Thursday 1 May 2008

Andaluzia



Uma semana pelo sul de Espanha a explorar um pouco da Andaluzia. Principais objectivos Cádiz e El Torcal de Antequera. O tempo esteve perfeito.

Dia 1 (24-04-2008) 330 km(s), 27 litro(s), 97.3 km/h
Lisboa(PT) . Tavira(PT) . Manta rota (PT)

Partimos de Lisboa às 18:00, o plano era jantar em Tavira mas no 1º km da Vasco da Gama o trânsito parou. Dois acidentes em cadeia separados por algumas centenas de metros provocaram um atraso de 45 minutos que por momentos nos levou a ponderar se conseguiríamos cumprir o plano estabelecido. Decidimos arriscar. A viagem decorreu sem incidentes, um belo por de sol, um Alentejo verde das últimas chuvadas os campos em flor, a A2 é sem dúvida, nesta altura do ano, uma das mais belas auto-estradas que conheço.
Eram 21:30 quando finalmente chegámos ao lugar das 4 águas onde uns filetes de polvo nos esperavam. O 4 Águas é um dos nossos restaurantes de eleição na zona com boa comida e pouca confusão, predicados cada vez mais raros no nosso Algarve.
Retemperadas as forças, já poucos kms nos separavam de Manta Rota onde íamos pernoitar na Estalagem Oásis. Não é fácil dar com ela, principalmente à noite, mas uma ou duas inversões de marcha depois lá chegámos ao destino. Do parque de estacionamento não parece nada promissor, escuro e com ar de subúrbio Algarvio, mais um hino à arquitectura dos 70's. O interior é antiquado, sem ainda ter o charme da idade, no entanto é confortável, calmo, acolhedor e os quartos generosos em tamanho. Ainda deu para ver um especial 25 Abril e é tempo de dormir.
   4 Águas 
   Estalagem Oásis 


Dia 2 (25-04-2008) 366 km(s), 30 litro(s), 89.2 km/h
Manta rota (PT) . Molina del rio(ES) . Porto de Santa Maria(ES) . Vejer de la Frontera(ES)

