a participar nalgum assalto com o gangue de Jesse James".

Ron Hansen põe Robert Ford no local de um dos crimes, o assalto ao expresso dos caminhos-de-ferro Chicago and Alton. É aí, na página 18, que o escritor começa a construir uma relação entre Robert Ford, "um jovem rapaz com uma cartola cinzenta e um casaco preto largueirão", e Jesse James, um fora-da-lei com um "aspecto tão temível como o do Rei Henrique VIII".

O facto e a lenda

6673 resultados se fizermos uma pesquisa de livros sobre Jesse James na Amazon e Ron Hansen ainda achou que faltava dizer alguma coisa. E faltava. "Faltava perceber a relação de Jesse James com o seu assassino. Há muitos livros sobre Jesse James, de facto. Mas as histórias que se contam andam sobretudo à volta dos assaltos que ele planeou, dos crimes que cometeu, das pessoas que matou (17, tanto quanto se sabe) - e depois, vindo do nada, aparece o Bob, e o Bob é o cobarde que o mata, fim. Eu sabia que havia uma história mais complicada - tinha de haver arredores mais complexos. O Jesse James praticamente entregou-se aos irmãos Ford: ou queria matar-se e foi um gesto suicida ou queria emocionar a América. Para mim essa "rendição" é Jesse James a atirar a moeda ao ar, como se fosse a última oportunidade que lhes dava de o matarem antes que ele os matasse. Ele era um fora-da-lei, gostava da adrenalina, de se pôr assim nas mãos do destino".

Entre Jesse James - o facto - e Jesse James - a lenda (e aqui, definitivamente, o facto tornou-se lenda) -, Ron Hansen não imprimiu nenhum dos dois. "Inverti a lenda sobre Jesse James: a lenda de que ele era um Robin dos Bosques americano, um fora-da-lei que roubava aos ricos para dar aos pobres. Isso nunca foi verdade. Mas imprimi uma lenda sobre Robert Ford, ao recusar a teoria de que matou Jesse James porque tinha medo que Jesse James o matasse e ao refazê-lo como uma pessoa encurralada numa esquina, a reagir e a tentar viver com dignidade, apesar de toda a América o tratar como um cobarde. A recusa dele em pedir desculpa por ter assassinado Jesse James, a recusa dele em transformar-se na pessoa que a América queria que ele fosse, mataram-no", explica. É aí que o encontramos dez anos depois da morte de Jesse James e dias antes da sua própria morte: nessa nota de rodapé da História americana (que é, ainda hoje, uma história da violência): "A cada ano que passava, desde 1882, Bob estava mais longe da História, mas, ainda assim, menções a Robert Ford surgiam periodicamente nos jornais do Colorado e do Missouri, em reportagens enojadas, sugerindo que era uma pena que o cobarde ainda andasse por aí a pavonear-se, apesar das duas ou três notícias falsas que surgiam em cada mês e que davam conta de que tinham cortado a garganta ao assassino de Jesse James numa ruela de Oklahoma ou que ele tinha morrido de tuberculose ou de pneumonia e que o tinham enterrado na vala comum.

Nenhuma das notícias que ele lia tinha o cuidado de informar a data e o local do seu nascimento, quem eram os seus pais e como foi criado; nunca faziam referência à Escola Moore, a Blue Cut, à mercearia, ao seu acordo com o governo; aparentemente, bastava dizer que Bob Ford era o homem que assassinou Jesse James, como se toda a sua existência pudesse ser contida num único acto de perfídia. Ele tinha a noção de que nunca seria perdoado, de que ninguém faria discursos, aliás, provavelmente, ninguém apareceria, sequer, no seu funeral, os correspondentes não viajariam até Creede, o seu crânio não seria cirurgicamente aberto nem frenologicamente examinado, as fotografias do seu corpo mergulhado em gelo não seriam vendidas nas drogarias, as pessoas não invadiriam as ruas sob uma chuva intensa para assistirem ao cortejo fúnebre de Bob Ford, não seriam escritas biografias dele, ninguém daria o seu nome aos filhos, ninguém pagaria vinte e cinco cêntimos para visitar os quartos da casa onde ele cresceu. Ele já não tinha grandes aspirações, agora no Colorado, como tinha tido no Missouri, mas uma, pelo menos, tinha: a de que Robert Newton Ford ficasse na História como mais do que o autor de um disparo no dia 3 de Abril de 1882", escreve Ron Hansen a poucas páginas do fim.

