Título original: Doubt
De: John Patrick Shanley
Com: Meryl Streep, Philip Seymour Hoffman, Amy Adams
Género: Drama
Classificação: M/12
EUA, 2008, Cores, 104 min. (IMDB)
Bronx, 1964. Numa escola católica, o padre Flynn (Philip Seymour Hoffman) entra em confronto com a irmã Aloysius Beauvier (Meryl Streep), directora da instituição que dirige com mão-de-ferro. Quando a ingénua irmã James conta à irmã Aloysius que o padre Flynn presta demasiada atenção a um dos rapazes, a directora acredita ter encontrado o que precisava para desmascarar e afastar o sacerdote. A irmã Aloysius não tem nenhuma prova, mas a dúvida instala-se e vai dividir irremediavelmente a comunidade.in Publico
Crítica:
"Dúvida" não quer, nunca, ser mais do que o registo do trabalho de actor
Não se espere de "Dúvida" mais do que aquilo que é: a adaptação (eficiente mais do que inspirada), pelo próprio dramaturgo, da peça teatral que Diogo Infante encenou entre nós em 2007, com um elenco de luxo a brilhar muito alto nesta história sobre a fé e a dúvida, a bondade e a desconfiança, a intolerância e a abertura de espírito.
Num colégio católico do Bronx em 1964, a freira rígida que o rege com mão de ferro sente-se ameaçada pela lufada de ar fresco que o novo padre, progressista, traz, e uma jovem freira idealista que nota como o padre parece prestar especial atenção ao único aluno negro do colégio fornece-lhe a arma perfeita para ir atrás dele, levantando a dúvida sobre a idoneidade das suas intenções. John Patrick Shanley está objectivamente a "brincar com o fogo" na sua peça, ao introduzir questões de fé e de raça numa história inevitavelmente marcada pelos escândalos levantados pelo abuso sistemático de crianças por parte do clero americano, mas refreia inteligentemente quaisquer extrapolações abusivas ao concentrar a sua narrativa na batalha de certezas e dúvidas entre as três personagens principais, ao mesmo tempo que se retrai de inventar o que quer que seja visualmente para se limitar a registar as interpretações dos seus actores.
Claro que, com estes actores a carburar a cem a hora, dificilmente alguém ficaria mal visto - e se não há surpresa nenhuma em Meryl Streep e Philip Seymour Hoffman serem sobreexcelentes, como é seu hábito, é inevitável deixarmo-nos surpreender por Amy Adams e Viola Davis, porque não as conhecemos tão bem e a sua entrega em nada fica atrás da das "vedetas". "Dúvida" não quer, nunca, ser mais do que esse registo do trabalho de actor, e ganha-se nessa modéstia, mas faltalhe o rasgo que lhe permitiria dar o salto para um grande filme. Assim como assim, já não ficamos mal servidos.
Jorge Mourinha
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