Viva a Liberdade, via o 25 de Abril.
O dia começou radioso, a vista da varanda revela o que a noite tinha escondido, uma piscina com jardins bem cuidados na 1ª linha de praia paredes-meias com as dunas, para lá destas o profundo azul do mar. O hotel é velhote mas está numa posição privilegiada e como não existem outras instalações hoteleiras na zona oferece uma praia praticamente deserta. O pequeno-almoço é uma desilusão, pouca oferta, sumos e café de máquina. Antes de sairmos percorremos os 200 metros de passadiço sobre as dunas até à praia da Lota.
O dia era de viagem e lá fomos para terras de “nuestros hermanos”. Na via rápida em Ayamonte mais um ponto alto da viagem, gasolina a 1,08€, coisa já tão rara como paisagens sem antenas ou Gorilas da montanha. Ao chegarmos a Sevilla as Vias rápidas estavam completamente cheias e o caminho para Cádiz entupidíssimo, altura para por à prova o GPS, virando pela margem esquerda do Guadalquivir avançamos até Coria del Rio onde um ferry estilo batelão nos ajudou a cruzar o rio lamacento. Do outro lado através de imensas plantações lá chegámos à Autovia, nesta zona já sem trânsito. Para Sul.
A paragem às portas de Sevilla limitou em muito os nossos planos que incluíam visitar Sanlucar de Barrameda, uma das portas de entrada do Parque Natural de Doñana, optámos por avançar mais para Cádiz e fomos parar um pouco em Puerto de Santa Maria, terra associada às viagens Cristóvão Colombo e lugar de origem do primeiro mapa conhecido das Américas. Terra sonolenta, como é da praxe em Espanha às 16:00 não se via vivalma. Picámos uns montaditos bem razoáveis.
Mais uns kms e a nossa base dos próximos dias estava à vista. Vejer de la Frontera um clássico pueblo blanco alcantilado numa falésia com vista para o mar, naquele ponto a uma dezena de kms. As casas, todas de inspiração árabe, são caiadas e com terraços, as ruas empedradas e estreitas o aspecto geral de uma grande construção de blocos de lego brancos. O nosso alojamento, a Casa Cinco, fica numa rua pedonal da zona mais antiga da cidade, uma vez que os parques de estacionamento são todos fora dos limites da zona histórica isto obrigou a uma divertida excursão de 30 minutos a arrastar malas pelas belas, empedradas e muitas vezes ensolaradas ruelas da terra.
A casa Cinco é uma casa de origem moçarabe, quase sem janelas para o exterior e voltada para o seu pátio de onde emana toda a vida da casa. Reconstruída por um casal de ingleses que decidiu viver em paragens mais amenas dispõe de 5 quartos, cada um subordinado ao tema de um dos sentidos, nós ficámos no “Touch”. A decoração é baseada no reaproveitamento género rústico chique e pode não ser a gosto de todos, especialmente as casas de banho abertas para o quarto. O nosso quarto era muito espaçoso e luminoso e cheio de texturas como o nome indicava. Além da zona de refeições a casa proporciona uma sala de estar confortável cheia de livros e revistas e um terraço equipado com espreguiçadeiras e chuveiro para refrescar. A vista daqui é excelente e lá muito longe para lá do mar uma mancha escura deixava antever África.
Após a apresentação da casa pela nossa anfitriã Colette Bardel, que fez um imenso, e divertido, esforço para falar em castelhano connosco, partimos em exploração da terra já munidos das indicações necessárias para jantar. A zona histórica é muito pequena e rapidamente se vê, a Igreja onde claramente de percebe duas construções distintas, as antigas muralhas árabes com as suas portas, as ruelas, os arcos, o castelo onde um grupo praticava uma aula de Flamenco, as crianças a tentar vender mezinhas de boa sorte e a praça de Espanha com belas palmeiras e a sua fonte colorida com sapos de louça de gosto duvidoso. Foi nesta praça que decidimos jantar no restaurante Trafalgar. Estava na época do atum fresco, apanhado nas armadilhas tradicionais na costa, aproveitámos para provar esta iguaria, em bifes com frutos secos e guisado com legumes. Delícia. Este restaurante é provavelmente o mais caro da terra, os pratos são agradáveis, o serviço é muito simpático, eleito um dos restaurantes mais inovadores da região, junta tradição à inovação, vale pena a visita.
   Praia da Lota 
   Ferry Guadalquivir 
   Cannita del Sur 
   Casco Antiguo de Vejer 
   Trafalgar 
   Casa cinco 


Dia 3 (26-04-2008) 154 km(s), 11 litro(s), 79.3 km/h
Cádiz(ES) . El Palmar(ES) . Cabo Trafalgar(ES) . Vejer de la Frontera(ES)

