Título original: Mamma Mia
De: Phyllida Lloyd
Com: Meryl Streep, Amanda Seyfried, Pierce Brosnan, Colin Firth
Género: Com, Mus
Classificação: M/6
ALE/EUA/GB, 2008, Cor, 108 min. (IMDB)
"Mamma Mia!" foi um dos musicais mais vistos e aplaudidos (por 30 milhões de pessoas em 170 cidades pelo mundo), ao som da música dos Abba. Agora, vai provavelmente tornar-se o grande filme de Verão.
Donna (Meryl Streep) é uma mãe solteira e independente que gere um pequeno e idílico hotel numa ilha grega. A filha Sophie (Amanda Seyfreid) vai casar e para o casamento Donna convida as suas melhores amigas. Mas Sophie, que secretamente sonha encontrar o pai, faz também três convites inesperados. À ilha chegam três homens (Colin Firth, Pierce Brosnan e Stellan Skarsgard) que pertenceram ao passado de Donna, sendo que qualquer um deles pode ser o pai de Sophie. Em 24 horas, Donna desespera e tudo pode acontecer, até porque com um casamento por perto o romance anda no ar.in Publico
Crítica:
Greatest hits com história
Não é a primeira vez que um acervo de canções pré-existentes é retrabalhado para um musical. Um dos clássicos absolutos do cinema americano - "Um Americano em Paris" (1945), de Vincente Minnelli - foi construído à volta de composições pré-existentes de George Gershwin, que morrera em 1937. E o recente "Moulin Rouge!" (2000), de Baz Luhrmann, reunia dezenas de êxitos pop da segunda metade do século XX, de Nat King Cole aos Nirvana.
Mas "Mamma Mia!" é uma "ave rara": transporta os "greatest hits" dos Abba praticamente intactos em termos de sonoridade, à excepção de acertos pontuais para adaptar a canção à personagem ("Does Your Mother Know" e "Lay All Your Love on Me" "mudam de sexo") ou leves actualizações de arranjos sem por isso alterar "o som Abba", nem reescrever o passado.
Faz sentido que assim seja num musical onde as canções são verdadeiramente o que interessa: Benny Andersson e Björn Ulvaeus, as "eminências pardas" do grupo (que, depois da dissolução em 1982, escreveram dois musicais...), já se tinham investido na supervisão da produção de palco, e reuniram para o filme a banda de estúdio presente nos discos originais para garantir a fidelidade à fonte.
Depois, bom, depois põem-se os actores a cantar - afinal, a tradição do musical é que os actores sejam capazes de representar, cantar e dançar, mais complicado hoje em dia que o "star system" dos estúdios se desagregou e em que o teatro musical se tornou num "nicho" estanque. Mas como a ideia de "Mamma Mia!" é a de uma festa-karaoke onde não faz mal que não se cante bem, não é problemático que Colin Firth, Pierce Brosnan ou Stellan Skarsgard não sejam exactamente Pavarottis. Até porque a maior parte das canções são entregues às personagens femininas - correspondendo também aí às gravações originais, cantadas maioritariamente por Agnetha Fältskog e Frida Lyngstad - e Meryl Streep e Amanda Seyfried, que fazem o "grosso da despesa", têm óptimas vozes.
O que acaba por surpreender mais em "Mamma Mia!" é o facto de Catherine Johnson e Judy Craymer terem conseguido encontrar um fio condutor que permite a canções criadas isoladamente fazerem sentido enquanto um todo. Nem todos os clássicos estão representados - as letras de "Fernando" ou "One of Us", por exemplo, não se prestavam à estrutura central da peça/filme, sobre uma jovem noiva que procura descobrir qual dos três namorados que a sua mãe teve 20 anos antes é o seu pai. Mas os que estão (e que vão de "Dancing Queen" a "Super Trouper" passando por "Voulez-Vous" ou "The Winner Takes It All") fazem todo o sentido dentro da história que serve de ligação - e só mesmo os resmungões se vão queixar de faltar esta ou aquela canção.
Jorge Mourinha