Sunday, 27 September 2009

O pêndulo de Foulcault


De Humberto Eco
Difel 1988

Obra densa e difícil. Não pude deixar de me sentir perdido no meio de tanto facto. Custou-me bastante a lê-lo.


Nos nossos dias, três redactores editoriais italianos, cansados da rotina, são levados pela curiosidade e sede de cultura a retomar a curiosa história de um segredo dos Templários. Um segredo que os Cavaleiros teriam ocultado no momento da extinção da ordem e da condenação à morte dos seus dirigentes em 1312. A descoberta de um “Plano” centenário para dominar o mundo vai levar os três homens muito longe na procura da verdade.
Umberto Eco consegue assim, num mesmo livro, misturar romance histórico, aventura e mistério. O resultado é um inquietante relato que nos faz pensar: poderá ser verdade? Poderemos ser todos vítimas de uma enorme conspiração de proporções cósmicas?

Crítica:
Belbo, Diotallevi e Casaubon conheceram-se no período revolucionário estudantil dos anos 6o e, anos mais tarde, reúnem-se através de uma editora para um projecto de edições literárias sobre o misticismo e ocultismo criados à volta da história dos templários. É pelos olhos do doutorado Casaubon que vamos sendo informados dos acontecimentos, nem sempre de forma linear, dos três editores. Envolvendo-se no tema de forma mais pessoal do que deveriam, os três vão desenvolvendo uma teoria por entre toda a informação cruzada que recebem de textos de época e de escritores fascinados pela história da Ordem. É assim que criam O Plano.

Esta será uma sinopse de O pêndulo de Foucault, de Umberto Eco. O que esta sinopse, e outras, escondem é o complexo pensamento revertido de Umberto Eco, para além da sua perfeccionista cultura. Se a última é por demais conhecida, quer pelos seus vários ensaios quer pelo seu trabalho enquanto semiologista, o que esperar do processo de escrita de Eco depois de O nome da rosa? Em O pêndulo de Foucault, Eco volta a surpreender-nos, desta feita pelas inversões que faz da história. Se em O nome da rosa nos inquietávamos, apesar da cultura medieval subjacente, como num policial de Agatha Christie; neste caso tentamos perceber, com o que nos vai sendo dado, a veracidade desta teia de conspirações que os intervenientes vão tecendo.

Uma vez mais, Eco mostra que há um propósito para além da mera demonstração de cultura, embora esta fosse suficiente. O pêndulo de Foucault, como livro de ficção que embarcasse no tema das conspirações sobre a história dos templários, da maçonaria e do Graal, seria facilmente superior a qualquer um. Pelas bases históricas que apresenta, ao nível dos textos citados, pela coerência e profundidade da escrita e pela forma como os temas estão expostos e aprofundados. Contudo, o livro não se resume, como os outros, a isso. Bem ao estilo de Eco, há algo mais.

O pêndulo de Foucault é um livro sobre a crença desmedida, sobre a necessidade do homem de acreditar no oculto, em algo mais do que nas coincidências e o óbvio. É um livro sobre como três homens conseguem facilmente encher as medidas a todos os paranóicos desesperados por uma teoria bem urdida. Invertendo o conceito, hoje em dia generalizado, de que há conspirações e grupos secretos que moldam a sociedade das suas catacumbas, Eco questiona a nossa capacidade racional de enfrentar a nossa necessidade de algo grandioso e oculto. Eco apresenta ainda, apesar de pecar por vezes pelo excesso de erudição que afastará algum público, um muito bom resumo para alguém interessado em iniciar-se na história dos templários, da maçonaria e de mais algumas ordens secretas.

Por último, O pêndulo de Foucault é uma lição para toda a panóplia de livros místicos que povoa as livrarias portuguesas. Inclusive, e especialmente, para o Código da Vinci. Umberto Eco mostra como bem escrever, como bem pensar e como fugir ao óbvio. Mostra como tecer uma boa história, corroborada pela coerência histórica e lógica, mantida pelo interesse narrativo de um policial. Uma leitura que não será tão fácil, mas que se demonstrará, sem dúvida, mais proveitosa. Em suma, um romance histórico que não apela a ser lido na praia e de forma light, mas sim ao uso desse bem inestimável, o pensamento.

Críticaartistica.blogspot.com

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