O dia começou bem com um excelente pequeno-almoço. Para além das tradicionais tostadas com manteiga, doce, mel e azeite fomos brindados com sumo de laranja natural, doces típicos de amêndoa, iogurte natural com fruta fresca e mel e ovos caseiros mexidos. Tudo isto acompanhado de uma musica ambiente agradável.
Objectivo do dia, Cádiz. Devido à sua localização, um istmo numa enorme enseada, sempre foi um ponto privilegiado de comércio. Cidade antiga remonta aos primeiros entrepostos dos fenícios, cresceu com os romanos, para depois se eclipsar até ao séc. XVI onde o comércio com as Américas revitalizou a cidade. Foi saqueada por Francis Drake e afrontou Napoleão ao proclamar a 1ª constituição Espanhola em desafio às ameaças de invasão. A cidade é típica do sul em muito similar a outras do norte de África, ruas estreitas e sombrias que desembocam em pequenas praças arborizadas, casario com aspecto delapidado, milhares de terraços com diversos aproveitamentos e muitas antenas de televisão. A dominar toda a terra a imensa Catedral com a sua cúpula amarela. Após percorremos os 8 kms de avenida de acesso à zona antiga começamos por visitar as ruínas do teatro romano. De seguida fomos ver a Catedral mesmo ali ao lado, de caminho uma visão divertida, um casal todo aprumado dirigiam-se a um casamento montados numa scooter. Na praça da catedral é possível apreciar a construção do templo em 2 pedras distintas, o plano original era construir a igreja inteiramente de mármore branco visível na parte inferior, no entanto problemas financeiros levaram à substituição por pedra caliça, muito mais barata. A pedra caliça sofre com a erosão, o que leva à queda constante de fragmentos do tecto sendo necessário o uso de redes de protecção no seu interior. Quem queira pode subir à torre dos sinos para uma vista soberba de 360º sobre a cidade. No topo mais provas do desgaste com muros de protecção completamente recortados.
Mesmo ao lado da catedral o núcleo arqueológico da casa do arcebispo apresenta uma interessante exposição existindo no mesmo local de escavação vestígios de todas as épocas de ocupação da cidade, Fenícia, Romana, Árabe, Idade Média.
O estômago já pedia alimento e parámos numa esplanada duma pequena praça a trincar mais uns montaditos de Jamón. Realizava-se um casamento na igreja da esquina o que aumentou os motivos de interesse na praça, muito moço de asas de grilo e senhoras com autênticos abajures.
Para fugir ao calor da tarde, fomos visitar o museu da cidade com mais uma exposição arqueológica e de artista da cidade. No último andar uma exposição dedicada aos quase extintos teatros de marionetas que há alguns anos cumpriam as vezes na região dos cinemas que ainda não existiam. À saída do outro lado da praça uma fila esperava à frente de uma gelataria, isto só pode significar qualidade, o que se verificou.
No extremo da península visitamos o Jardim do Genovês, jardim dedicado a Cristóvão Colombo, muito bem arranjado e com espécimes de Dragoeiros (Dracaena Draco) de proporções gigantescas.
A visita à cidade terminou com um passeio pelo balneário da La Caleta, a praia de eleição dos locais com o seu clássico pavilhão de apoio estilo Belle Époque relembrando outros tempos. Ao longe ligado por um istmo o forte de Santa Catarina domina a entrada norte da baía. O calor apertava, o AC do carro chamava, estava na hora de partir.
A caminho de Vejer decidimos experimentar as praias locais. Elegemos a praia de El Palmar, muito famosa pela comunidade surf local. Para um português habituado a praia, esta foi uma desilusão, acanhada, areia mais tipo terra, muito detritos marinhos e moscas, imensas moscas dos canaviais envolventes. Ainda mergulhei mas optámos por continuar para paragens mais simpáticas. Alguns kms mais à frente parámos no muito famoso cabo Trafalgar. Estas paragens foram tomadas de assalto pelos praticantes de KiteSurf e pela comunidade hippie local, a mistura resultante é no mínimo interessante. Fui tomar uma cerveja a um bar onde explicitamente se avisava ser proibido consumir drogas na esplanada, local alternativo realmente.
O dia já ia longo, de volta a Vejer fomos jantar novamente ao Trafalgar em busca de uma Mussaka de Cordero.
   Circo Romano 
   Catedral e Torre 
   Casa do Arcebispo 
   Parisienne 
   Museu de Cádiz 
   Jardim do Genovês 
   Praia El Palmar 
   Trafalgar 
   Casa cinco 


Dia 4 (27-04-2008) 268 km(s), 18 litro(s), 70.6 km/h
Zahara de los Atunes(ES) . Tarifa(ES) . Jimena de la Frontera(ES) . Los Caños de Meca(ES) . Barbate(ES) . Vejer de la Frontera(ES)