Até este livro, e até este filme, Robert Ford nunca foi mais do que isso: conhecemo-lo por ser o assassino de Jesse James (antes de abrir um "saloon", no Colorado, ganhou a vida a posar para fotografias como "o homem que matou Jesse James" e fazer dele próprio em espectáculos populares que nunca tiveram grande sucesso), como conhecemos Mark Chapman por ser o assassino de John Lennon e como conhecemos Lee Harvey Oswald por ser o assassino de John Kennedy (e Jack Ruby por ser o assassino de Lee Harvey Oswald). "É mais ou menos a mesma história, vezes sem conta", concorda Ron Hansen. É a história de um cobarde, como Jack Ruby. E a história de um homem que mata "the thing he loves", como Mark Chapman. "O que aconteceu a Bob Ford é aquilo que acontece a muitas pessoas quando são jovens: associam-se a alguém que admiram e que acabam por emular, mas depois percebem que têm de se ver livres dessa referência, porque não há espaço para os dois, ou porque a grande referência se transformou numa grande desilusão.

É uma história muito familiar", argumenta. Não tem de argumentar: gosta de Robert Ford como gosta de Judas (e é diácono, numa diocese da Califórnia). "O Assassínio de Jesse James pelo Cobarde Robert Ford" é um "western" e é um romance histórico, mas também é uma reconstituição dessa traição original que vem na Bíblia (a Bíblia que Jesse James "abria sempre com grande alarido"), uma alegoria: "Sou católico, é verdade que usei esses elementos. O Jesse James era cristão, filho de um reverendo baptista, e isso dominava o vocabulário dele e a maneira como encarava a vida. Não queria tratá-lo como se trata um Messias, porque em quase todos os aspectos ele é exactamente o contrário, mas de facto Bob é uma espécie de Judas. Mais no sentido em que Judas também é uma personagem subdocumentada, vagamente referida em duas ou três passagens do Novo Testamento, e que mesmo assim toda a Humanidade trata como um traidor da pior espécie. No caso de Robert Ford, como no caso de Judas, não sabemos a história toda".

América, América

Uma história elementar em que os bons são maus e os maus são bons, precisamente, como nos melhores "westerns". Isso, e também um "statement" sobre o "star system" como cultura (e é tudo tão americano que até dói). Ron Hansen não quis ir atrás de Jesse James por estar fascinado com a personagem. Quis ir atrás de Jesse James por estar fascinado com o que acontece a uma figura quando ela se torna lendária, quando ela deixa de ser uma pessoa para passar a ser uma mitologia. "Tanto o meu romance como o filme tratam do que acontece quando mitificamos as pessoas, quando os elementos de idolatria entram na relação que um país tem com o seu mais famoso fora-da-lei. Escrevi-o como uma reflexão sobre a televisão, sobre a cultura das celebridades - e acho que foi isso que atraiu o Brad Pitt no livro. De tanto se escrever sobre ela, de tanto se falar sobre ela, parece que a pessoa real, a pessoa por trás do mito, deixa de existir", diz Hansen.

Que tipo de país escolhe um fora-da-lei como "local hero" é a questão que nós, os europeus, temos de colocar. Ele responde assim. "Os americanos tinham medo de Jesse James. Mas, quando ele morreu, passou a faltar alguma coisa na vida deles. Acho que há qualquer coisa nele que a América adora, como se adora uma "action figure" - uma "action figure" muito corajosa, como ele era de facto. Mas vejamos o Elvis, vejamos o James Dean, vejamos a Marilyn Monroe: esta é uma história peculiarmente americana sobre o que acontece a uma pessoa quando ela morre, e sobretudo quando ela morre cedo".

