Título original: In the Valley of Elah
De: Paul Haggis
Com: Tommy Lee Jones, Charlize Theron, Susan Sarandon, Jonathan Tucker
Género: Dra, Thr
Classificação: M/16
EUA, 2007, Cores, 121 min. (IMDB)
Depois de regressar do Iraque, Mike Deerfield (Jonathan Tucker) desaparece e é considerado desertor. Quando Hank (Tommy Lee Jones, num surpreendente desempenho), um veterano, e a sua mulher Joan (Susan Sarandon) recebem o telefonema com a trágica notícia do desaparecimento do filho, o pai resolve procurá-lo. A detective Emily Sanders (Charlize Theron) ajuda-o na investigação, mas à medida que o mistério se revela e Hank descobre pormenores sobre a missão do filho no Iraque, tudo aquilo em que acreditava é posto em causa.
"No Vale de Elah" é realizado por Paul Haggis, o realizador do premiado "Crash" e argumentista de "Million Dollar Baby", "As Bandeiras dos Nossos Pais" e "Cartas de Iwo Jima", de Clint Eastwood.in Público
Crítica:
Por mais estranho que possa parecer, o novo filme de Paul Haggis, «No Vale de Elah», foi objecto de alguma marginalização comercial nos EUA. Não se trata de um processo de censura, mas de um discreto apagamento: apesar de contar com estrelas como Tommy Lee Jones, Susan Sarandon e Charlize Theron, o filme estreou em 762 salas, o que corresponde a menos de um terço dos mais importantes lançamentos nacionais. Nem mesmo a nomeação de Tommy Lee Jones para o Óscar de melhor actor alterou a situação.
Estamos a falar, convém sublinhá-lo, do trabalho de um autor consagrado pela Academia de Hollywood. Haggis é o argumentista/realizador de «Colisão», consagrado nos Óscares como melhor filme de 2005 (batendo, entre outros, «O Segredo de Brokeback Mountain»), tendo ainda o seu nome ligado aos argumentos de três títulos de Clint Eastwood: «Million Dollar Baby», «As Bandeiras dos Nossos Pais» e «Cartas de Iwo Jima». A confiança que a grande indústria nele deposita está bem expressa no facto de surgir envolvido na escrita de «Quantum of Solace», a nova aventura de James Bond com estreia prevista para o final do ano.
Que se passa, então, com «No Vale de Elah»? Acontece que nele está em jogo a presença militar americana no Iraque. E não tanto como memória dos próprios combates. De novo com um argumento de sua autoria (a partir de uma história co-escrita com Mark Boal), Haggis propõe um desvio que tem tanto de dramaticamente subtil como de simbolicamente perturbante. Esta é uma história da retaguarda, já que tudo começa com o desaparecimento de um soldado (Jonathan Tucker) nos EUA: regressado de uma missão no Iraque, não visita os pais (Jones/Sarandon), desencadeando uma procura angustiada, até porque o pai tem acesso a imagens do Iraque que o filho registou no seu telemóvel.
«No Vale de Elah» surge com uma visão crítica que é tanto mais forte quanto dispensa qualquer facilidade panfletária. Há, aqui, uma dimensão humanista que transfere a guerra do aparato “espectacular” das televisões para o domínio íntimo e sofrido das pessoas comuns (afinal de contas, na sua mais básica definição dramática, esta é a história de um pai e uma mãe à procura do filho). Nesta perspectiva, podemos dizer que o filme de Paul Haggis recupera toda uma tradição histórica e crítica do cinema americano que possui um capítulo fundamental nas muitas abordagens dos traumas da guerra do Vietname. E não apenas através de títulos míticos como «O Caçador» (1978), de Michael Cimino, e «Apocalypse Now» (1979), de Francis Ford Coppola. É preciso recordar também a herança de alguns “pequenos” filmes independentes como «The Visitors» (1972), de Elia Kazan, ou de outros dramas da retaguarda como o emblemático «O Regresso dos Heróis» (1978), de Hal Ashby.
Será que a nomeação de Tommy Lee Jones (a única que o filme obteve) poderá traduzir-se numa outra visibilidade para o filme? Será difícil, quanto mais não seja porque as nomeações de Daniel Day Lewis («Haverá Sangue»), Johnny Depp («Sweeney Todd») e George Clooney («Michael Clayton») parecem muito mais fortes. Seja como for, podemos apostar que «No Vale de Elah» vai ficar como uma referência clássica dos últimos estertores da época Bush. Esta é a história de uma América que não tem medo de olhar para as suas feridas interiores.
Diário de Notícias
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