Sunday 25 May 2008

Galiza





Um fim-de-semana prolongado pelas rias da Galiza. Enseadas, praias de areia branca, ilhas e muita chuva.

Dia 1 (22-05-2008) 556 km(s), 28 litro(s), 92.8 km/h
Lisboa(PT) . Vila Nova Famalicão(PT) . Carril(ES) . Catoira(ES)

Feriado. Vamos aproveitar 4 dias de descanso para explorar as maravilhas das “Rias Bajas” na Galiza. Já faz algum tempo que tinha curiosidade em conhecer esta zona e desta vez é de vez.
O dia começou chuvoso. Um manto cinzento e opressivo debitava copiosamente litros e litros de água sobre a Auto-Estrada, como sempre acontece nestas ocasiões a moral fica muito por baixo e à medida que os kms rolavam a dúvida ia-se adensando … “Valerá a pena?” De dúvida em dúvida as horas foram passando e vontade de avançar aumentando, e eis que a hora de almoço é chegada, outra dúvida se levanta agora, onde almoçar? Demos finalmente uso a uma prenda de Natal, Guia das Tascas de Portugal, e escolhemos o Tanoeiro em Vila Nova de Famalicão. Já não sendo uma tasca, pelo menos na minha definição, mantém a tradição de bem servir e em quantidade, mas agora com toalhas de pano e empregados de lacinho. Poderia ter corrido melhor, os rojões eram demasiado gordurosos, não sou grande fã de tripa frita, perderam um dos nossos pedidos e só tivemos direito a meia dose de cabrito. Reanimados com o repasto prosseguimos viagem para norte. A chuva continuava de tal maneira que quase não demos pela entrada em Espanha. Eram cerca de 16h quando o dilúvio deu tréguas e chegámos ao nosso destino, Catoira, pequeno município na ria de Arosa. A principal atracção desta terra é a sua “Romaria Vikinga”, festa popular realizada junto às arruinadas “Torres de Oeste” e que simula um desembarque Viking, com pessoal vestido a rigor que se lança de uma réplica de um Drakar à conquista da fortaleza.
Mas naquele momento ainda pouco sabíamos sobre estes assuntos e estávamos mais preocupados em descobrir o nosso alojamento. A tarefa não foi difícil e rapidamente encontrámos uma vivenda rodeada de jardins numa pequena ruela. Não se parecia nada com a fotografia na Net o que nos preocupou. O alojamento propriamente dito situa-se nas traseiras. Os Migueliños, assim se chama o alojamento, significa “Pequeninos” e era uma clara alusão ao tamanho da casa e dos seus antigos habitantes. Três casas tradicionais foram recuperadas, fundidas numa só e agora oferecem ao todo 5 quartos. Na posse da família, à mais de 100 anos, foi recuperada com todo o cuidado respeitando a traça, os materiais e aproveitando espaços novos como os sótãos. Enquanto esperávamos na sala de entrada apreciámos a massiva lareira de pedra, antigamente a única fonte de calor da casa, e brincámos um pouco com o piano, infelizmente já não sei tocar nada mas gosto sempre de dedilhar sobre o teclado.
Apresentações feitas, foi-nos explicado o que havia na região bem como sugestões para jantar. Como ainda era cedo optámos por ir jantar a uma terra mais a sul chamada Carril.
Estacionámos e visitámos a pequena enseada utilizada para recolher as embarcações de pesca, o céu carregado ameaçava chuva e o vento cortante lembrava outras estações que não a primavera. O delicado equilíbrio meteorológico manteve-se e após umas fotografias e muitas ementas lidas decidimos que ali não era lugar para jantar, voltámos a Catoira e fomos a uma das sugestões iniciais a Taberna Vikinga. Este é um bar onde se vai picar ao fim de dia, aos fins-de-semana servem jantares mas durante a semana somente tapas. Decidimos fazer a refeição com Presunto, queijo, Polvo e pão e foi uma maravilha tudo estava 5* inclusive o jarro de verde Tinto que estava soberbo, acabámos uma bela Tarte de Santiago. Este sítio é excelente para tapas. O dia já ia longo, altura de dormir.
   O Tanoeiro 
   Carril 
   Taberna Vikinga 
   Los Miguelinos 