Talvez sejamos demasiado europeus para perceber os americanos que chamam Jesse aos filhos. Hansen é suficientemente americano para achar isso normal e anormal, ao mesmo tempo. "A mentalidade "cowboy" ainda é predominante na América. As pessoas podem nunca disparar a sua arma de fogo, mas têm orgulho em tê-la em casa. Conduzem as suas grandes carrinhas pelas cidades como se fossem tratar do gado. Ainda vivem como homens rudes e obrigados a vigiar a Fronteira e a marcar o território. E sou obrigado a dizer que sim, a violência ainda é um traço distintivo da América, mesmo nas cidades mais remotas. Não é surpreendente que o desporto mais popular nos EUA seja o desporto mais violento. A violência é muito reverenciada aqui".

Podemos olhar para a América dessa maneira ou doutra. "O Oeste é o melhor da América no sentido em que é um território em que tudo é possível, em que as pessoas podem reinventar-se. A América ainda é um país em que as pessoas podem recomeçar do zero, não sei se isso é possível na Europa - e a paisagem a céu aberto do Oeste, mais do que o Leste onde as pessoas se amontoam, é o sítio para isso. Não é por acaso que muitas pessoas se suicidam na Golden Gate Bridge, em São Francisco: chegar a São Francisco é chegar ao fim, chegar ao Oeste definitivo. As pessoas não aguentam a ideia de terem chegado até ali e de nada ter mudado na vida delas. O Oeste continua a ser a terra prometida. É o sítio onde o sol se põe - ir para Oeste também é seguir o sol". O sol ainda não se pôs, nem para a América nem para Jesse James ("Um produtor de Hollywood disse-me que nunca ninguém perdeu dinheiro com um filme sobre ele, e isso é parte do apelo"). Há séculos que andamos a tentar matá-los - mas, até agora, as notícias da morte deles têm sido bastante exageradas.

Inês Nadais

O homem que matou Jesse James

Já John Ford o mostrara nesse magistral "O Homem que Matou Liberty Valance" que, em 1962, pregara um dos primeiros pregos no suposto caixão do western: "quando a lenda é mais plausível que a verdade, escreva-se a lenda".

"O Assassínio de Jesse James pelo Cobarde Robert Ford" não é outra coisa que não a prova prática desse adágio, encenando a "verdadeira história" por trás da balada do assassínio do fora-da-lei Jesse James, à queima-roupa e pelas costas, pelo seu acólito Robert Ford. E a "verdadeira história" é muito mais complexa do que a lenda - e, por isso, muito menos atraente, mas muito mais americana. Porque o filme do neo-zelandês Andrew Dominik, por trás da sua fachada de western crepuscular atmosfericamente fotografado (tirese o chapéu a Roger Deakins), é uma espécie de radiografia do sonho americano, da sua necessidade de heróis e de vilões.

Uma desmontagem minuciosa dos mitos que explica como é que nascem os monstros ao mesmo tempo que propõe uma sardónica meditação sobre os efeitos da celebridade, reforçada pela presença de Brad Pitt no papel de Jesse James.

As Pittas vão ficar razoavelmente perplexas com o que é, na prática, um filme de autor - o que apenas sublinha a necessidade de louvarmos Pitt por ter interpretado e produzido um objecto tão radicalmente alheio ao "mainstream" americano contemporâneo. Ninguém confundiria "O Assassínio de Jesse James..." com um veículo pensado para lucrar milhões de dólares - embora haja evidentemente "água no bico" no risco calculado de Pitt, feito com um olho no prestígio de ter um filme sério no currículo.

O prémio de melhor actor em Veneza já ninguém lho tira, embora tenha claramente premiado mais o seu estatuto de facilitador do filme e o comentário irónico sobre o estrelato, quando devia ser Casey Affleck - o fã desencantado transformado em assassino - a ter sido premiado pela sua performance assombrosa.