Após o dia passado na cidade de Cádiz, o plano para este dia incluía mais natureza. Primeiro objectivo do dia Tarifa, ponto mais a sul da península ibérica à saída do estreito de Gibraltar. Tentamos percorrer a estrada para sul junto ao mar, infelizmente na povoação de Zahara de los Atunes, vilarejo piscatório onde a tradicional arte da pesca de cerco ao atum ainda se realiza, a estrada diverge para o interior e até Tarifa nunca mais vislumbramos o Atlântico. Em Tarifa fomos até ao istmo que liga o continente à ilha de Tarifa, actualmente um quartel militar. Aqui é o ponto mais a sul onde é possível conduzir na península Ibérica. Fazendo jus à fama o estreito de Gibraltar apresentava-se extremamente ventoso, sendo mesmo doloroso suportar a areia fina lançada. Percorremos o caminho até ao ponto em que à nossa esquerda um cartaz indica Mediterrâneo e à direita Atlântico. Africa encontrava-se encoberta por uma neblina que reflectia inclementemente os raios solares. Não posso dizer que tivesse ficado impressionado pelo local e nem nos apeteceu visitar o centro histórico. Não suportámos mais a areia nos dentes, partimos. A estrada em direcção a Algeciras é bastante bonita existindo um mirador fantástico sobre o Estreito. Em dias limpos o panorama das montanhas marroquinas é fantástico, hoje não passava de uma massa misteriosa entre brumas, mesmo assim uma bela vista. Mais à frente do outro lado da baía surge o rochedo, Gibraltar e o impressionante monólito de rocha é uma vista deveras impressionante. Chegados a Algeciras era tempo de dizer adeus ao mar e divergir para norte em direcção a um dos menos conhecidos refúgios da vida natural da Europa, Parque Natural de los Alcornocales, trata-se da maior extensão ininterrupta de sobreiros (Quercus Suber) da península e uma das maiores florestas de carvalhos (Quercus sp) do mundo. Percorremos cerca de 60 km de estradas tortuosas numa imensidão de verde. Existem trilhos por aqui, mas não estávamos preparados e o calor apertava, fica para uma próxima. Almoçamos numa venta numa encruzilhada e continuamos em tom verde até às imediações de Vejer.
De novo em Vejer voltamos à costa e fomos espreitar outra praia mítica da zona, Los Caños de Meca e a sua falésia mesmo ao lado da paragem natural de La Breña, um imenso pinhal na dita falésia. É necessário alguma caminhada para chegar ao areal e esta é bem mais engraçada que El Palmar. De volta a casa atravessámos La Breña e paramos um pouco em Barbate para um gelado de fim de dia. Barbate é uma típica estância familiar, esplanadas numa marginal que ladeia um areal pejado de famílias, no “calçadão” imigrantes africanos fazem o negócio possível, nas esplanadas os empregados são rudes com os clientes e os gelados não prestam para nada apesar de custarem muito mais, enfim, clássico, no entanto é um ponto privilegiado para observar o espanhol médio no seu habitat natural.
Para terminar a nossa estadia em Vejer fomos jantar ao Jardin del Califa. Fazendo parte do Hotel del Califa é um pátio muito simpático que deve ser uma delícia nas noites de verão, em Abril no entanto, o ambiente estava frescote. A comida não cumpriu as expectativas sendo o melhor, os bolinhos finais com o clássico chá de menta.
   Ilha de Tarifa 
   Los Alcornocales 
   Venta de los Galices 
   Los Caños de Meca 
   La Breña 
   El Jardin del Califa 
   Casa cinco 


Dia 5 (28-04-2008) 241 km(s), 16 litro(s), 69.1 km/h
Arcos de la Frontera(ES) . Campillos(ES) . Antequera(ES) . la Joya(ES)

Este foi dia de mudança. Despedimo-nos da luminosa Vejer e rumamos a Antequera via Arcos de la Frontera. O dia estava fosco, um tecto cinzento opressivo acompanhou-nos toda a viagem. Ao longo da estrada a norte da serra da Grazalema fomos apreciando a paisagem característica dos pueblos blancos, as pequenas aldeias no alto dos montes, as extensões de olival. Infelizmente muito do olival antigo, com as suas respeitáveis árvores centenárias, está a ser substituído por novo e mais intensivo que apesar de verde deixa uma sensação de artificial. Paramos num vilarejo, Campillos, para café e wc, o dono do café tentou esgrimir comigo quem seria favorito no grande jogo da noite, Manchester ou Barcelona, eu votei no Ronaldo, ele apesar de Espanhol acabou por concordar comigo. Pouco depois chegamos a Antequera. Antequera é apelidada de coração da Andaluzia por se situar entre Málaga, Granada, Córdova e Sevilha. Habitada desde tempos imemoriais, como atestam muitos restos arqueológicos pré-históricos, ganhou importância comercial com a chegada dos romanos, posteriormente aniquilada pelos bárbaros reaparece como posto fronteiriço mouro sendo testemunho disto a sua Alcazaba. Atinge o seu apogeu cultural no séc. XVI com a fundação da Real Colegiata de Santa Maria la Mayor verdadeiro centro de saber de toda a região. Após o almoço numa esplanada, que incluiu uma bela tortilla, subimos à parte velha para visitar a terra. Desilusão, a Alcazaba estava fechada para obras e a Colegiata só abria no dia seguinte, valeram as vistas, algumas fachadas e o arco dos gigantes, porta de entrada para fortaleza. Partimos em direcção ao hotel a tempo de aproveitar a piscina e o SPA que este oferecia. Alguns kms volvidos numa bela estrada de montanha chegámos ao nosso destino o Hotel la Fuente del Sol. Situado num local isolado na encosta sul da montanha tem uma vista fabulosa que os primeiros raios de sol do dia vieram abrilhantar. O Fuente del Sol foi um dos melhores alojamentos onde já fiquei, localização excelente, quarto muito espaçoso e confortável, SPA com piscina interior, Jacuzzi, Sauna e Banho Turco só para nós. Negativo somente a remodelação a decorrer nos jardins e o facto, de por falta de uso, a sauna estar fria. Depois de umas braçadas na piscina e de uma tentativa frustrada de usar a sauna, apreciámos o jantar, muito requintado, num ambiente de por de sol incrível. O restaurante é muito bom, mas com uma refeição média bastante cara, como não existem alternativas perto fica-se com uma certa sensação de impotência, de qualquer maneira apreciámos muito a refeição e não me importava de lá voltar. Como planeávamos jantar lá duas vezes comprei uma garrafa de tinto que me agradou. O dia já ia longo, depois de um café no salão era tempo de recolher.
   El Gallo 
   Casco Antiguo de Antequera 
   Fuente del Sol 
   Fuente del Sol 


