Título original: Lions for Lambs
De: Robert Redford
Com: Robert Redford, Meryl Streep, Tom Cruise
Género: Dra, Thr
Classificacao: M/16
EUA, 2007, Cores, 88 min.
O papel dos media, da política e da educação na América de hoje em análise num filme cujos protagonistas estão envolvidos de alguma forma no combate contra o terrorismo.
Um senador (Tom Cruise) está prestes a dar a uma jornalista (Meryl Streep) uma notícia explosiva sobre estratégias de guerra. Porém, ela terá de decidir se segue a história ou se cede a tornar-se num instrumento de propaganda política. Numa universidade, um professor de Ciência Política, Stephen Malley (Robert Redford), confronta um estudante, que dado o seu desinteresse pode nunca atingir o seu potencial.
Do outro lado do planeta, nas montanhas do Afeganistão, dois antigos alunos do professor Malley, longe dos debates políticos e dos discursos dos seus mentores, lutam pela sobrevivência. in Público
Crítica:
Há cerca de um ano, quando foi anunciado o relançamento da United Artists, algum jornalismo mais superficial achou por bem insinuar que o envolvimento de Tom Cruise como coordenador-geral da produção do estúdio seria uma boa anedota.
Surge, agora, Peões em Jogo, primeiro título da nova gestão (partilhada com Paula Wagner, há muitos anos associada a Cruise) e o mínimo que se pode dizer é que estamos perante um dos maiores acontecimentos cinematográficos de 2007 e também um dos mais fascinantes filmes políticos americanos desde JFK (1991), de Oliver Stone.
Dirigido e protagonizado por Robert Redford, Peões em Jogo é um tour de force organizado a partir de três cenários paralelos. Em Washington, um senador (Cruise) dá conta a uma jornalista (Meryl Streep) de uma nova estratégia militar no Afeganistão; numa universidade da Califórnia, um professor (Redford) tenta aconselhar um aluno (Andrew Garfield) a não desistir dos seus ideais políticos; enfim, no Afeganistão, estão envolvidos dois soldados (Michael Peña e Larry Bates) que foram alunos do mesmo professor.
Do cruzamento destas histórias nasce uma visão crítica da América contemporânea que, de forma fria e descarnada, lida com três temas fundamentais: a credibilidade do poder político, as ligações desse poder com os profissionais dos media e a desmobilização dos jovens em relação aos problemas do seu próprio país.
Contornando todos os maniqueísmos (nomeadamente "pró" ou "contra" a administração Bush), Peões em Jogo reaviva a mais nobre tradição liberal do cinema clássico americano. Trata-se de combater as aparências das coisas para discutir a relação de cada um com a verdade dos factos, ou melhor, o esforço de cada um para alcançar (ou bloquear) algum grau de verdade e transparência. É isso que o transforma num grande filme político. Ou seja: num exercício artístico e moral sobre as relações entre o indivíduo e os valores colectivos. É bom encontrar um filme assim, sem efeitos especiais para disfarçar o vazio das ideias. Aqui, como sempre, o melhor efeito especial é o próprio ser humano.
João Lopes
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