Dia 2 (23-05-2008) 183 km(s), 8 litro(s), 67.9 km/h
Isla de Arousa(ES) . Pontevedra(ES) . Combarro(ES) . Porto Novo(ES) . A Lanzada(ES) . Isla de la Toja(ES) . Cambados(ES) . Catoira(ES)

Depois de uma noite de chuva intensa que sem piedade fustigou a janela de sacada do nosso quarto, o dia amanheceu tímido. Ao pequeno-almoço conhecemos outra anfitriã. Esta irmã era um autentico furacão, muito bem disposta aproveitou a casa estar vazia para nos mostrar todos os quartos, o mobiliário antigo e literalmente nos obrigar a tirar fotografias a tudo e a todos.
Duas hipóteses se nos apresentavam para passarmos o dia, rumar a sul pela ria em direcção a Pontevedra ou avançar pelo norte em direcção ao atlântico. Optámos pela 1ª e uma vez mais rumámos a Carril, após esta terra cruzámos a imensa ponte em direcção à ilha de Arosa e fomos ver as vistas ao mirador local. Esta ilha situado no meio da ria a que dá o nome era essencialmente local de mariscadores e pescadores como atestam as centenas de plataformas de mexilhão que a rodeiam, com o passar dos tempos o turismo foi marcando a sua presença. Nesta altura o mau tempo abateu-se sobre nós e uma chuva forte começou a cair. Com este tempo pouco podíamos fazer por aqui e decidimos aproveitar para ir até Pontevedra na esperança que a chuva amainasse no entretanto o que se veio a verificar.
Em Pontevedra percorremos as ruas pedonais do centro, é uma cidade com algum tamanho mas ainda mantém um centro histórico muito bonito e arranjado apesar de não ter nenhum monumento de renome. Aproveitámos as nesgas de sol para apreciar as grandes mansões as curiosas portadas de 1º andar de tamanho inteiro sem protecção directamente para o exterior as grandes magnólias nos jardins. Para almoçar procurámos a Alqueria Mudéjar, local recomendado pelos nossos anfitriões, muito concorrido ao almoço fomos preteridos e colocados numa mesa muito pequena, a comida não foi grande coisa e o serviço leeeeeeeento, não comi mal mas numa próxima oportunidade procuro outro sítio.
O céu já apresentava grandes rasgos azuis, estava na altura de ir à descoberta das “Rias Bajas”. As “Rias Bajas” são profundos braços de mar que preenchem a costa Espanhola desde o cabo Finisterra até à fronteira Portuguesa, extremamente recortadas oferecem pequenas enseadas e belos portos naturais tudo rodeado de um verde intenso que preenche as falésias, infelizmente a pressão imobiliária começa-se a fazer sentir e lotes de condomínios novos, muitos deles com pouca preocupação de inserção na paisagem, aparecem por todo o lado. Parámos numa pequena aldeia piscatória Combarro, conhecida pela profusão de espigueiros de pedra junto ao mar, muito pitoresco mas já pouco autêntico. Continuando ao longo da costa passámos por San Xenxo, Portonovo e parámos um pouco na ermida da nossa senhora de Lanzada numa pequena península que se projecta para o atlântico profundo. Daqui a paragem lógica seguinte é a ilha da Toxa, mais uma ilha ligada por uma ponte, é utilizada unicamente como resort de férias e termal, contém um SPA rodeado por jardins e uma curiosa igreja completamente coberta por conchas de vieira. Prestando atenção um pouco às vivendas que preenchem a ilha compreende-se que este foi sempre um lugar para a elite qual condomínio fechado insular. O dia já declinava e ainda queríamos visitar Cambados conhecida pelas suas adegas de Albariño e aproveitámos para jantar por lá e experimentar "in loco" tão famoso produto. Optámos por um pequeno restaurante que apresentava um bom menu, comemos uma paella decente, apesar de não ser local para isso, e degustámos bem fresco o vinho local. Polémicas à parte, de se o nosso é melhor que o deles (o que talvez seja verdade), este em particular não era grande coisa.
   Isla de Arousa 
   Pontevedra 
   Alqueria Mudejar 
   Combarro 
   Playa Bascuas 
   Ermida de la Lanzada 
   Isla de la Toja 
   O Pote 
   Los Miguelinos 