Dia 6 (29-04-2008) 78 km(s), 6 litro(s), 66.5 km/h
Villanueva de la Concépcion(ES) . Antequera(ES) . la Joya(ES)

O dia amanheceu glorioso, com um céu azul profundo. Depois do pequeno-almoço de boa qualidade ao nível de tudo no hotel, era tempo de pegar nas botas e rumar às montanhas para uma caminhada. O nosso destino, zona natural El Torcal de Antequera, curiosa formação karstica constituída de rochas calcárias com cerca de 150 milhões de anos. A serra del Torcal juntamente com a Serra Pelada forma uma pequena cordilheira que se eleva até as 1330 metros e que separa Antequera de Málaga. Ao longo das eras a erosão freática, quer por acção de dissolução, quer por acção mecânica, esculpiu curiosas formações rochosas no leito de calcário. O parque proporciona 2 trilhos, com durações diferentes. Ao todo fizemos aqui uma caminhada de 2,5 horas percorrendo grande parte de ambos com um desvio off-trail até à borda da falésia com uma vista espectacular da encosta sul. O dia estava excelente e o local é muito fotogénico. O único senão, hordas e hordas de excursões escolares, desde crianças até adolescentes, interessados em tudo excepto no local em que se encontravam, falam alto, gritam e não demonstram qualquer respeito pelo local, felizmente os professores conseguem garantir que eles não destruam o local. A sensibilização ecológica é muito importante nestas idades mas quando a horda considera o passeio como um autêntico frete não há muito a fazer. Felizmente as excursões limitam-se ao percurso mais curto e assim que enveredamos pela região mais remotas a barulheira, ainda por cima amplificada pelo eco natural das gargantas, foi diminuindo até que finalmente a paz regressou. O passeio é muito agradável e de uma beleza singular.
Após a caminhada a fome apertava e fomos em descoberta de repasto a Villanueva de la Concépcion mesmo ali ao lado. A primeira coisa que vimos, um bar gerido por ingleses a servir tapas espanholas. Parece estranho? E é, no entanto, no Xébar comemos uma ração de Paella espectacular e os croquetes e aros de cebola estavam sequinhos e muito saborosos, ainda mandámos vir uma dose de presunto, sempre bom por aqui, e uma tosta de atum à casa, basicamente pão tostado barrado com atum e queijo derretido por cima. Regada com umas valentes cañas esta refeição foi uma agradável surpresa. Despedimo-nos dos simpáticos ingleses que tão bem nos serviram e voltámos a Antequera para tentar ver o que no dia anterior tinha ficado por ver. A Alcazaba continuava fechada, mas podemos ver a Colegiata. Como ainda tínhamos tempo fomos espreitar o centro arqueológico de los Dólmenes de Antequera situado à saída da cidade. Quando lá chegámos estava quase a fechar e tivemos que ver os Dólmens em passo de corrida, literalmente à frente do guarda que foi fechar as várias entradas. Tenho pena de não ter visto a exposição mas já valeu ver os Dólmens.
Voltámos para o hotel, mais uma piscina, mais um banho turco, mais um jantar à maneira.
   El Torcal 
   Xébar 
   Casco Antiguo de Antequera 
   Conjunto Arqueológico de los Dólmenes de Antequera 
   Fuente del Sol 
   Fuente del Sol 


