Gradiva 2006
Já com o Codex 632 fiquei com a mesma ideia. Gosto dos temas, gosto das hipóteses das conclusões, enfim gosto do exercício hipotético apresentado. Abomino a palha usada para encher. O enredo é um pouco patético.
Tomás Noronha tem uma vida pacata, mas no momento em que é abordado, aparentemente por acaso, por uma iraniana à porta de um museu no Cairo, o seu quotidiano muda por completo. Professor universitário de profissão e criptanalista conceituado, Tomás Noronha passa a ter de enfrentar várias situações em simultâneo: o surgimento da paixão pela iraniana que o aborda (Ariana Pakravan), a notícia de que o pai está às portas da morte com um grave cancro nos pulmões (e acaba por morrer), a pressão de entidades internacionais com interesses opostos (a CIA e o Governo do Irão) e a descodificação de mensagens deixadas por Albert Einstein num importante manuscrito designado por Die Gottesformel. Todas estas frentes, que têm Tomás de Noronha como personagem principal e a prova científica da existência de Deus como fio condutor, são apresentadas com mestria no livro “A Fórmula de Deus”, de José Rodrigues dos Santos. O manuscrito, na posse do Irão, é enigmático o suficiente para suscitar o interesse deste país, que pensa residir aí o segredo da construção da bomba atómica, e o temor dos americanos, pela mesma razão. Na realidade, é o pretexto do autor para guiar os leitores num apetecível exercício de ficção, assente em informação científica verdadeira. “A Fórmula de Deus” é o quarto e mais recente romance de José Rodrigues dos Santos. Foca o Ómega e o Alfa na perspectiva do Universo e prende o leitor de igual maneira. Do princípio ao fim.
Uma história de amor, uma intriga de traição, uma perseguição implacável, uma busca espiritual que nos leva à mais espantosa revelação mística de todos os tempos.
Baseada nas últimas e mais avançadas descobertas científicas nos campos da física, da cosmologia e da matemática, A Fórmula de Deus transporta-nos numa surpreendente viagem até às origens do tempo, à essência do universo e o sentido da vida.
Crítica:
O autor que não joga aos dados
É o autor da moda em Portugal, prolífico e de fôlego. Quase que se poderia dizer que escreve à mesma velocidade com que os leitores devoram as suas obras. A ideia para este livro nasceu em Janeiro e entregou o manuscrito em Junho. Durante seis meses escreveu entre as 08.00 e o almoço: "Houve um dia de folga em que redigi 22 páginas. Não conseguia parar, tão embrenhado estava na história."
Este livro é nitidamente escrito para o mercado internacional... Portugal já não lhe chega?
Este é um livro sobre uma questão fundamental da condição humana: a existência de Deus e o papel da humanidade no universo. Como é evidente, é uma questão universal, que ultrapassa a vida portuguesa. Não é um livro escrito propositadamente para o mercado internacional, mas, pela temática, é susceptível de interessar qualquer pessoa, independentemente da nacionalidade, cultura, raça ou religião.
O que levou mais de cem mil portugueses a ter lido O Codex 632?
Não creio que possa ser imparcial na resposta, mas a minha convicção é que a adesão ao Codex assenta em vários factores, o maior dos quais poderá ser o facto de se tratar de um mistério verdadeiro. Por outro lado, procurei escrever de um modo atraente, sem espalhar palavras e estruturas complexas que apenas dificultam a compreensão da narrativa. A boa escrita é aquela em que a palavra flui ao serviço da história.
Apesar de Portugal ter uma presença marcante no cenário do livro, a acção decorre também em locais que estão nos noticiários, tal como o Egipto, o Irão e o Tibete. Porquê?
Talvez porque goste de viajar e queira levar os leitores comigo. As viagens são uma constante dos meus romances, A Ilha das Trevas decorre em Timor-Leste, Indonésia, Portugal, Noruega, Tailândia, Filipinas e Bélgica; A Filha do Capitão, em Portugal, França e Alemanha. Quero levar o leitor à descoberta.