Dia 3 (24-05-2008) 183 km(s), 9 litro(s), 60.4 km/h
Catoira(ES) . Corrubedo(ES) . Noia(ES) . Padrón(ES) . Isla de Arousa(ES) . Carril(ES)

Mais um dia. Como o dia anterior foi dedicado ao sul, hoje restava-nos o norte. O plano inclua uma ida ao mirador de la Curota ponto onde em dias claros se avistam 3 rias diferentes. Para começar fomos ver as Torres de Oeste (aka Torres Vikinga), ruínas de uma fortaleza mandada construír por Afonso III para deter as incursões dos piratas nórdicos pela ria acima e particularmente a Padrón (a terra dos famosos pimentos). O acesso a estas ruínas junto à agua faz-se através de um passadiço de madeira sobre os sapais o que constitui um passeio muito agradável, infelizmente mesmo junto às Torres foi construído um enorme viaduto para cruzar a ria neste ponto de estreitamento, o que arruinou completamente a envolvente paisagística do local. À volta dos restos da Torres (duas e também uma igreja) foi montado uma espécie de forte de madeira onde todos os anos é realizada, a já indicada, “Romaria Vikinga”. É neste local onde após a simulação do desembarque se realizam os festejos e o arraial. Ali ao lado ancorado placidamente a réplica do Drakar, navio de guerra viking, construído de propósito para a realização dos festejos. Enquanto víamos isto a chuva começou a cair e tivemos que abandonar o local sob uma violenta borrasca. Encharcados até aos ossos chegamos ao carro e seguimos caminho. Com o tecto de nuvens tão baixo e com tempo que se fazia sentir não valia a pena o desvio ao mirador, em vez disso seguimos até à zona natural das dunas Olveira y lagunas de Carregal e Vixán. Após alguns minutos através de um passadiço pode-se apreciar a maior duna móvel do noroeste peninsular. Com 1,2 km de extensão e 15m de altura é agora uma sombra do que foi em tempos tendo chegado a atingir 80m de altura, a extracção de areias só terminou aqui na década de 90. Além desta o parque oferece 1000 ha de zonas dunares e alagadiças bem como 5km de costa com vários trilhos definidos. Alguns kms mais à frente fica o farol de Corrubedo no cabo com o mesmo nome. A junção do mar, rocha e o pesado céu criou uma luminosidade e um ambiente engraçados, boas fotos por aqui. O passeio prosseguiu para norte em direcção à ria de Noia. O caminho é do mais bonito que há mas o tempo constantemente chuvosa nada fez para apreciarmos convenientemente. Chegados a Noia, almoçamos, o nome do local já me passou e a refeição não me marcou em nada, só me lembro que era uma espécie de cave acedida por uma arcada de pedra e que o ambiente era bastante escuro. À tarde fomos visitar Padrón, dos famosos pimentos somente uma estátua alusiva às vendedoras. Padrón deve o seu nome à pedra, agora altar, onde reza a lenda, foi amarrado o barco que trouxe o corpo de São Tiago, esta pedra, qual ancora, era chamada de padrón. Na terra pouco há para ver, um rio ladeado de plátanos, algumas estátuas, a igreja (tinha um casamento) e muitos patos, o rio está pejado de patos, de todos os formatos e feitios, pequenos e grandes, bonitos e feios, há para todos os gostos.
O tempo finalmente dava sinais de melhoria e aproveitámos para voltar à ilha de Arosa até à ponta à zona de Carreirón no sul da ilha. Aqui fica uma zona de percursos nos pinhais que dão acesso a várias enseadas e praias. Zona muito aprazível, as primeiras horas de céu limpo dos últimos dias davam-lhe um encanto especial. Atravessámos os pinhais até à punta Arnelas no extremo sul, do outro lado a ilha da Toxa onde tínhamos estado no dia anterior, de regresso ao carro percorremos a enseada da praia de Xastélas com os seu areal branco e águas translúcidas. A luz do final da tarde deu um encanto especial a esta zona, já bonita por natureza.
Para jantar voltámos à taberna Vikinga, desta vez para um jantar mais completo. Comemos caldeirada e bacalhau, neste aspecto estamos muitos pontos à frente dos galegos. A comida é boa mas na minha opinião o molho de pimentão não traz mais valia alguma ao peixe. Como estava a decorrer a final do concurso Eurovisão da canção, ficámos até ao fim numa alegre disputa com os restantes convivas, nós a puxar pela srª do mar e eles a vibrar com o tique tique. Tudo muito alegre e saudável até porque o verdadeiro vencedor já ia com centenas de pontos de avanço, no fim Portugal lá ficou à frente dos Espanhóis. Apesar da “derrota humilhante”, toda a gente concordou que para os vizinhos Portugueses até não se importavam de perder, já que ficaram à frente dos Franceses. Foi muito divertido, estava longe de dedicar tempo a ver a Eurovisão mas passou-se bem o tempo.
   Torres Viking 
   Taberna Vikinga 
   Los Miguelinos 
   Duna Movel de Corrubedo 
   Farol Corrubedo 
   Meson Senra 
   Padrón 
   Playa de Xastélas 


