Saturday, 25 October 2008

Rio das Flores


De Miguel Sousa Tavares
Oficina do Livro 2007

No global gostei.
Tenho sentimentos antagónicos em relação a este “romance”, por um lado é recheado dos factos que formaram a primeira metade do século XX tornando-se um belo testemunho de uma parte da nossa história, a ascensão do Estado Novo no contexto geopolítico da época, por outro, o excesso de informação e datas é por vezes monótona, por um lado temos a visão da vida no Portugal de então, em tantas coisas análogo ao nosso, por outro a história das personagens é basicamente estagnada. Como romance pouco me entusiasmou, algumas coisas até me confundiram como ser humano. Como é que alguém com um casamento feliz aos mais vários níveis, sem nunca ter tido uma discussão de potencial ruptura que fosse com a esposa, pura e simplesmente a decide trocar por outra? Pareceu-me uma solução cómoda em contra censo a toda a criação do personagem até então. Como relato histórico do mundo e do nosso cantinho está muito bom, deu-me oportunidade de aprofundar os meus conhecimentos sobre uma época que o sistema de ensino, do meu tempo pelo menos, fez por se esquecer que existiu. A meu ver a componente histórica compensa o romance e por isso posso dizer que gostei.



Sevilha, 1915 - Vale do Paraíba, 1945: trinta anos da história do século XX correm ao longo das páginas deste romance, com cenário no Alentejo, Espanha e Brasil. Através da saga dos Ribera Flores, proprietários rurais alentejanos, somos transportados para os anos tumultuosos da primeira metade de um século marcado por ditaduras e confrontos sangrentos, onde o caminho que conduz à liberdade parece demasiado estreito e o preço a pagar demasiado alto. Entre o amor comum à terra que os viu nascer e o apelo pelo novo e desconhecido, entre os amores e desamores de uma vida e o confronto de ideias que os separam, dois irmãos seguem percursos diferentes, cada um deles buscando à sua maneira o lugar da coerência e da felicidade.

Rio das Flores resulta de um minucioso e exaustivo trabalho de pesquisa histórica, que serve de pano de fundo a um enredo de amores, paixões, apego à terra e às suas tradições e, simultaneamente, à vontade de mudar a ordem estabelecida das coisas. Três gerações sucedem-se na mesma casa de família, tentando manter imutável o que a terra uniu, no meio da turbulência causada por décadas de paixões e ódios como o mundo nunca havia visto. No final sobrevivem os que não se desviaram do seu caminho.

Crítica:
Rio das Flores é uma história simples. Todo o romance se consegue resumir a um parágrafo, pois basicamente, não se passa nada de importante na vida das personagens até poucas páginas do fim.
Os Ribera Flores vivem em Estremoz, são a típica família alentejana. Diogo e Pedro são os herdeiros da herdade onde vivem. Diogo é o oposto do irmão, sonhador, ambiciona construir família, mas num país livre, onde possa gozar a vida, ler os seus livros, os seus jornais, sem censura. Já Pedro, é a favor da ditadura, acha que o Estado Novo faz com que Portugal desenvolva. É um patriota fincado.
Além de Estremoz, a história desenrola-se (ou não, porque o novelo do enredo é solto a 30 páginas do fim) em Lisboa, em Espanha e no Brasil. Lisboa é a cidade de escape de Diogo, gosta daquele ócio que se sente por lá, de ter as notícias daquilo que acontece no mundo em primeira mão. É em Lisboa que decide juntar-se a dois homens e construir um negócio de exportação de bens do Brasil. E é por este negócio que Diogo começa a viajar para o Brasil e a começar a gostar cada vez mais do país.
Pedro continua confinado a Estremoz, mas decide, um dia, lutar na Guerra Civil Espanhola, depois de uma desilusão amorosa.
Toda a história se desenrola mais ou menos na primeira metade do século XX, abrangendo a Primeira Grande Guerra, a queda da República em Portugal, a Guerra Civil Espanhola e a Segunda Grande Guerra. Para um autor jornalista, tem aqui muito material por onde pesquisar e por onde pegar, para que as suas personagens se envolvam nos acontecimentos que marcaram esta metade do século. E esse é, talvez, o maior erro de Rio das Flores, todos estes acontecimentos são demasiado explorados. São páginas e páginas seguidas de descrição de acontecimentos de qualquer uma destas guerras, onde raramente se toca no nome de alguma das personagens. O romance está visivelmente dividido em dois. Há a parte da evolução das personagens (que é quase nula) e a parte dos acontecimentos históricos (que de nula, as suas descrições não têm nada).
Claro que é de louvar o grande trabalho de pesquisa que Miguel Sousa Tavares fez para este livro mas, o que se destaca mais neste livro não é a história das personagens, mas sim o relato histórico daquilo que acompanha as suas vidas, o que não é o mais importante num romance. Talvez, num próximo livro, Miguel Sousa Tavares consiga distinguir a profissão de jornalista, da profissão de escritor, porque acho que as confundiu um pouco no livro. O jornalismo ressente-se muito mais no livro do que a dita literatura que o romance prometia.

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