Sente-se influenciado por temas que ganharam relevância com o 11 de Setembro e o ressurgimento do terrorismo?
Não muito. Mas pode acontecer que as vicissitudes do mundo actual interfiram na narrativa. Isso acontece em A Fórmula de Deus com a crise nuclear com o Irão.
Acredita no cenário de crise nuclear que sustenta este livro?
É um cenário possível. A Coreia do Norte andou anos a dizer que apenas queria a energia nuclear para fins pacíficos e agora é o que se vê.
Em A Fórmula de Deus, recupera Lisboa como plataforma internacional para agentes secretos, como aconteceu em livros e filmes após o fim da II Guerra Mundial. É só ficção?
É ficção, mas o Greg Sullivan do romance é inspirado numa figura real, um americano que conheci na Embaixada dos EUA em Lisboa. Tinha um ar muito pacífico e, na volta, suspeito que era um homem da CIA.
Porque deixou o passado de ser a chave do argumento da sua ficção para se situar na actualidade?
A Ilha das Trevas situava-se na actualidade. Eu não sou um romancista histórico, sou um contador de histórias. Procuro ser um ficcionista que ensaia várias técnicas narrativas, utilizando a história, a ciência, a arte, a política e tudo o que faça parte da experiência humana como matéria-prima. O que é importante para mim é que o romance seja interessante e legível. Pode ser uma história da História, um thriller de espionagem ou história de amor. Tem é de ser bem contada.
Como se sente na pele do escritor português mais prolífero?
Não exageremos. Só escrevi quatro romances... Mas é verdade que tenho mais uns cinco ou seis na cabeça.
Que tempo leva a investigar e a escrever?
Investigo e escrevo rápido, fruto da minha experiência académica e jornalística. Digamos que, se quisesse e não fosse tão preguiçoso, era perfeitamente capaz de publicar dois romances por ano.
Precisa de acreditar no que escreve ou é só vontade de contar uma história?
Preciso de acreditar em tudo o que faço. É por isso que não consigo ser trapaceiro. Se souber que há batota em alguma coisa, não consigo levá-la até ao fim, mesmo que saia altamente lesado da opção. É da minha natureza.
O jornalista e o escritor têm a mesma opinião sobre A Fórmula de Deus?
Claro que sim, porque não é o olhar do romancista ou do jornalista que existe aqui, é o do ser humano. Este livro foi à procura da resposta a uma pergunta fundamental: será possível provar cientificamente a existência de Deus? No fundo, o que eu fiz foi conhecer a resposta da ciência a essa pergunta. E é uma resposta surpreendente. Descobri que a ciência está muito mais avançada nesta questão do que se pensa. Há respostas concretas e elas estão expostas no romance.
O jornalista não entra em conflito com tanto texto que o escritor redige?
Pelo contrário. Há muito de jornalista na minha escrita. Tal como a generalidade dos jornalistas, escrevo para ser entendido e esse é um traço dominante dos romances. Nenhum leitor se pode queixar de que escrevo difícil ou de que não respeito a gramática da língua. A quantidade de texto que redijo é a suficiente e necessária para que a história funcione como um todo.
Não é hábito o leitor português "digerir" sucessivamente volumes de 500 páginas escritos pelo mesmo autor. O que o faz contrariar esta maldição?
Eu acho que a resposta só pode ser dada por cada uma das pessoas que lê os meus livros. O que faz com que 120 mil portugueses tenham lido as 500 páginas de O Codex 632 e 70 mil portugueses tenham lido as 600 de A Filha do Capitão? A resposta é simples: nenhum dos dois, ao ser lido, pareceu grande. Um livro de cinquenta páginas pode ser enorme se for chato e um livro de mil páginas pode ser pequeno se for interessante. O que torna interessante ou chato não é o número de páginas, é a forma como está escrito.
in DN
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