Dia 4 (25-05-2008) 639 km(s), 32 litro(s), 69.5 km/h
Pobral de Camiñal(ES) . Ponte de Lima(PT) . Lisboa(PT)

É chegado o dia de regresso. O dia estava bonito, em vez de voltar imediatamente, aproveitámos para ir ao mirador da Curota. Realmente a vista é soberba se bem que não era dos dias mais límpidos. Tomámos café no topo e depois demos uma volta pelo alto do planalto. Também aqui, como em Portugal, se notam as cicatrizes dos incêndios que infelizmente vão devastando as zonas verdes. A paisagem está em recuperação e entre os pinhais meio enegrecidos uma manada de cavalos pastava calmamente. Uma neblina começava a formar-se indicando que estava na altura de arrepiar caminho. A caminho da Autovia cruzámo-nos com os preparativos para a procissão de corpo de deus que seria realizada à tarde um pouco por toda a Galiza, as ruas foram enfeitadas com flores, cadeiras e bancos estrategicamente colocados ao longo do percurso a marcar lugar e as melhores mantas e toalhas expostas numa autêntica disputa de status entre vizinhos.
O regresso a Lisboa nada teve a indicar, à excepção de uma paragem no restaurante Açude em Ponte de Lima. O almoço foi muito bom, restaurante confortável com uma bela vista. Quando chegámos uma miúda tinha-se trancado por acidente na casa de banho e estava um autêntico alvoroço para tentar libertá-la, nada me tira da ideia que mais stressadas estavam todas as mulheres que não podiam ir à casa de banho do que a rapariga lá dentro. Depois da almoçarada, bela posta Mirandesa finalizada com pudim do Prior, que rivaliza com o abade de Priscos em potência calórica, enfrentámos a estrada e poucas horas depois … Casa.
   Mirador de la Curota 
   Açude 




4 dias de 22-05-2008 a 25-05-2008
1560.4 kms (390 /dia)
76.4 litros (19 /dia) 4.9 aos 100
69.5 km/h (22 h)
 
    Praia Xastélas, Ilha Arosa
    Cabo de Corrubedo
    Mirador de la Curota
    Tapas na Taberna Vikinga
    Chuva


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