Friday 14 December 2007

Mi soledad

Só de lamentar que tão grande talento nos fosse apresentado em tão mau palco, o "Campo Pequeno" não se presta a estes espectáculos a não ser que se esteja numa plateia VIP, mas adiante. Começou morna a actuação, o público atrasado não ajudou a absorver a componente mais intimista da actuação. As influências musicais sucederam-se, Magrebina, Argentina, Eslava, apimentando o flamenco omnipresente. Adorei o acordeão e o tablao.

Joaquin Cortés, é sem dúvida um artista muito acarinhado e respeitado pelo mundo fora. "Mi Soledad" comprova a grande forma e sentido de ritmo excepcional do artista traduzindo-se em salas esgotadíssimas por todo mundo.

"Mi Soledad"

A interpretação mais intensa, solitária e intimistado maior bailarino do mundo.

Joaquín Cortés propõe-nos uma viagem intimista através das suas emoçõesmais pessoais, dando corpo a esse sentimento, a Solidão. Uma reflexão muito íntima e solitária do homem que enfrenta o amor e o desamor, analisando a sua trajectória da vida.

O espectáculoalia a força da dança aos cânticos e à mística da cultura flamenca, representada por um grupo de 16 músicos e cantoras.
Através da música e da sua forma inconfundível de dançar, Cortés põe-nos em comunicação directa com a sua alma e arte, com uma brilhantíssima paleta de cores flamencas.

Crítica:
Uma voz de homem ergue-se no espaço. Parece um lamento. Seguem-lhe outras vozes. De homens e mulheres. Como numa reza. No meio do palco, Joaquín Cortés. Os braços abertos, o tronco nu, os olhos fitos no céu. À espera de Deus, talvez. Porque a solidão dói. Cola-se à pele. E o corpo não aguenta, cai no chão.


Assim começa Mi Soledad, a última criação daquele que é o embaixador do flamenco. O espectáculo, que já esteve em Portugal, tem regresso marcado para esta sexta no Campo Pequeno, em Lisboa. No sábado, apresenta-se em Guimarães.

Mi Soledad revela o lado mais íntimo de Cortés. “Falo da minha própria solidão”, disse o bailarino ao jornal espanhol El País. O confronto do homem com os seus medos completa a primeira parte do espectáculo, que se aproxima mais da dança contemporânea. Depois, começa a festa flamenca, cheia de cor e luz. Vestidos por Jean Paul Gaultier, Cortés e os seus músicos encarnam o espírito da cultura cigana. O ritmo é alucinante. Cortês mostra, aos 38 anos, que o desassossego ainda lhe toma conta da alma – e dos pés.

Foi em criança, por influência do tio, que Cortés deu os primeiros passos na dança. Nascido em Córdoba no seio de uma família cigana, mudou-se para Madrid aos 12 anos. Ingressaria então no Ballet Nacional de Espanha e com 14 anos ascendia a solista. Em 1992, criou a companhia Joaquín Cortés Ballet Flamenco, que se estreou com o espectáculo Cibayí. Seguiu-se Pasión Gitana (1995), Soul (1999), Live (2000), De Amor y Odio (2004) e Mi Soledad (2005).

Com digressões por todo o mundo, Cortês diz, em tom de brincadeira, que é “um nómada do século XXI”, porque os seus antepassados andavam de carroça e ele prefere o avião.

Além do flamenco, Cortés é um apaixonado pela sétima arte, tendo já participado em fitas de Pedro Almodóvar, Carlos Saura e Manuel Palácios. Como bom cigano, vive com toda a família numa casa em Madrid. Tem um seguro para os pés no valor de 3 milhões de euros e acredita que não é preciso nascer cigano para sentir a alma do flamenco. Mi Soledad prova-o.

Sara Gomes


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