Dia 7 (30-04-2008) 101 km(s), 7 litro(s), 63 km/h
El Chorro(ES) . Pantano del Chorro(ES)

Mais um dia de mudança de hotel. Desta feita o destino, Pântano del Chorro a alguns kms de distância pelo caminho aproveitámos para ver região e observar um dos mais curiosos fenómenos geológicos da região, la Garganta del Chorro.
A garganta del Chorro é um corte abrupto na rocha calcária com 250 metros de profundidade e em alguns sítios apenas uma dezena de largura, através da qual corre o rio Guadalhorce. Represado em 1921 o rio forma 3 reservatórios distintos. Este desfiladeiro é conhecido pelo perigoso trilho “Camiñito del Rey”, assim chamado por ter sido inaugurado por Alfonso XIII aquando da sua visita às obras da barragem. O trilho foi construído ao longo da garganta com passagens suspensas em grande parte do percurso e praticamente nenhuma protecção aos utilizadores. Desde 2000 que se encontra oficialmente encerrado após a queda de um grupo de turistas com consequências fatais, desde essa data que o caminho se deteriorou bastante sendo neste momento impraticável em alguns pontos sem o uso a técnicas de escalada. Obviamente que nada sabíamos disto e assim sendo cruzámos o belo vale de Abdalajís e após uma bonita estrada a meia encosta chegámos a El Chorro localidade com estação ferroviária junto à barragem e ponto de acesso ao caminho. Esta terra é um paraíso para escaladores e todo o turismo está a convergir para a oferta de férias aventura, associada a um modo de vida bastante alternativo. Na encosta acima da terra e junto às paredes as muitas "cuevas" naturais foram emparedadas e convertidas em habitação gruta. Tudo isto tem aspecto muito hippie e pouco legal. Apesar de estarem a ser utilizadas à medida que passámos a frente delas todos os moradores tiveram o cuidado de discretamente desaparecerem de vista até estarmos a uma distância considerável, a não ser uma backpacker que obviamente andava à procura da gruta que tinha alugado... no mínimo, esquisito. Voltando à história inicial, começamos o trilho que numa primeira fase se embrenha por pinhais acompanhando de modo genérico a linha de comboio, a certa altura surgem os primeiros cartazes a avisar que o caminho se encontra encerrado, como não sabíamos do motivo do encerramento demos uma de desconfiados e lá tentámos prosseguir, alguns metros depois o caminho é definitivamente cortado pela linha de comboio e a passagem bloqueada de modo bastante peremptório, nada a fazer a não ser apreciar uma cordada que na parede sobranceira evoluía e começar a descer a encosta em direcção à barragem. Pelo caminho pudemos apreciar de perto as famosas casas gruta, algumas muito estilo "flower power", outras com luxos mais modernos como churrasqueiras e antenas de satélite. Chegados à barragem decidimos seguir o caminho de serviço da mesma e não é que este levava directamente ao início do caminho do rei, pudemos assim apreciar esta espectacular via a meio de uma falésia absolutamente vertical. O estado de degradação neste ponto é notório não restando nada mais que alguns ferros, que antigamente suportavam o passadiço, cravados na rocha sobre o abismo, impressionante de ver, para nós impossível de realizar. Voltámos para o carro já satisfeitos com as vistas. Depois do almoço num hotel local, uma vez mais gerido por ingleses, mas ao contrário do Xébar, com uma qualidade duvidosa, prosseguimos pelo desfiladeiro junto à garganta em direcção à barragem do conde de Guadalhorce na margem do qual se situa o nosso hotel. Esta zona é muito engraçada, 3 barragens praticamente no mesmo ponto do vale formam 3 bacias diferentes cada qual com a sua cor de água, Esmeralda (Conde de Guadalhorce), Negra (Guadalteba-Guadalhorce) e Azul (Gualtanejo) no ponto convergente destas barragens encontra-se a terra de Pântano del Chorro e a Posada del Conde. Este pequeno hotel em comparação com os anteriores fica a perder no entanto é mais do que aceitável. Fomos espreitar Carratraca antiga terra termal agora já pouco utilizada. À excepção da junta de freguesia num antigo palacete mourisco, não encontrámos nada especial neste lugar e decidimos voltar. Como ainda era cedo fomos aproveitar o fim de dia até à beira do lago. Esta barragem pela pureza da sua água é uma estância de diversão de eleição da região com pequenas ilhas onde se paga entrada para ir passar o dia. Ficámos à beira água a apreciar o pôr-do-sol sobre o lago e a admirar os palacetes nas suas penínsulas privadas. Jantámos no restaurante do hotel, pouco refinado na decoração mas provavelmente a melhor refeição da viagem, o cordeiro assado no forno com mel é divinal. Cheios até às orelhas fomos passear à beira lago para desmoer, de pouco serviu, fomos para a cama.
   El camiño del Rey 
   la Garganta 
   Posada del Conde 
   Posada del Conde 