É que o Jesse James de Pitt já não é um pistoleiro, mas sim uma espécie de divo mefistofélico que começou a acreditar na sua própria lenda e exibe os comportamentos típicos e mercuriais do astro que se convenceu que o mundo gira à sua volta. E o filme desenha a trajectória de um fã (voltamos a dizê-lo: Affleck é assombroso) que começa pela idolatria acrítica para lentamente compreender, à medida que penetra para lá da fachada, que o seu ídolo tem pés de barro e é um ser humano tão cheio de falhas como ele.

De certa maneira, essa trajectória é também um fenómeno de vampirização - Ford alimenta-se da "fraqueza" de Jesse para ganhar a sua própria força, com o objectivo último de se substituir a Jesse como a "next big thing", a próxima lenda viva do Oeste. Mas nessa trajectória ecoa também uma miríade de referências - aos assassinos infames da história americana (de John Wilkes Booth a Lee Harvey Oswald), aos "celebrity stalkers" que perseguem figuras públicas (de Mark Chapman, que matou John Lennon, a John Hinckley, que perseguiu Jodie Foster), aos "reality shows" e "paparazzi" que intrudem nas vidas privadas.

E a vampirização encerra o círculo quando Ford se substitui verdadeiramente a Jesse como uma espécie de reverso da moeda, compreendendo que a fama que tanto quis atingir é uma faca de dois gumes, respondendo à pergunta que Jesse lhe faz a certa altura (e que resume todo o programa do filme): "queres ser como eu ou queres ser eu?".

Dissemos acima e repetimos aqui: só aparentemente "O Assassínio de Jesse James..." é um western, renegando a acção em favor de uma suspensão letárgica e distendida do tempo narrativo. Mas mesmo nessa subversão o filme de Dominik é um sucessor digno dos westerns revisionistas dos anos 70, do "Duelo na Poeira" de Peckinpah (1973) ao "Duelo no Missouri" de Arthur Penn (1976), com essa estranheza a ser amplificada pela sensação de "filme fora de tempo" que tem, ao recusar a velocidade em nome de uma lentidão literária e atmosférica.

Também por isso, este é um objecto que vai certamente dividir opiniões, desagradar profundamente àqueles que vão à espera de um filme mais convencional ou de um western mais tradicionalista. O mal será deles: mesmo que "O Assassínio de Jesse James..." não seja um filme perfeito (e não é), é um dos grandes filmes americanos dos últimos anos.

Jorge Mourinha

Cabanas Bar

Fonte da Telha
Tel. 21 297 77 11
Esplanada durante o dia, discoteca de praia à noite

Tostas e saladas

Lugar excelente para apreciar um pouco de ar puro numa solarenga tarde de inverno, durante o verão pode ser muito confuso. Acompanhe uma bela tosta com um bom livro e não dará o tempo como perdido. Mais tarde na companhia de um fabuloso pôr do sol é tempo de preparar a noite que aqui é sempre muito animada.

Comida

Tostas

Preço

10 Euros

Ambiente

Boa esplanada, numa bela praia

Serviço

Quanto baste

Além dos DJs nacionais que animam este espaço, o Cabanas Bar tem, para o Verão de 2008, uma parceria com o Op Art Café (na Doca de Santo Amaro, em Lisboa), para receber muitos dos nomes internacionais que tomam conta dos pratos naquele bar à beira-rio, bem como várias festas mensais.



Localizacao:

Nosso menu:

  • Tosta de frango
  • Salada tropical
  • Sumo Papaia e Kiwi
  • Cerveja

Outros links:

Friday, 11 January 2008

Jardim da cerveja

Rua Frei Nicolau de Oliveira
2750-641 - Cascais
Tel. 21 484 07 60
Nunca encerra. Música ao vivo Quintas e Domingos


Cozinha Tradicional Alemã

Ambiente acolhedor, mesas corridas e uma cerveja de bradar aos céus, que mais se pode pedir para uma noite bem passada com amigos. O único ponto negativo é o preço absurdo da cerveja que nos faz ponderar a necessidade daquela terceira caneca.

Comida

Alta nota ao Einsbein e Haxe ... Excelente à Weissbeer

Preço

€€

25 Euros

Ambiente

Muito acolhedor.

