1300-100 - Lisboa
Tel. 213640881
Reserva aconselhável. Encerrado 3ª feira
Regional Açoreano
Comida de eleição. A sabedoria insular à nossa mesa, bem servida, confeccionada e promovida, Alfredo Alves homem de convicções não se coíbe em enaltecer as suas amadas ilhas. Aqui o cliente tem sempre razão desde que concorde com a superioridade da mesa açoreana, o que até não é difícil tal é a qualidade. A Alcatra prato bem condimentado e forte é deliciosa, o pudin de vinagre uma surpresa excelente. Somente o vinho das ilhas não me convence. Delicioso.
Comida | Excelente a todos os níveis | |
Preço | €€ | 22 Euros |
Ambiente | Requintado, mas a localização não é a melhor | |
Serviço | O serviço dos responsáveis é excelente, dos restantes empregados mais fraco |
Localização:
Nosso menu:
Alcatra miguelense Atum grelhado com batata doce Doce de vinagre Pudim de abóbora
Crítica:
Uma ilha na cidade.
Ana Marta Ramos
A casa não é propriamente nova, mas a novidade é de peso. Alfredo Alves deixou a cave que ocupou, durante cerca de oito anos, na Rua Frei Carlos, sob o nome pouco elucidativo de Bambino d’Oro, e instalou-se numa sala soalheira e com vista sobre o Tejo, no novo Mercado da Ajuda, com um nome que diz tudo: Espaço Açores.
Enquanto o Homem sonha
Ainda antes do Bambino d’Oro, já Alfredo emprestara o seu nome e a sua arte a um restaurante faialense que chegou a figurar entre os 30 melhores do país. Felizmente para nós, continentais, que veio para ficar. Sobretudo agora, que conseguiu concretizar o sonho de erguer, de raiz, um templo verdadeiramente à altura da gastronomia genuinamente açoriana.
O Espaço Açores é mais do que um restaurante, convém dizê-lo. Para já, abre portas todos os dias, do meio-dia à meia-noite, excepto às terças-feiras, e serve lanches com o mesmo rigor regional aplicado nas refeições principais.
A Massa Sovada e Bolo Lêvedo são sempre fresquinhos; as Queijadas de Nata do Faial fazem crescer água na boca só de olhar para elas; a Linguiça é servida em pratinhos ou a rechear uma deliciosa Bola; em pratinhos também há Lapas e Polvo; e as propostas de sanduíches variam entre o Atum (do fresco, assado no forno), a Alcatra ou o Torresmo (à maneira dos Açores, de carne limpa). Para beber, as opções são várias, mas não resistimos a destacar o refrigerante Kima, de Maracujá, e os aromáticos chás de S. Miguel. O serviço é particularmente cuidado, o que faz com que estas iguarias nos saibam duplamente bem.
Esta é, de facto, uma das grandes novidades introduzidas com a mudança de localização. Mas é apenas uma delas.
Mais Açores
Foi João Redondo, um arquitecto micaelense residente em Lisboa, que deu corpo à “visão” de Alfredo Alves, e o resultado é 100% açoriano. A madeira de criptoméria e o basalto, vindos das ilhas, cobrem o chão e as paredes.
As cores de eleição, o azul e o vermelho, remetem para as casas típicas de beira-mar, chamadas de adegas. E a inclinação subtil das traves de madeira confere à sala uma atmosfera náutica, reforçada pelo efeito do tecto da entrada, que forma uma quilha.
Depois, temos a vista: as vidraças acompanham a sala ao longo de todo o comprimento, pelo que podemos admirar o casario a descer até ao Tejo, a ponte 25 de Abril e até a margem sul. Isto, mesmo com os estores corridos, graças aos engenhosos materiais que cortam a luminosidade excessiva sem nos privarem da visibilidade.
A elegante garrafeira exposta na parede de fundo foi reforçada: há novos vinhos do Douro, por exemplo, e são privilegiados os contactos directos com os produtores. Mas, pelo menos por uma vez, para a experiência ser totalmente açoriana, aconselhamos um Lajido do Pico, para aperitivo, um Frei Gigante Branco para acompanhar os pratos de peixe, um Currral Atlantis tinto a condizer com as especialidades de carne, e um Licor de Maracujá de S. Miguel para rematar em beleza o repasto.
Viagem pelo paladar
E como nem só de vinho vive o Homem, vamos ao que interessa. A ementa mantém a riqueza, a variedade e a autenticidade dos ingredientes que já conhecíamos do Bambino d’Oro. Mas acrescenta-lhes, agora, os peixes grelhados e as sugestões “de autor”: uma sopa, um prato de peixe e outro de carne, sempre com base nos produtos que chegam, diariamente, das ilhas açorianas, mas com toque muito pessoal de Alfredo Alves.
O melhor é consultar a imensidão de pratos propostos no site do restaurante, em www.espacoacores.com. Ao domingo serve-se Cozido das Furnas e no primeiro fim-de-semana de cada mês há Sopas do Sr. Espírito Santo.
Mas, atenção: a disponibilidade dos pratos depende directamente da sazonalidade dos ingredientes. Como deveria ser sempre, quer-nos parecer. Não há nada como telefonar previamente para saber o que o espera.
As quintas-feiras são dias de buffet: ao almoço e ao jantar, os comensais despendem uma quantia fixa por pessoa e desfrutam de um verdadeiro banquete ilhéu. No dia em que visitámos o Espaço Açores, o menu incluía, como entradas, Linguiça com Inhame, Favas de Unha, Batata com Pimenta da Terra, Morcela com Laranja e Tortas de Erva Patinha.
Quanto a estas últimas, passamos a explicar. “Tortas” são omeletes. Esta metade da explicação é simples. Agora, a “Erva Patinha” é uma alga que nasce à beira-mar, quando o tempo está mau e o mar agitado, dura três ou quatro dias e morre ao primeiro contacto com o sol, pelo que tem que ser colhida com um grande sentido de oportunidade!
De pratos principais pudemos provar os Bifes de Atum com Batata Doce, a Sopa de Peixe da Graciosa, o Polvo Guisado, os Torresmos da Terceira, a Alcatra e o Feijão Assado. Aqui impõe-se mais uma pausa para um breve esclarecimento.
Este “Feijão Assado” consiste numa feijoada com entremeada e linguiça, levemente guisada com melaço e levada ao forno. Um pecado mortal, certamente! O tempero varia entre ilhas (pode levar açúcar ou canela) mas a receita-base foi levada para a América pelos baleeiros, e imortalizada no grande ecrã por Trinitá, a personagem dos westerns desempenhada por Terence Hill, que tinha por costume aquecer feijões para saciar a fome.
Para rematar, foi tão difícil escolher a sobremesa que tivemos que provar um bocadinho de cada: Mousse de Maracujá, Tigelada de S. Miguel, Doce de Vinagre, Ovos Pardos, Pudim de Mel e Pudim de Chá.
Foi ao som de música tradicional dos Açores que nos despedimos, não sem antes fazer umas comprinhas. Isto porque o Espaço Açores também vende alguns dos produtos confeccionados na casa, como a Massa Sovada e os Bolos Lêvedos, e muitas das iguarias açorianas difíceis de encontrar cá, como as conservas e os licores.
Alfredo Alves continua a desempenhar com apurado afinco a missão de embaixador das coisas boas do seu arquipélago natal. Bem haja!
por Lifecooler
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