Thursday, 13 November 2008

Quantum of Solace

Gosto deste género de 007. Rude sem floreados nem super armas. O enredo em si é um pouco ténue, com muitas pontas a ligarem-se mágicamente. Eu diminui-a um pouco a acção que chega a ser frenética e não deixa sobreviver nenhuma linha emotiva. Apesar de tudo é um bom filme de acção de uma linha que não se quer que termine.

Titulo original: 007 - Quantum of Solace
De: Marc Forster
Com: Daniel Craig, Judi Dench, Olga Kurylenko
Genero: Acç, Dra
Classificacao: M/12

EUA/GB, 2008, Cores, 105 min. (IMDB)

Daniel Craig é, pela segunda vez, James Bond. E, apesar de todas as críticas antes da estreia de "Casino Royale", será que, agora, alguém ainda se lembra de Pierce Brosnan...? Desta feita, Bond está determinado a perseguir quem forçou Verper, a mulher que amou, a traí-lo. Mas M (Judi Dench) e Bond percebem que a organização que a chantageou é muito mais complexa e perigosa do que tinham imaginado.
Bond cruza-se então com Camille, que procura ela também vingar-se, e que o põe na pista de Dominic Greene, um homem de negócios impiedoso que é um dos pilares da misteriosa organização. Durante a missão, que o conduzirá pela Áustria, Itália e à América do Sul, Bond descobre que Greene está a tentar apoderar-se de um dos recursos naturais mais importantes do mundo, manipulando a CIA e o Governo britânico. Enredado num labirinto de traições e mortes, à medida que se aproxima dos verdadeiros responsáveis pela traição de Vesper, o agente 007 tenta manter o avanço que leva sobre a CIA, os terroristas e mesmo sobre M, de forma a parar a organização e desvendar o plano sinistro de Greene.in Publico

Crítica:
O agente secreto no seu labirinto

Vencida a batalha do relançamento do "franchise" 007 com o excelente "Casino Royale", reinvenção inteligente do super-espião James Bond para o século XXI introduzindo no papel Daniel Craig, os "guardiões" Michael G. Wilson e Barbara Broccoli levam a renovação da máquina ao patamar seguinte, entregando improvavelmente a direcção do filme 22 da veneranda série ao suíço Marc Forster ("Monster''s Ball - Depois do Ódio", "Contado Ninguém Acredita", "O Menino de Cabul").

À imagem do que Martin Campbell fizera em "Casino Royale", também "Quantum of Solace" (título abstruso, retirado a um conto de Fleming mas aplicado a um guião original) foge a algumas das tradições da série, logo a começar pela "regra" que implicava que todas as aventuras de Bond eram independentes das anteriores: aqui, a acção arranca no ponto exacto em que o anterior terminava, naquela que é a primeira sequela oficial nos 22 filmes da série.

Forster prolonga a "circunscrição" que "Casino Royale" introduzira, sugerindo um Bond que tenha feito dieta e treino físico intensivo: eliminou-se impiedosamente toda e qualquer "palha" acessória para deixar apenas a musculatura de um filme de acção cosmopolita e espectacular que se quer espelho do mundo moderno (o vilão Mathieu Amalric é um executivo ambientalista com segundos motivos, Bond é demasiado individualista para deixar os seus chefes políticos descansados), o que explica a sua duração atípica (com 1h45, é o Bond mais "curto" de sempre). Mas, ao contrário do filme anterior, isso acaba por tornar "Quantum of Solace" numa espécie de versão "genérica" do "medicamento" Bond, presa entre o respeito pela tradição da série e a necessidade constante de a reinventar. Um excelente pósgenérico pelos telhados de Siena é demasiado derivativo da série Bourne, mas a "Bond girl" de serviço (Olga Kurylenko, num papel quase decalcado de Claudine Auger em "007 Operação Relâmpago") está mais próxima dos filmes Connery-Moore do que das actrizes mais determinadas de filmes recentes como Eva Green, Michelle Yeoh ou Sophie Marceau.

Mais à frente, o esplendoroso hotel no deserto criado pelo cenógrafo Dennis Gassner recorda-nos os tecnológicos covis de vilania que Ken Adam desenhou para a série durante décadas, mas a quantidade "nonstop" de cenas de acção (compensando o seu uso parcimonioso no anterior "Casino Royale") praticamente afoga a densidade psicológica que se queria uma das pedras basilares do "novo" Bond, tornando Daniel Craig numa eficiente máquina de matar mais do que o agente secreto complexo que se pretende.

Entre modernidade e tradição, Marc Forster procura um equilíbrio que não consegue atingir, e assina um Bond atípico, um pouco esquizofrénico, que quer agradar a gregos e troianos e acaba por não consegur convencer nem uns nem outros. "Quantum of Solace" cumpre o caderno de encargos enquanto filme de acção, mas depois da refundação de "Casino Royale" era legítimo esperar muito mais do que aquilo que nos dá.

Jorge Mourinha

A saga de James Bond continua em grande pujança formal, com a nova cara de Daniel Craig a assumir, convenientemente, a personagem, sem perder ímpeto, nem obstar à passagem do testemunho. "Quantum of Solace" não possuirá a perfeição renovadora de "Casino Royale", mas constitui-se em movimentado divertimento, sem mais, com prodigiosa velocidade e preponderância de uma inventiva montagem, acentuando o lado negro de que a série se tem progressivamente revestido.

Judi Dench prossegue a sua carismática presença, em M. A "Bond Girl" (Olga Kurylenko) está de boa saúde e recomenda-se. Mathieu Amalric constrói um excelente vilão de recorte "ecológico". Siena revela a sua espantosa fotogenia, nas sequências iniciais; o hotel do deserto é um magnífico cenário, pronto a explodir em grande espectáculo. Que mais pedir a um filme que cumpre, em pleno, os seus objectivos programáticos?

Mário Jorge Torres

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