Friday 14 November 2008

Tasquinha da Adelaide

Rua do Patrocínio 70/74
1350-231 - Lisboa
Tel. 21 396 22 39
Encerrado aos Domingos e Feríados

Tradicional

Do melhor que se pode esperar de pratos tão tradicionais, excelente sabor e muito bem confeccionados. O arroz de pato estava delicioso. Atendimento atencioso. Ambiente simpático e acolhedor mas muito apertado, a privacidade entre mesas é quase nula. No fim a conta deixa um travo amargo, ao fim ao cabo, por mim bom que fosse, só comi um arroz de pato. Agradável merece nova visita assim que me esquecer da conta.

Comida

Do melhor

Preço

€€€

25 a 40 Euros

Ambiente

Simpático mas muito apertado

Serviço

Bom nível

Restaurante tipicamente português, de pequenas dimensões, com excelente comida caseira. A especialidade vai para os pratos transmontanos.

Localização:

Nosso menu:

  • Queijo de cabra panado
  • Arroz de Pato
  • Bacalhau à Adelaide
  • Tarte de Framboesas
  • Bolo Chocolate
  • Marquês de Borba 2007


Crítica:
Pequenina, a Tasquinha da Adelaide, em Lisboa, é um reduto de boa cozinha portuguesa. Muito pequenina. Intimista, como hoje se diz. Mas, em nome da sua boa comida, tudo se perdoa.

LEMBRAM-SE do Alencar? Esse Alencar de 'Os Maias', precisamente? Pois eu lembro, porque tinha frases inesquecíveis. Uma delas é o primeiro de um dos seus poemas a Elvira, escrito nas penumbras fatais de Sintra, a romântica Sintra de outrora: "Abril chegou, sê minha!" E logo ali um alvoroço no deal­bar na Primavera, um sinal de adultério promissor, só de fitar a verdejante Sintra que refrescava os lisboetas que iam lá para uma temporada. Pois uso o verso para adaptá-lo: "Junho chegou, sê minha!" Refiro-me à fresquinha dos finais de tarde e à Rua do Patrocínio, paredes meias com o centro de Campo de Ourique (ou seja, com a Ferreira Borges ainda arborizada e com a passarada do Jardim da Parada um pouco mais distante), pertíssimo de quem sobe da Estrela para o bairro onde Fernando Pessoa viveu parte da sua vida. Ora, os tons crepusculares dessas ruas abrem o apetite a quem passou o dia labutando.

Há em Campo de Ourique, ainda, motivos para passeio e para que nos demoremos aqui e ali (vetustas lojas, cafés de antiga­mente, retrosarias, drogarias, tudo o que quisermos) - e para que terminemos num jantar íntimo na ínti­ma e intimista Tasquinha da Adelaide. Como não tem estacionamento à porta, recomendo vivamente o passeio, que nos poupará trabalhos adicionais. A porta, de vidro, abre para uma salinha minúscula onde, logo de frente, cabe uma cozinha minúscula. Mas nada de alarme. É pequena, pequenina, mas maneirinha, bem arrumada e saborosa - refiro-me à Tasquinha da Adelaide, evidentemente. A clientela, feita de famílias arrumadas, casais que repetem até à exaustão os florilégios de 'O Amor em Visita', turistas que leram o 'The New York Times' (que gostou muito do lugar) ou as revistas brasileiras de viagem, dis­tribui-se por cerca de vinte e tal mesas simpáticas onde são servidas coisas como paletilha de cordeiro (arrancada ao forno, crepitante, para duas pessoas), rojões à transmontana (bem fritos, com batatinhas, castanhas e grelos salteados - exuberante de coles­terol do bom), feijoada de búzios (não provei), arroz de pato (tostadinho, de grão solto e pato muito bem cozinhado antes de entrar no barro para cobrir-se de arroz), perna de borrego com feijoca (ideal para quem prefere pratos de baixas calorias e nada de hidratos de carbono), bacalhau espirituoso, ou linguadinhos fritos com arroz de grelos (ambos muito bons).

Registemos ainda, para um almoço recente, a contribuição de umas gambas (gigantescas!) fritas em azeite e uma dose conveniente de alhos esmagados, servidas com arroz branco, além de um pastelão de ovo com batatinha às rodelas, familiar de uma 'tortilla' espanhola acrescentada de salsa e de rodelas de salpicão, de uma salada de peito de pato ou de uma outra de mussarela. Se o apetite está ainda estaciona­do a níveis críticos, recomendo a sela de borrego ou o pernil, ambos servidos na travessa de barro com superlativas batatinhas de forno e grelos salteados, ou a simplicidade que chega da grelha sobre o carvão: lulas, polvo (servido à lagareiro), robalo, dourada, bife do lombo ou entrecosto.

Nada que envergonhe a cozinha de Dona Adelaide, à vista de todos, sem truques e sem vontade de enganar. Na companhia de tudo isto, uma carta de vinhos aceitável e munida de tintos de referência (a que, no entanto, faltam brancos estivais que nos ajudem a suportar os calores da temporada - sim, eu gosto bastante de vinhos brancos, e temos meia dúzia deles que podem fazer corar de pudor os mais afoitos), o que antecede a tarte de Tatin (quente, de preferência, com a bola de gelado), os dois bolos de chocolate (um, de renome na casa, feito ali, sem farinha, puro chocolate; outro, antecedido da palavra "merengue", em vários pisos de bolachinha e de diferentes chocolates), a tarte de framboesas ou de avelã, além do 'cheese cake', que tomou de assalto todos os nossos cardápios.

É nesta altura que as portas da Tasquinha (onde se é sempre bem aten­dido por pessoal muito simpático) se abrem para a noite: mais uma voltinha a pé para ajeitar as várias camadas que assentaram no estômago. Uma visita que vale a pena. Pequenina, a Tasquinha da Adelaide é um reduto de boa cozinha portuguesa. Muito pequenina. Intimista, como hoje se diz. Mas, em nome da sua boa comida, tudo se perdoa.

por fjv-cronicas.blogspot.com

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