Dia 8 (01-05-2008) 650 km(s), 44 litro(s), 66.4 km/h
Sevilla-Granada(ES) . Carmona(ES) . Valverde(ES) . Aldeia do Meco(PT) . Lisboa(PT)

E é chegado o dia do retorno. A caminho de casa decidimos passar por Setenil, terra meio construída numa gruta que descobrirmos a folhear um livro da Andaluzia no salão do hotel uns dias antes. Tomamos o pequeno-almoço, a clássica tostada com mantequilha e sem muita piada, carregámos o carro e o azar ataca. Um barulho estranho teimava em não desaparecer e alguns metros mais à frente é evidente o diagnóstico, pneu traseiro esquerdo completamente em baixo. A operação de mudança do pneu foi no mínimo pedagógica uma vez que nunca o tinha feito, nem sequer sabia muito bem onde se encontrava o macaco ou como usá-lo. Com calma tudo se resolve e a prova lá foi superada, tenho aqui a agradecer a um turista francês que muito simpaticamente abdicou do café que estava a tomar na esplanada e se prontificou a me ajudar no que pôde, bem haja, deu-me uma grande lição de solidariedade. Após isto já não apetecia prolongar muito mais a viagem e decidimos esquecer Setenil, que obrigava a bastantes kms de montanha, e disparámos pela Via rápida directos a casa. Após vários kms através de campos despovoados chegámos a Carmona onde existe uma importante Necrópolis romana e museu. A cidade deve valer uma visita, mas estava tão apinhada e a Necrópolis tão fechada que rendemo-nos às evidências, hoje é dia não, vamos mas é para casa. O resto da viagem correu bastante bem, Sevilha quase não tinha trânsito, comemos a caminho de Aracena, em Portugal rumámos a Beja e finalmente de volta à A2 a caminho de Lisboa. Como não nos podíamos dar por derrotados ainda fomos jantar ao Mekinhos na aldeia do Meco, petiscos para todos, as Tapas à Portuguesa. A noite já ia longa quando cruzámos a 25 Abril e poucos minutos depois... Casa.
   Venta los Angeles 
   Mekinhos 




8 dias de 24-04-2008 a 01-05-2008
2187.6 kms (273 /dia)
158.5 litros (20 /dia) 7.2 aos 100
66.4 km/h (33 h)
 
    Gelados em Cádiz
    Hotel Fuente del Sol
    El Torcal de Antequera
    Jantar na Posada del Conde
    Trânsito em Sevilha
    Praia "El Palmar"
    Gelados em Barbate
    Furo


1 comment:

Graça e Paulo Doutel said...

Grande viagem! Boa crónica dos eventos. Estivemos a semana passada na Andaluzia e concordo que Los Alcornocales e El Torcal são dois sítios espectaculares.
Tivemos pena de no Torcal só termos feito o percurso verde (mais pequeno). Quanto a restaurantes serem de ingleses, aconteceu-nos algo parecido em Fuente de Piedra, onde fomos jantar no dia em que fomos ao Torcal (o do regresso) e comemos um óptimo e baratíssmo jantar (11 euros para duas pessoas com salada e bebidas incluídas) numa mesón de um simpático casal de ingleses (reformados), que mais parecia um pub inglês.