Serviço

Manter a boa disposição do cliente é nota dominante

O Jardim da Cerveja ou Biergarten continua a ser um restaurante bar, muito agradável, que ainda mantém vivo, o carisma de muitos anos de existência, ambiente de convívio e por vezes de festa, que é agradável em qualquer época e ocasião. Restaurante situado perto da Boca do Inferno, onde a cerveja alemã tem especial destaque, serve a horas tardias especialidades culinárias da Alemanha.
Às quintas, há noite de fados e, aos domingos, noite de jazz.



Localizacao:

Nosso menu:

  • Eisbein mit sauerkraut und kartoffensalaten
  • Bratwurst
  • Apfellstrudel
  • Erdinger Weissbeer

Crítica:

Um dos ícones das noites de Cascais, nos anos 80, foi sem dúvida o Jardim da Cerveja (Biergarten). Quem não se lembra das grandes noites com os amigos à volta de uma mesa, bem recheada, e com uma fenomenal caneca de cerveja, antes de ir dar um pézinho de dança numa discoteca ali ao pé.

Ponto de encontro recatado, e privilegiado, para as pessoas da linha. Pois isso foram águas passadas, a casa caiu em declínio e transformou-se num restaurante barulhento e desconfortável.
Felizmente a casa conseguiu aguentar essa época difícil e, agora, está a recuperar o encanto e ambiente acolhedor que outrora a caracterizava.

Para quem não se lembra, ou não conhece, o restaurante Jardim da Cerveja tem o menu, que continua a ser o de sempre, as especialidades da cozinha Alemã em grande destaque.


Também a decoração, e a música nos ambiente nos transportam para uma típica casa de campo Alemã, feita em madeira e com mesas e bancos corridos bem pesados e feitos em madeira verdadeira.

Todos os pratos são confeccionados com requinte e podemos escolher, desde, a simples salsicha ao elaborado Hexen ou Haxe Bain.
Um ponto em comum a todos os pratos é o sauerkraut, um tipo de couve cozida, cortada muito fininha e temperada com vinagre, uma delícia.

A cerveja é sem dúvida o acompanhamento preferencial para a comida Alemã, pois nunca nos podemos esquecer que os Alemães são os maiores consumidores de cerveja e porque também estamos no Jardim da Cerveja.

Dentro de um ambiente de euforia de fim-de-semana é notório a vivacidade deste restaurante, na companhia de amigos ou mesmo familiar. O ambiente muito agradável e com um atendimento que se pode considerar excelente.
Há que realçar a amabilidade, prontidão e simpatia do Sr. Carlos, que constantemente tenta manter a boa disposição entre os clientes, tendo sempre uma atenção ou uma sugestão para com todos. O Sr. Carlos é sem dúvida uma peça fundamental e a Alma desta casa.
Outra iniciativa que a casa teve para recuperar o ambiente, foi ter música ao vivo às terças e quintas-feiras.

Tivemos a sorte de lá passar numa terça-feira para fazer um jantar rápido e acabamos por lá estar 3 horas, pois o cantor era bem disposto e conseguia ter uma selecção musical de acordo com os clientes que estavam na casa.
Há uma promoção nas noites de música ao vivo: o cliente pode cantar uma música e em troca da prova de compra de uma bebida.

Um dos lemas da casa é manter a boa disposição a noite toda, mesmo durante a semana, em que é mais calmo, o ambiente, a qualquer hora, e que se janta, calmamente, até às duas da manhã.
Como bar, se é que podemos dividir o espaço, há mesas ao pé do bar e um ecran grande para acompanhar os jogos de futebol na companhia de amigos.

Por fim não nos podemos esquecer da esplanada, no meio de um pinhal, onde se está muito bem nas noites quentes de Verão.
Já sabe, durante a semana, ou ao fim-de-semana, seja para jantar ou não. Será muito bem recebido nesta casa e com alegria e boa disposição contagiante.

Sem dúvida podemos recomendar como um bom Garfo.

por Aonde vamos comer


Outros links: